Papa está decidido a visitar Moscou e Kiev | Foto: AFP

A pressão do presidente ucraniano Vladimir Zelensky sobre o Papa Francisco quanto ao apoio a Kiev está provocando o descontentamento do pontífice, afirmou o especialista em Vaticano e jornalista de Il Fatto Quotidiano, Marco Politi, como salientado pela Sputnik News.

De acordo com o colunista, após a última conversa telefônica entre Zelensky e o papa Francisco, Zelensky postou na sua conta no Twitter que a ajuda necessitada por Kiev da parte dos líderes religiosos é para divulgar informação negativa sobre a Rússia.

“Esse tuíte demonstra bem que o papa Francisco e as políticas de Kiev estão em lados opostos. O Vaticano não gosta quando alguém diz ao pontífice o que fazer, bem como o fato de as autoridades ucranianas terem submetido à censura a transmissão televisiva da procissão solene do papa, visto que nela se expressava a ideia de paz entre os ucranianos e os russos”, explicou Politi.

O jornalista sublinhou que Zelensky continua exercendo pressão sobre o papa Francisco, tentando conseguir que ele visite Kiev, enquanto o papa não quer visitar a capital ucraniana sem ter ido a Moscou. De acordo com Politi, tal luta de bastidores já transcorre há vários meses.

O pontífice também não partilha do rumo político de Zelensky e não quer ser um “criado do Ocidente”, apoiando por completo a posição euroatlântica sobre a situação na Ucrânia, acrescentou o especialista.

Para Politi, o Vaticano considera que “Zelensky quer arrastar o papa para a narrativa” de acordo com a qual Kiev se posiciona como uma vítima inocente, enquanto a imagem da Rússia é demonizada.

O periodista explicou que o papa Francisco não partilha tal posição, já que esta não toma em conta os acontecimentos que levaram à situação atual no território da república ex-soviética.

Em entrevista em maio, o papa chegou a dizer que “os latidos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na porta da Rússia” poderiam ter levado à campanha militar contra o governo ucraniano a partir de 24 de fevereiro.

Assim – observa o analista -, a OTAN e a União Europeia não querem analisar as consequências da expansão da OTAN para o leste nem avaliar de forma lúcida os riscos de uma possível guerra nuclear, observa o analista.

Além disso, há a própria experiência pessoal do Papa Francisco, que viveu os anos de chumbo da ditadura argentina e conhece bem de perto até onde os fascistas podem ir, em seu empenho pelo mal.

Sermão do Papa

Esse empenho em manipular os outros para que emprestem sua credibilidade ao regime fascista de Kiev se repetiu, esta semana, com a reprimenda, expressada sem a menor cerimônia pelo enviado da Ucrânia ao Vaticano, Andrey Yurash, quanto à declaração do Papa Francisco sobre a morte de Dugina.

O ‘diplomata’ verberou que o papa estaria “errado” ao expressar pesar pela morte da jovem russa. Como se isso não fosse suficiente, disse que o alvo do atentado a bomba “não era uma vítima inocente” e de forma alucinada asseverou que o assassinato foi orquestrado por “russos”, apesar dele próprio – como embaixador ucraniano – se identificar com a morte da jovem.

Conforme Yurash, que representa um país cujos patronos nacionais de acordo com o regime vigente são colaboracionistas de Hitler e pogromistas de poloneses, judeus e soviéticos, esses comentários do papa seriam “decepcionantes”, acrescentando que “agressor” e “vítima” não podem ser falados “nas mesmas categorias”.

Ainda segundo Yurash, foi morta por “russos”, supostamente para reunir “apoio doméstico” para a operação militar contra a Ucrânia.

O fato de Dugina apoiar a operação militar especial – como milhões de russos – para “desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia”, suprimir a opressão de falantes de russo em terras russas centenárias e arrancar o respeito à condição de neutralidade já assumido há 30 anos, sem OTAN e sem armas pesadas da OTAN às portas da Rússia, não é razão para ninguém merecer um atentado à bomba. E nem por ser filha do pensador Alexander Dugin, cujas ideias têm certa repercussão na Rússia mas nem de perto o que lhe é atribuído pela mídia alistada pelo Pentágono e Wall Street.

O serviço de segurança federal da Rússia já identificou como executora do atentado uma mulher ucraniana, que alugou um apartamento no prédio em que Dugina morava e, para despistar, levou a filha adolescente de 12 anos. Logo após o atentado, ela fugiu da Rússia para a Estônia, usando uma chapa fria. A Rússia responsabilizou os serviços secretos ucranianos pelo planejamento e execução do crime, sendo que as redes sociais descobriram que a foragida serviu no Batalhão Azov.

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