Gerdion Santos do Nascimento, o cacique Aruã Pataxó, concedeu, no início desta semana, uma entrevista ao Portal PCdoB. Recém-eleito membro do Comitê Central no 15º Congresso do PCdoB, realizado em outubro, Aruã é o primeiro indígena a integrar a direção nacional. Segundo o cacique, a participação indígena na política partidária é fundamental e aponta que o PCdoB, ao se apropriar das reivindicações dos povos originários, dá grande contribuição ao protagonismo indígena.

“A minha presença no Comitê Central do PCdoB nos dá condições de participar de uma forma efetiva na construção da política nacional com propostas, ideias, a partir dos parlamentares do PCdoB. Fazer a defesa dos direitos indígenas para executar e consolidar as políticas públicas nas comunidades indígenas e povos originários. E o mais importante será concretizar os próprios indígenas em sua representação elaborando e orientando a política indigenista nacional”, avaliou.

Aruã Pataxó é natural do Prado (BA), tem 47 anos e é pós-graduado em Gestão Pública. Psicoterapeuta e terapeuta holístico, atualmente é presidente da Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo Sul da Bahia (FINPAT). A filiação ao PCdoB da Bahia aconteceu em 2011 e a partir desta data exerceu as funções de presidente do partido em Santa Cruz Cabrália (BA) e dirigente estadual do PCdoB.

A presença de lideranças indígenas no PCdoB baiano e também como candidatos concorrendo às eleições começou em 2013, contou Aruã. Atualmente, o partido conta no estado com seis lideranças indígenas como dirigentes estaduais, membros eleitos na conferência estadual deste ano. “Isso quer dizer que a participação indígena está muito frequente, principalmente nas bases, onde estamos estimulando as nossas comunidades, nossos caciques e lideranças para participar da estrutura partidária”, afirmou.

Segundo Aruã, o PCdoB tem contribuído para que lideranças indígenas fortaleçam projetos político e eleitorais. Ele exerceu de 2013 a 2016, o mandato de vereador por Santa Cruz e nas eleições de 2014 e 2018 foi candidato a deputado estadual com expressiva votação. “Devemos ter confiança em nós mesmos de que nós somos capazes e temos capacidade de governança. O trabalho de mobilização e alianças interna e externa deve ser feito para gente conseguir avançar na política. Ninguém além de nós mesmos vai defender os direitos indígenas em sua plenitude ou pluralidade”, opinou.

Ele alertou para estratégias eleitorais que tem como objetivo dividir os indígenas e usar as comunidades como massa de manobra. “O objetivo é formar um projeto político em torno de um candidato para que as forças de todos os povos e comunidades possam ser suficientes. Além disso, formar alianças com não-indígenas para poder fazer essa representatividade”, defendeu.

Aruã lembrou que a formação continuada, que tem resultado em lideranças indígenas com curso superior e especializações, tem sido aliada dos povos indígenas na busca pelo protagonismo político.

A experiência política das lideranças indígenas do PCdoB baiano e de diversas lideranças no estado chegou até o 15º Congresso do PCdoB na forma do manifesto MANIFESTO PÚBLICO – ÍNDIO NA POLÍTICA – BAHIA, elaborado pelas entidades FINPAT, Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), Movimento Indígena da Bahia (MIBA) e ainda caciques e lideranças indígenas do Estado.

Porta-voz dos indígenas da Bahia no Congresso, Aruã defendeu a criação da secretaria de assuntos indígenas na estrutura orgânica e partidária do PCdoB. De acordo com o cacique, a proposta é que o PCdoB estruture, desde as bases, organismos que deem visibilidade às pautas e lideranças indígenas e promovam a formação e o diálogo com os povos indígenas do Brasil.

“Historicamente o PCdoB tem feito a luta cotidiana em defesa dos povos indígenas”, ressaltou. Ele lembrou da atuação do ex-deputado e membro do Comitê Central, Haroldo Lima, na defesa pioneira dos povos indígenas na Câmara e mencionou ainda que o legado permanece com os parlamentares e lideranças políticas do PCdoB no estado como os deputados federais, Alice Portugal e Daniel Almeida e o presidente do PCdoB-BA, Davidson Magalhães. “Fazem a luta cotidiana em defesa dos direitos dos povos originários”.

Um passo adiante seria a criação de uma estrutura partidária que possibilite que os povos indígenas falem por si”, afirmou o cacique. “Com a nossa cultura, com a nossa tradição, com conhecimento de causa, defendendo as nossas ideias em todos os níveis”, completou.

Por Railídia Carvalho