Olívia Santana: Precisamos de política transformadora contra o racismo
Na noite desta quarta-feira (4), o Portal PCdoB estreou o Vozes na Cidade, novo programa de entrevistas que vai ao ar ao vivo, nas redes sociais da legenda. O objetivo é debater as cidades em que vivemos e aquelas que queremos construir. Os entrevistados são quadros do PCdoB. A programação via incluir pré-candidatos às prefeituras, bem como gestores e gestoras do partido, com atuação em várias áreas. A primeira edição contou com a participação da pré-candidata do PCdoB à prefeitura de Salvador, deputada estadual Olívia Santana.
Por Lívia Duarte
Nesta entrevista, ela falou do mandato na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), da luta contra o racismo e dos planos de uma Salvador mais democrática, participativa e inclusiva. Tratou também da realidade da cidade, inclusive no plano político, tendo em conta a emergência da covid-19.
Olívia Santana nasceu em Salvador e na mesma cidade se graduou em Pedagogia, na Universidade Federal da Bahia. Trabalhou como professora e desenvolveu uma longa história de luta por uma sociedade mais justa. É filiada ao PCdoB há mais de 30 anos e membro do Comitê Central do partido. Tem atuação especialmente voltada para as lutas das mulheres e dos negros e negras. Foi vereadora por dez anos e ocupou cargos da gestão municipal e estadual. Em 2018, foi a primeira mulher negra eleita deputada estadual na Bahia, estado mais negro do Brasil. Hoje, é presidenta da comissão dos Direitos da Mulher na assembleia legislativa (Alba).
Articulação contra o coronavírus
Em tempos de pandemia do novo coronavírus, Olívia Santana explicou, sorrindo, que a rotina de trabalho tem sido bastante pesada: soma tarefas domésticas, atuação parlamentar e atividades da pré-campanha.
Segundo ela, na contramão do que faz o governo Bolsonaro, as forças políticas da Bahia entenderam a importância de atuar conjuntamente para salvaguardar a vida da população.
“Somos oposição ao governo do prefeito ACM Neto, mas entendemos que no que diz respeito à pandemia temos que atuar com colaboração realmente, concentrando esforços, porque o que está em jogo é a vida do povo”, ressaltou, elogiando a postura do governador Rui Costa (PT) e da articulação do Consórcio do Nordeste. O PCdoB faz parte da base do governo estadual.
Defesa das mulheres
Na Assembleia Legislativa, Olívia destacou que uma de suas pautas principais do momento é a implantação da delegacia eletrônica, para facilitar a denúncia de crimes cometidos contra mulheres. A exemplo do que vem sendo denunciado Brasil a fora, muitas vezes as mulheres de Salvador estão tendo de cumprir quarentena acompanhadas de homens violentos, reforçando a urgência do mecanismo. O trabalho sobre este tema é exemplar da colaboração entre Legislativo e Executivo estadual: Olívia, que já foi secretária de Mulheres da Bahia, lembrou que a secretária atual, Julieta Palmeiras, é também do PCdoB e colabora na iniciativa.
No que diz respeito à pré-campanha, têm sido realizadas conversas com lideranças políticas e sociais por meio da internet e, segundo ela, na próxima semana, será lançado um grande ciclo de debates para a construção de um programa de políticas públicas para Salvador.
“Depois vamos lançar uma plataforma pública, virtual, para garantir ampla participação do povo. Nossa campanha é um movimento de construção de uma cidade justa e democrática. queremos Salvador para todos e para todas”, garantiu.
Em outra frente, a deputada estadual disse que tem buscado trabalhar para “ativar a solidariedade”, compondo o Comitê Popular Solidário da Bahia e ajudando no socorro imediato a quem mais precisa diante da emergência sanitária e econômica.
Racismo X Inclusão social
Olívia Santana é liderança também no movimento negro e insiste que uma cidade mais democrática leva em conta as necessidades desta população, que no caso de Salvador, é a maioria – 82% se declaram negros e pardos, ou seja, não são brancos.
“Salvador é a cidade mais negra do Brasil. E agora estamos vendo a repercussão do assassinato de George Floyd, nos EUA. Esse não é um problema deles, diz respeito ao racismo estrutural, e repercutiu no mundo inteiro porque no mundo inteiro temos injustiças. Um capitalismo estruturado numa base racista, de seletividade de pessoas, de estabelecimento de um campo de pessoas que são consideradas descartáveis, com precarização dos direitos trabalhistas e da vida nas cidades. Então tudo isso explodiu”, explicou a pré-candidata a prefeita.
“Em nossa sociedade a desigualdade de classes está estruturada numa visão racializada da distribuição da riqueza, do resultado do trabalho”, sintetizou, ao expor a concentração de riqueza na cidade, com evidente desvantagem para os negros.
O enfrentamento ao racismo por meio de políticas públicas de âmbito municipal, enfatizou Olívia Santana, passa pelas mais diversas áreas, como a educação e a saúde.
“A educação municipal deve ensinar que crianças negras e brancas são iguais, com referencial positivo para as negras, para que tenham sua autoestima elevada, e para que as brancas possam conviver com as negras sem se sentirem superiores por ter pele clara e cabelo liso. Temos que ser bem didáticos nessa questão”, exemplificou, lembrando que a construção de creches não apenas atende às famílias trabalhadoras que precisam ter com quem deixar os filhos, mas acaba com uma “educação de dois andares”, na qual os filhos famílias mais ricas, no Brasil, em geral, brancas, começam a estudar antes.
Ela também lembrou que há questões de raça na saúde. Doenças que afetam mais frequentemente a população negra, como diabetes, hipertensão e anemia falciforme, precisam de uma saúde pública básica forte.
“Assim, diagnósticos chegam mais cedo e não vamos ter hospitais entupidos de pessoas com saúde destruída porque não tiveram atenção básica preventiva”, sublinhou.
“Não se resolve questão racial fazendo hashtag ‘estou com você’, ‘sou solidário’ (nas redes sociais). É preciso fazer algo concreto com o que a gente diz. Tem que ter prática política. Tem que ter prática política transformadora”, defendeu.
Participação ampla
Diante do “cobertor curto” que exige escolhas na vida política, Olívia disse que a população deve ser incluída na tomada de decisão, por meio de instrumentos como o Orçamento Participativo. E defendeu que as escolhas devem atender mais a quem precisa mais.
“É fundamental política pública de atenção à saúde, saneamento básico, de enfrentamento à favelização da cidade. Precisamos de um projeto de urbanização das favelas: essa é uma questão pra gente fundamental”, afirmou, lembrando que os desabamentos frequentes quando chove muito em Salvador são também reveladores de desigualdade social e racial – os barracos desabam, os edifícios da orla, não.
“Quando o sol chega, a prefeitura tem que investir em infraestrutura. Na contenção de encostas, mas não só. É preciso política habitacional decente”, reforçou.
“A gestão pública, para nós, tem que ativar não uma visão paternalista, mas uma visão de construção coletiva. Essa é a verdadeira cidadania. Temos que aproximar a política da vida das pessoas”, disse.
Movimento 65
Olívia Santana elogiou o Movimento 65 como “uma das melhores iniciativas do PCdoB nos últimos tempos”. Segundo ela, em Salvador, a iniciativa cívico-eleitoral ajudou a reunir a chapa de vereadores plural que o partido vai apresentar à população.
“Doze ou 13 pré-candidatos chegaram pelo Movimento 65, pessoas que queriam se candidatar e não sabiam como. Então compusemos uma chapa bacana para a cidade de Salvador, diversa, que atende 30% de candidaturas femininas sem artificialização. São pessoas que chegaram pra valer, sindicalistas, professoras, pessoas de movimentos sociais, movimento negro, muitas participações”, definiu.
A pré-candidata a prefeita lembrou que o PCdoB já tem dois vereadores na cidade, Aladilce Souza, enfermeira, e Hélio Ferreira, sindicalista, que pretendem se reeleger e informou que a expectativa é fazer uma bancada de ao menos quatro nomes para a Câmara Municipal.
“Estamos animados para eleger a prefeita de Salvador e uma bancada que possa fazer a diferença na Câmara Municipal”, afiançou.
Assista a íntegra a seguir:
Vozes da Cidade
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Nas próximas semanas já temos compromissos marcados nas quartas e quintas-feiras, sempre às 18 horas.
10/06, quarta-feira: Wadson Ribeiro, presidente do PCdoB-MG e pré-candidado a prefeito de Belo Horizonte
11/06, quinta-feira: Janaína Deitos, pré-candidata do PCdoB a prefeita de Florianópolis (SC)
18/06, quinta-feira: Orlando Silva, deputado federal (SP) e pré-candidato a prefeito de São Paulo
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