As passeatas ocorridas em apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro no último dia 7 de setembro foram relativamente cheias em São Paulo e em Brasília, fruto do vultuoso aporte de recursos financeiros dispensados à mobilização de manifestantes nesses dois lugares. Nem mesmo o genocídio de quase 600 mil vidas vitimadas pela Covid-19, fruto do despreparo e pouco caso desse governo, fez com que uma parcela da sociedade deixasse de ir às ruas.

Por Wadson Ribeiro*

Contudo, as manifestações antidemocráticas ficaram aquém dos números anunciados por seus organizadores e pelo próprio presidente. Se o dia 7 de setembro foi um termômetro para Bolsonaro medir sua popularidade nas ruas pode-se dizer que ele saiu mais fraco e o impeachment fortalecido.

Ao discursar em Brasília e depois em São Paulo durante as manifestações do dia 7 de setembro, Bolsonaro atacou o Supremo Tribunal Federal e, de forma especial, o ministro Alexandre de Moraes. Voltou a questionar as urnas eletrônicas e exigiu a voto impresso, matéria que já foi derrotada pela Câmara dos Deputados. Em ambos os pronunciamentos, dizia falar em nome do povo brasileiro, enquanto na verdade, falou para uma minoria radical e com valores de extrema direita que hoje representam seus seguidores. Da posse até os dias atuais, Bolsonaro não acumulou capital político, ao contrário, perdeu apoios importantes e se sustenta em uma base política fluida no Congresso Nacional, além de setores de direita radicalizados na sociedade. Sua principal arma continua sendo a comunicação direta com seus seguidores, amparada em uma máquina que opera de forma ilegal e a peso de ouro nas mídias sociais.

Os factoides produzidos por Bolsonaro tentam esconder um governo incompetente e que tem causado inúmeros prejuízos ao povo. Como se não bastasse a capacidade do governo federal em ter transformado uma crise sanitária em uma catástrofe humanitária, como assistimos na pandemia, o Brasil amarga uma profunda crise econômica e social. Estima-se que mais de 100 milhões de brasileiros estejam vivendo em condições de completa insegurança alimentar destes, 18 milhões em situação de fome. Muitas famílias não conseguem comprar o gás de cozinha e voltaram a utilizar a lenha. O preço dos alimentos, dos combustíveis, da energia elétrica e do custo de vida em geral, empurrados pelo aumento da infração, está nas alturas e a população está deixando de consumir. Para completar esse quadro, a falta de um projeto soberano e desenvolvido de país, aniquila a indústria nacional e empurra para o desemprego quase 15% dos trabalhadores brasileiros.

A questão mais importante que se impõe no momento, e as passeatas e o tom adotado por Bolsonaro corroboram com isso, é derrotar esse governo. Essa missão não pode ser apenas da oposição a Bolsonaro, senão da união de amplos setores nacionais que têm responsabilidade com a defesa das instituições democráticas, com o pleno Estado Democrático de Direito e com a Constituição Federal. Nesse momento, o debate sobre 2022 não pode afastar aqueles que precisam estar unidos. A prioridade é unir a maioria da população que em todas as pesquisas demonstraram não concordar com esse governo e querem seu fim. As passeatas do último dia 7 de setembro deixaram Bolsonaro mais enfraquecido, pioraram suas relações com os partidos de centro e o Congresso Nacional e praticamente implodiram seu convívio com o STF, além de terem demonstrado que ele não tem o apoio popular que imaginava.

Os crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro ao longo de seu governo, ganharam vida e fortaleceram o impeachment com as últimas manifestações antidemocráticas. É o momento de construirmos uma ampla unidade pelo fim desse governo e em defesa da democracia. Unir os verdadeiros patriotas em defesa da Constituição e contra o golpe.

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*Presidente do PCdoB -MG, foi presidente da UNE, da UJS, deputado federal e secretário de Estado de Minas Gerais.

(Artigo publicado originalmente no portal Hoje em Dia)

 

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