Sob diversos aspectos, a manifestação golpista promovida por Jair Bolsonaro em Copacabana, no Rio de Janeiro, frustrou os apoiadores do ex-presidente. Na comparação com o ato anterior, realizado em fevereiro, na Avenida Paulista, em São Paulo, a mobilização neste domingo (21) foi inferior em termos de público, representatividade política e repercussão.

De acordo com o grupo de pesquisa Monitor do Debate Político, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, 32,7 mil pessoas foram ouvir Bolsonaro no Rio. O público corresponde a apenas 18% dos 185 mil que o bolsonarismo reuniu São Paulo.

Sem saber o que falar, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, atribuiu o esvaziamento ao horário. “Uma praia dessa é difícil fazer encontro às 10 horas da manhã. Talvez tivesse sido melhor fazer à tarde”, disse o dirigente à imprensa. Não colou.

Do ponto de vista político, houve novo revés. Em São Paulo, além do prefeito Ricardo Nunes (MDB), Bolsonaro atraiu três governadores apontados como possíveis presidenciáveis para 2026: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO).

Desta vez, o palanque no Rio se restringiu a dois governadores de menor expressão Cláudio Castro (RJ) e Jorge Mello (SC), que são, ambos, do PL. Nenhum deles discursou.

As ausências têm ao menos duas motivações mais evidentes. Primeiro, os governadores bolsonaristas não querem se indispor com o Judiciário, ainda mais no curso das tratativas com o STF (Supremo Tribunal Federal) sobre renegociações das dívidas com a União. Ninguém na grande política realmente acredita se tratar de um ato “em defesa da liberdade e da democracia”.

A segunda razão é eleitoral. Bolsonaro tem exortado cada vez mais suas bases a já se dedicarem à disputa às prefeituras e às câmaras municipais. Passada a enxurrada de fake news sobre as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral, o ex-presidente deu a senha para mudarem o foco. “Vamos considerar 2022 coisa passada”, discursou, “Não estou duvidando das eleições. Página virada”.

Ao mesmo tempo, a diretiva é fortalecer o PL em geral e os candidatos mais fiéis ao bolsonarismo em particular, num cenário em que Bolsonaro possa estar preso. O ex-presidente citou “pessoas que vão continuar essa política de fazer um Brasil grande”. E agregou: “Se algo ruim acontecer comigo, não desanimem”.

No noticiário e nas redes, porém, o ato em Copacabana também “flopou”. Um dos riscos assumidos pelo bolsonarismo foi de associar o suposto “calvário” do ex-presidente à polêmica entre Elon Musk, dono da rede X (ex-Twitter), e o STF. O subterfúgio atenuou o viés golpista da manifestação, mas reduziu igualmente o alcance da mensagem.

Agora, o bolsonarismo quer consolidar esse caráter mais eleitoral dos atos públicos com o ex-presidente. A nova estratégia, já avalizada por Bolsonaro, é fazer eventos mais regionais, que promovam pré-candidaturas da extrema-direita. Joinville (SC), na região Sul, deve ser a próxima parada, provavelmente antes de junho. Na sequência, Bolsonaro deve ir a alguma cidade no Nordeste e a Brasília.

É como se o bolsonarismo estivesse trocando as motociatas por comícios. Será um pretexto para a promoção de nomes bolsonaristas que vão disputar as eleições 2024, bem como da defesa da tese de que Bolsonaro é um perseguido político. O próprio ex-presidente, no entanto, deve terceirizar os ataques mais duros – quem cumpriu essa missão nos atos em São Paulo e no Rio foi o pastor Silas Malafaia.

Na visão do bolsonarismo, um bom resultado nas eleições municipais virou prioridade para manter ou eventualmente ampliar o capital político do ex-presidente, de olho em 2026. A meta alardeada pelo PL – de eleger 1.500 prefeitos em outubro – é irrealista, e o ato abaixo das expectativas no Rio levanta o alerta. A extrema-direita não saiu nada satisfeita de Copacabana.