Exército e ambulâncias correram ao local para impedir que ataque de franco-atiradores tirasse mais vidas

“Ninguém tomará o país como refém de seus interesses”, advertiu o presidente do Líbano, Michel Aoun, após ataque a tiros contra uma manifestação pacífica em Beirute na quinta-feira (14) causar seis mortos e 60 feridos. O exército libanês interveio, posicionando forças e veículos blindados no local.

“Não toleramos uma repetição do que aconteceu e nunca permitiremos que ninguém tome o país como refém de seus interesses”, disse Aoun, acrescentando que “é inaceitável retornar à linguagem das armas”.

Ele convocou a justiça a apurar os autores dos disparos contra a multidão.

Centenas de manifestantes, das duas principais forças políticas que representam a comunidade xiita libanesa, Hezbollah e Amal, marcharam pacificamente em frente ao Palácio de Justiça de Beirute, para exigir a demissão do juiz Tarek Bitar, a quem acusam de tendencioso e de agir sob “ordens externas”. Ele investiga a explosão no porto de Beirute, no ano passado, que devastou a capital libanesa.

Os movimentos que convocaram a manifestação denunciaram que o morticínio visou levar o Líbano a um “conflito civil deliberado”. O Líbano esteve sob guerra civil por 15 anos.

Em comunicado conjunto Hezbollah e Amal denunciaram que os participantes da manifestação pacífica em frente ao Palácio da Justiça foram alvos de “fogo de franco-atirador direto” às 10h45 (hora local). Atiradores posicionados nos telhados de edifícios próximos dispararam contra os manifestantes.

“Esses ataques têm como objetivo arrastar o país para uma luta civil deliberada […] e sedição violenta”, diz a nota, que também conclamou o Exército libanês a assumir sua responsabilidade e intervir rapidamente para identificar e prender os perpetradores do ataques.

Em outra declaração conjunta emitida no mesmo dia, Hezbollah e Amal responsabilizaram grupos afiliados ao partido pró-norte-americano Forças Libanesas pelos disparos contra manifestantes e exigiram que “sejam julgados e severamente punidos” .

Por sua vez, o primeiro-ministro libanês Nayib Mikati convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Central do Líbano e exortou a população a “não ser arrastada para os conflitos civis” .

“O Exército se apressou em isolar a área e implantar em seus bairros e sua entrada. Patrulhas e buscas pelos atiradores foram iniciadas para detê-los”, informou o Exército Libanês em sua conta no Twitter, alertando que as unidades posicionadas na área “atirarão em qualquer pessoa armada que estiver na estrada.”

O primeiro-ministro declarou sexta-feira, 15 de outubro, um dia de luto nacional pelas vítimas do incidente. Todas as administrações, estabelecimentos públicos, municípios e escolas públicas e privadas permanecerão fechadas naquele dia.

O Líbano segue convulsionado desde que, em 4 de agosto do ano passado, foi pelos ares um armazém no porto de Beirute em que há anos eram mantido de forma insegura um enorme estoque de nitrato de amônio. A tragédia deixou 207 mortos e mais de 6.500 desaparecidos, além de desabrigar 300 mil pessoas. O episódio desencadeou a mais grave crise econômica em décadas, com os preços disparando e mais da metade da população vivendo abaixo da linha de pobreza, o que só piorou com a pandemia.