Poitier na cerimônia do Oscar

Sidney Poitier foi o ator negro que abriu caminho para que chegasse às telas, das mais variadas formas e com sua atuação impecável, o desafio da superação da questão racial nos Estados Unidos. O Oscar com o qual foi premiado pelo trabalho em “Uma voz das sombras” (Lilies on the field, 1963) na verdade o agraciou pelo conjunto de sua obra até ali. Poitier faleceu neste dia 6 em Los Angeles, aos 95 anos.

Já havia atuado no filme, dirigido por Otto Preminger, que levou ao cinema a obra de Gershwin, Porgy and Bess (1959) sobre as tensões e dificuldades vividas em uma vila com moradores pobres predominantemente negros.

Após subir ao palco para receber a estatueta, Poitier ainda estrelaria os notáveis “Advinhe quem vem para jantar” (1967), filme impactante, no qual uma mulher branca apresenta aos pais liberais seu noivo negro, expondo a superficialidade de algumas posturas ditas “civilizadas’, mas que mudavam – mesmo em quem dizia abominar a segregação – quando a questão racial chegava mais perto.

A seguir foi protagonista em “No calor da noite”, onde um advogado mostra sua fibra contra o preconceito, quando a sua cor o leva a ser acusado por um crime que não cometera.

Também veio a encarnar – com seu perfil de dignidade que se tornaria sua marca registrada – em “Ao mestre com carinho” (1966), um professor dedicado a transformar alunos desajustados e desinteressados pelos estudos em uma escola situada em bairro popular de Londres em que acaba homenageado por seus alunos.

Em 1979 foi o narrador do filme sobre o cantor negro comunista, Paul Robeson, em “Tributo a um artista”.

Ao falar sobre sua atuação, uma vez escreveu que se “sentia como quem representa milhões de pessoas em cada movimento que eu fazia”.

Sobre seu pioneirismo enquanto ator negro, disse à revista Newsweek em 1988: “Eu fiz filmes quando era o rapaz solitário na cidade. O único outro negro na atuação era o garoto engraxate”.

O NYT atribuiu a ele a abertura de caminho para outros atores negros em Hollywood, a exemplo de Morgan Freeman e Denzel Washington.

O ator encarou, ele próprio estúpidos momentos de discriminação, como quando foi seguido por membros da Ku Klux Klan no Mississipi em 1964, quando foi até o Estado sulista apoiar o movimento em favor do voto dos negros. No mesmo Estado ativistas haviam sido assassinados. Ou quando, já estrela destacada de Hollywood, teve dificuldades para alugar uma casa em Los Angeles.

Além de diversos comícios pelos direitos civis, Poitier participou da Marcha a Washington, em 1963, quando Martin Luther King pronunciou o “I Have a Dream” (Eu tenho um sonho).

Tributos

Foram inúmeras as manifestações de admiração pela carreira de Poitier, destaco as de dois atores negros:

“Ele nos mostrou como chegar às estrelas”, declarou a atriz negra Whoopi Goldberg.

“A graça e a classe que este homem apresentou ao longo de toda sua vida, o exemplo que foi para mim, não apenas como um homem negro, mas como ser humano, nunca serão esquecidos”, afirmou o ator, diretor e roteirista Tyler Perry.