Manifestação diante da residência oficial do presidente Benítez em Assunção

A bancada do partido Pátria Querida do Paraguai anunciou que apoiará o processo de impeachment contra o presidente, Mario Abdo Benítez, enquanto cresce nas ruas a mobilização popular contra a má gestão durante a pandemia do coronavírus e a política de arrocho a que submete o país.

Em sua conta no Twitter, Pátria Querida registrou que “acompanhará com seu voto o julgamento político contra as autoridades do Poder Executivo”. O partido argumentou que sua decisão se deve ao fato de que “o estado de convulsão social exige que suas autoridades respondam por suas ações”.

Assim, Pátria Querida somou-se ao pedido do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) do Paraguai, que informou o início de um processo de impeachment no Congresso contra o presidente e contra o vice-presidente Hugo Velázquez.

Para que o procedimento avance na Câmara dos Deputados, as bancadas precisam de 53 votos em um total de 80 legisladores.

Até esta segunda-feira, o Partido Liberal Radical Autêntico conseguiu chegar a um consenso de 29 votos, segundo o legislador Édgar Acosta. Com o apoio de Pátria Querida, somariam mais quatro cadeiras, totalizando 33 votos.

A partir daí, devem ser firmados acordos com os demais setores políticos para a obtenção do total de 53 votos necessários para levar adiante o processo acusatório.

Desde a última sexta-feira, os protestos têm se intensificado para exigir a demissão imediata do presidente, pelo caos na saúde e também pelo agravamento da crise econômica, que espalhou o desemprego e a carestia que levou à renúncia do ministro da Saúde, Julio Mazzoleni. Nesse mesmo dia, o presidente Mario Abdo Benítez nomeou Borba Vargas, cirurgião de profissão, ministro interino.

Após o recrudescimento da pressão nas ruas, Benítez também anunciou no sábado, 6 de março, a substituição do ministro da Educação, Eduardo Petta; a Ministra da Mulher, Nilda Romero; e o chefe da Casa Civil da Presidência da República, Juan Ernesto Villamayor.

No entanto, a rejeição da população ao governo continua e a tensão aumentou, após a resposta da polícia para reprimir as manifestações. Na noite de terça-feira (9), milhares de pessoas se reuniram nas proximidades do Congresso para exigir a saída do presidente e de seus principais colaboradores. Desde o início dos protestos, uma morte e pelo menos 20 feridos foram registrados.

O governo Benítez tem sido fortemente criticado pela gestão inadequada para vacinar a população. Até quarta-feira (10), o país recebeu apenas 24 mil doses destinadas a profissionais de saúde. Desse total, 4.000 correspondem ao Sputnik-V e 20.000 à vacina Coronavac, entregues pelo Chile a título de doação.

Mario Abdo Benítez não tem dado declarações sobre as reivindicações dos cidadãos. Enquanto o vice-presidente e os assessores políticos do governo tentam desacreditar a auto-convocatória doa protestos, o presidente fica mudo diante dos pedidos de demissão ou impeachment devido à péssima situação do sistema de saúde na pandemia. A única vez que ele se dirigiu ao público foi por meio de uma mensagem gravada no domingo passado.

O nível de ocupação de leitos nos hospitais do país chega a 99%. Já na capital Assunção é de 100%, explicou a diretora de Terapias do Ministério de Saúde Pública, Letícia Pintos. Ela acrescentou que nas salas comuns chega a 75%. “Essa situação não ocorria nos meses anteriores, onde nas salas comuns a ocupação dos leitos chegava a 55%”.