Caindo nas pesquisas, Trump anuncia como "histórico" acerto Israel/Emirados com palestinos alijados de qualquer entendimento na região e premiando anexação da Jerusalém Árabe por Netanyahu

Os líderes palestinos condenaram com veemência a mais recente manobra eleitoreira de Trump: o acordo de “normalização das relações” entre Israel e os Emirados Árabes Unidos (EAU).

A “declaração conjunta” dos Estados Unidos, Israel e Emirados foi apresentada por Trump, sentando, no dia 14, à mesa do Salão Oval da Casa Branca, sem a presença de representantes nem de Israel nem dos Emirados, com alguns secretários do seu governo, Berkovich, Kushner, Friedman e Mnuchim de pé, aplaudindo o que chamou de “avanço diplomático”.

Os elementos da diminuta monarquia do Golfo, aliada da Arábia Saudita na maior chacina do século 21, contra o Iêmen independente, apresentaram como ganho terem – através do acordo – “detido a anexação” (a manobra eleitoreira anterior de Trump e Netanyahu para ganhar votos de judeus em Israel e nos EUA, uma agressão ao povo palestino, com a anexação de 30% das terras palestinas da Cisjordânia, cujo tiro saiu pela culatra, de um lado unindo todas as forças palestinas e, por outro, rejeitado por toda a União Europeia, países árabes, além da China, Rússia, inúmeros outros países, ONU e organizações judaicas em Israel e todo o mundo, sem coesão para tal estupidez nem mesmo em seus governos, Trump e Netanyahu tiraram da pauta a brilhante ideia, da usurpação trazendo a paz, dizendo que fora “adiada” ).

Portanto, se havia uma coisa desnecessária era a mãozinha dos EAU para “parar a anexação” depois dos burros da esdrúxula medida estarem com água até o pescoço, mantendo a usurpação, de fato, das terras e dos direitos do povo palestino pelo governo israelense.

Aliás, é quando trata deste item, na declaração conjunta dos três, que a prepotência de Trump (declarando o seu apoio até ali ao assalto de terras palestinas por Israel como ‘visão pela paz’) que a dimensão da sabujice da micro-monarquia do Golfo fica mais explícita:

“A pedido do presidente Trump, com o apoio dos Emirados Árabes Unidos, Israel vai suspender a declaração de soberania sobre as áreas delineadas pela Visão pela Paz do presidente”.

Já Netanyahu (a quem até os tribunais e a polícia israelenses julgam por “quebra de confiança”), não demorou mais que algumas horas para puxar o tapete do xeique Muhammed Bin Zayed, que se jactava de ter “parado” a anexação, único jeito para não ficar muito mal ao assinar o acordo: “Não há mudança no meu plano de estender a soberania sobre a Judeia e Samária (nomes bíblicos para trechos da Cisjordânia palestina) e plena coordenação com os Estados Unidos. É meu compromisso”, disse Bibi a seus eleitores.

E mais, David Friedman, o embaixador dos EUA em Israel, o secundou: “Está fora da mesa agora, mas não está fora da mesa permanentemente”.

Convenhamos: o preço pelo adiamento de uma estupidez já insustentável não foi pequeno: com a normalização isolada, abre passo para mais países árabes, especialmente aqueles que giram como satélites dos EUA na região, seguirem os Emirados e romperem, pelas costas dos palestinos, com a Iniciativa Árabe, documento conjunto dos países árabes propondo exatamente a paz, com a normalização das relações árabes com Israel, em troca do fim da ocupação dos territórios palestinos, que já dura mais de 50 anos, e o reconhecimento pleno do Estado da Palestina por Israel.

Não é à toa que a direção da OLP chamou essa nauseante boca-de-urna para Trump e escora para Netanyahu, ambos caindo pelas tabelas, de uma “traição a Jerusalém”, como afirmou o presidente palestino Mahmud Abbas.

Até aqui apenas o Egito e a Jordânia tinham relações diplomáticas com Israel. Mas, devemos notar, que foram acordos feitos sem que Israel tivesse, até então, declarado a anexação de territórios palestinos ocupados, como fez, agora, durante o governo de Netanyahu, que declarou a Jerusalém Árabe como no interior das fronteiras de Israel e acelerou o expansionismo.

Aliás, o documento apresentado por Trump não fala nem no fim da ocupação e muito menos na anulação da anexação de Jerusalém, ao contrário, espezinha com os direitos dos palestinos, dizendo que “os muçulmanos que vierem em paz poderão visitar e rezar na mesquita Al Aqsa (a mais sagrada de Jerusalém)”.

“Que vocês nunca experimentem a agonia de ter seu país roubado; que vocês nunca sintam a dor de viver em cativeiro sob ocupação; que nunca testemunhem a demolição de suas casas ou assassinato de seus entes queridos. Que vocês nunca sejam vendidos por seus ‘amigos’”, declarou a integrante do Comitê Executivo da Organização de Libertação da Palestina (OLP), Dra. Hanan Ashrawi.

Lideranças judaicas nos Estados Unidos também rejeitaram a encenação de Trump/Netanyahu/Zayed. A organização Jewish Voice for Peace – JVP (Voz Judaica pela Paz) denuncia que não há nada a celebrar no “acordo”, que “não passa de um teatro”.

“Enquanto Israel não deixar de oprimir os palestinos e violar seus direitos, construindo assentamentos ilegais, mantendo um regime de apartheid e atacando os defensores dos direitos humanos – o recente complô de Trump e Netanyahu com a ajuda dos EAU, não passa de um teatro”, afirmou Stefanie Fox, diretora executiva da JVP.

Outra organização Judaica, IfNotNow (Se não agora), declarou que o documento foi uma tentativa de distrair os cidadãos norte-americanos da “pandemia, crise econômica, tensão e queda vertiginosa no apoio do público as ações dos EUA e Israel”.

“Depois de meses de crescente pressão exercida por todo o mundo contra os planos de anexação do primeiro-ministro Netanyahu, este tratado – reconhecendo as conexões informais que já existem entre Israel e os Emirados há anos – dá cobertura diplomática para ele dizer que parou formalmente com a anexação da Cisjordânia”, declara a JVP.

“Enquanto isso”, prossegue, “o governo de Israel pode continuar fazendo exatamente o que já faz por décadas – removendo os palestinos de suas terras e arrancando os seus direitos”.