José Bertotti plantando uma muda de Pau-Brasil no Parque Estadual de Dois Irmãos.

A grande questão, penso aqui, é como canalizar essa indignação? Como desenvolver essa capacidade de inovação, para a solução dos verdadeiros problemas que assolam o Brasil e o mundo

Por José Bertotti*

O que nos move, a indignação ou a esperança? Esse foi o mote de uma conversa de fim de ano com meu amigo Abraham Sicsú, membro da Academia Pernambucana de Ciências e meu orientador no Mestrado em Engenharia de Produção, onde trabalhamos uma proposta de criação de um Sistema Estadual de Parques Tecnológicos para Pernambuco, com um olhar para o futuro apoiado numa das nossas tradições, qual seja, o incentivo a ciência e a tecnologia como fonte de soluções inovadoras para os problemas cotidianos, capaz de gerar emprego e renda e agregar valor ao nosso sistema produtivo.

Nossa conversa travada no final de 2021, começou quando Abraham me enviou um artigo escrito por Nizan Guanaes, publicado no Brasil Journal, intitulado “A Desesperança”, artigo aliás que recomendo a todos para uma leitura atenta e reflexiva. Imagino que Abraham me enviou esse artigo motivado por minha mensagem de Ano Novo, fincada na esperança de dias melhores, quando afirmo que enquanto lá no Governo Federal eles desmatam, aqui em Pernambuco nós seguimos plantando esperanças, através de um ousado projeto de reflorestamento.

Não discordei quando Abraham me disse que para ele a indignação é o motor da História e que sem ela, só passividade, por isso deveríamos provocá-la como meio de mudança.

Lembrei das leituras e debates provocados por Abraham na disciplina de Gestão da Inovação sobre Schumpeter em Teoria do Desenvolvimento Econômico, quando ele indica, como motor da inovação, o fazer diferente com os mesmos meios, focado nos problemas reais, gerando assim um diferencial competitivo. A grande questão, penso aqui, é como canalizar essa indignação? Como desenvolver essa capacidade de inovação, para a solução dos verdadeiros problemas que assolam o Brasil e o mundo de formas diferenciadas, como o desemprego, fome, estagnação econômica, falta de infraestrutura, analfabetismo.

Penso que o melhor uso que podemos fazer dessa indignação, será apostar no enfrentamento desse verdadeiro tsunami, provocado pelo atual governo federal contra a ciência, a cultura e a natureza, que vem devastando nosso ambiente produtivo. Nossa retomada deve estar baseada no resgate da nossa capacidade de planejamento, tendo como meta, utilizar toda nossa força de trabalho que inclua os milhões de desempregados e desesperançados, dirigida por nossa capacidade tecnológica relevante já desenvolvida no Brasil, e que muito ainda avançará quando recolocada em movimento.

Confesso que fiquei chocado com a introdução do tema desesperança, como um motor propulsor, para colocar em movimento essa necessária transformação. É claro que não tenho dúvidas de que precisamos nos mexer sim. No entanto, reafirmo que continuarei um otimista convicto e sempre lutando para alcançar as mudanças necessárias enquanto tiver corpo e mente focados nisso.
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*Mestre de engenharia de produção, professor, membro da direção estadual do PCdoB-PE e secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco