“Nunca apoiei publicamente nenhum candidato político”, afirmou o Dr. Fauci | Foto: Reuters

O principal infectologista dos EUA e da força-tarefa da Casa Branca contra a Covid-19, Dr. Anthony Fauci, precisou vir a público no domingo (11) para rechaçar propaganda enganosa da campanha à reeleição de Trump, em que parece dizer que “ninguém poderia ter feito mais” do que Trump na luta contra a pandemia.

“Os comentários atribuídos a mim sem minha permissão no anúncio da campanha do GOP [como é conhecido o Partido Republicano] foram tirados do contexto de uma declaração mais ampla que dei meses atrás sobre os esforços de funcionários federais de saúde pública”, afirmou o Dr. Fauci, em comunicado à imprensa.

Ele fez questão de enfatizar que em suas quase cinco décadas de serviço público, “nunca apoiei publicamente nenhum candidato político.”

Sua declaração à Fox News em março, na íntegra: “Tenho me dedicado quase todo o tempo a isso. Estou na Casa Branca praticamente todos os dias com a força-tarefa. É todo santo dia. Então, não consigo imaginar isso sob quaisquer circunstâncias em que alguém poderia estar fazendo mais”.

É notória a luta hercúlea que tem sido travada pelo Dr. Fauci, respeitado internacionalmente e dentro do país por contribuições ao controle do HIV e do ebola, para manter algum nível de enfoque científico contra a pior pandemia em um século, sob um governo obscurantista como o de Trump.

FOCO DA PROPAGAÇÃO

Após o “evento superdisseminador” do coronavírus na Casa Branca no dia 26 de setembro – aliás, um evento sobre o qual o Dr. Fauci já se manifestara criticamente, em que o próprio Trump pegou Covid, o presidente bilionário vem tentando fazer de seu retorno do principal hospital militar dos EUA uma ‘volta por cima’, em relação às pesquisas e à reta final da campanha.

O novo vídeo de campanha tinha exatamente esse enfoque. “O presidente Trump está se recuperando do coronavírus, e a América, também” – afirmação cuja âncora é a imagem, à revelia, do cientista.

No sábado, a Casa Branca foi palco de nova encenação da campanha de reeleição, com 500 gatos pingados – pouca gente, mas amontoada -, para marcar a volta de Trump às lides de campanha.

Na segunda-feira anterior, a Casa Branca já servira para sua “volta triunfal” à varanda, para a cena do tira-máscara, e pose de Mussolini laranja depois do coronavírus.

Pomposamente, a campanha de Trump apelidou sua aglomeração de “protesto pacífico pela lei e pela ordem”. Nas redes sociais, o apelido era outro, mais próprio de cultura de bactérias: CoVchella.

Entre os presentes nos gramados da Casa Branca, o adepto da imunização de rebanho e atual guru preferido de Trump, Scott Atlas. Sem máscara.

As redes não perdoaram: “Caro @realDonaldTrump: por que seu comício é tão pequeno? Também, por que as pessoas não estão respeitando o distanciamento social? Ainda, por que os contribuintes estão pagando por seu comício?”. Outro comentário era mais ferino: “mal conseguiram 500 (provavelmente a maioria, paga) para respirar a carga viral de Trump”.

Trump defendeu o uso do clipe do cientista em seu novo anúncio, tuitando: “São de fato as próprias palavras do Dr. Fauci. Fizemos um trabalho ‘fenomenal’, de acordo com alguns governadores”. O desmentido desse domingo não é o primeiro choque entre Trump e o Dr. Fauci.

Na época em que andou tuitando o agora famoso “Libertem Michigan”, em abril, Trump também retuitou uma hashtag #DemitaFauci, que pedia a demissão do médico, mas depois, diante da repercussão negativa, fez meia volta e voltou a dizer que o cientista estava “fazendo um ótimo trabalho”.

No domingo, mais disparates. Trump se anunciou “imune” e pronto para voltar aos eventos super-disseminadores do coronavírus, perdão, aos comícios de campanha de reeleição.

O presidente, que testou positivo para a Covid no dia 1º de outubro e ficou hospitalizado por três dias asseverou que seu diagnóstico atual para o coronavírus é “totalmente negativo”, sem ter apresentado qualquer teste negativo.

A autodeclaração de Trump sobre estar “imune”, que essa condição pode ser “por muito tempo ou por um tempo curto” e que isso significa que “não posso passar nem receber” o vírus, foi rejeitada pelo Twitter, que alertou que tal mensagem pode estar “espalhando informações enganosas e potencialmente prejudiciais”.

Ao certo, ninguém sabe a quantas anda a recuperação de Trump, e ele e seus médicos até agora não noticiaram que haja dado negativo para o coronavírus.

Memorando assinado pelo médico da Casa Branca, Sean Conley, declarou apenas que “pelos padrões correntemente reconhecidos” Trump não era mais considerado um “risco de transmissão”.

Trump, que testou positivo no dia 1º de outubro e ficou hospitalizado por três dias com o vírus, disse no domingo que seu diagnóstico atual para Covid-19 é “totalmente negativo”, seja lá o que isso quer dizer.

Ao ser indagado, na quinta-feira, em entrevista à Fox News, se tinha testado recentemente negativo para a Covid, Trump desconversou, contou histórias sobre como era “fenomenal” o antiviral Regeneron, e não respondeu.

De acordo com o chefe de Departamento da Escola de Saúde Pública de Yale, Dr. Alberto Ko, segundo as orientações do CDC, o prazo é de 10 dias para casos leves ou moderados. Mas que, em casos severos da Covid, o doente precisa ficar isolado por 20 dias. Ele observou que o tratamento com dexametasona normalmente é reservado para pacientes com infecção severa.

Também a Dra. Leana Wen, da Escola de Saúde Pública Milken da universidade George Washington, disse que ficou “atônita” pela declaração de Conley de que Trump está pronto para retornar às atividades públicas.

Sábado é o “dia 10, de acordo com o cronograma da Casa Branca”, observou Wen. “Pacientes com Covid-19 grave podem ser infecciosos por 20 dias.”

Em outra frente, o debate presidencial previsto para o dia 15 foi desmarcado, devido à recusa de Trump de que fosse realizado por videoconferência, como propunha a Comissão de Debates Presidenciais, em função de ele estar com Covid-19. Até aqui, está mantido o debate do dia 22.