O spyware israelense espionou ao menos 180 jornalistas em 10 países, além de 600 políticos, 85 ativistas de direitos humanos e 65 líderes empresariais. O malware Pegasus é produzido na cidade israelense de Herzlia e foi disseminado em países dominados por governos autoritários e notórios perseguidores de opositores e jornalistas investigativos, a exemplo da Arábia Saudita, Hungria, Bahrein e Emirados Árabes.

A denúncia surgiu após um amplo trabalho de investigação jornalística realizado por 80 jornalistas indicados por 17 veículos de comunicação incluindo o francês Le Monde, o britânico Guardian e o norte-americano Washington Post, que analisaram dados colhidos em 50 mil números de telefones que seriam alvos de interesse de clientes da NSO. A pesquisa inicial foi conduzida pela organização Forbidden Stories e Anistia Internacional.

Esse spyware está capacitado a não apenas obter os dados dos telefones hackeados, como de usar o microfone do celular, assim como sua câmera para espionar seus portadores.

Após a denúncia, o Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) com sede em inglês lançou uma nota de protesto afirmando que este informe mostra como governos e companhias devem agir para parar com o abuso desse spyware que está evidentemente sendo usado para minar liberdades civis”, declarou Robert Mahoney vice-diretor executivo do CPJ.

O CPJ conclamou governos em todo o mundo a uma ação imediata para deter o abuso de uma tecnologia que está sendo usada para espionar a imprensa. Também se dirigiu a parlamentares para que se engajem no combate ao abuso do spyware contra a imprensa.

“Ninguém deveria ter o poder irrefreado de espionar a imprensa, ainda menos governos conhecidos por fazerem dos jornalistas seu alvo mediante abuso físico ou retaliações”, acrescentou Mahoney.

Mentira

A empresa israelense NSO reagiu mentindo, disse que as informações do consórcio de imprensa que a investigou seriam “falsas” e que o seu produto só seria utilizado para o “combate ao terrorismo e ao crime organizado”.

As informações contradizem a resposta da empresa de Israel.

O presidente da França, Emmanuel Macron, e 14 dos ministros do seu governo tiveram seus celulares hackeados por este malware.

A cientista turca, Hatice Cengiz, noiva do colunista do Washington Post, Jamal Kashogi, que teve morte hedionda após suplício e teve seu corpo esquartejado após entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul, estaria entre as pessoas hackeadas, assim como seu filho, Salah Kashogi que acabou preferindo dizer que “perdoava” os assassinos de seu pai.

Entre as entidades que alertaram para o abuso da empresa israelense, duas associações alemãs de jornalistas, assim como a chanceler Angela Merkel.

Enquanto que Merkel afirmou que a exportação do malware Pegasus deve ter “fortes restrições e não pode chegar a governos onde não haja supervisão jurídica garantida sobre seu uso”, as entidades alemãs de jornalistas exigem do governo alemão que busque informações claras para saber se o spyware foi utilizado contra jornalistas do país.

Para o presidente da Federação Alemã de Jornalistas, Frank Ueberall, as denúncias contra o Pegasus configuram um “escândalo sem precedentes”.

Monique Hofmann, presidente da União Alemã de Jornalistas denunciou que o Pegasus é “usado por governos autoritários que violam direitos humanos e silenciam vozes críticas e de oposição” e, portanto, não deveria ser exportado.

“Ultraje”

O ativista israelense pelos direitos humanos, Eitay Mack, publicou artigo no jornal Haaretz sob o título “Vergonha de Israel: NSO e Pegasus são um perigo para a democracia no mundo”.

Mack acrescenta que “o spyware Pegasus da NSO, uma arma cibernética que permite a Estados que aterrorizarem a sociedade civil, ultrajou o mundo. Em Israel o que há é cumplicidade ou completa indiferença”.

“Talvez não haveria nunca qualquer razão para esperar outra coisa de um Estado que se define como democrático mas, há 50 anos, tem mantido milhões de palestinos reféns de seus caprichos”, acrescenta Mack.