Os ministros de Saúde Pública, Rishi Sunak, (e) e de Finanças, Sajid Javid, iniciaram a onda de renúncias

Mais um escândalo envolvendo a indicação de um político acusado de má conduta sexual detona uma cascata de renúncias de funcionários importantes e aprofunda a crise do governo inglês. A debandada é apontada como o começo do fim da liderança do primeiro-ministro Boris Johnson, já bastante comprometido com a crise inflacionária e com o escândalo das festas privadas e ilegais, o Partygate.

A gota d’água para a onda de renúncias foi a forma como o governo lidou com o Pinchergate, forma em que imprensa já apelidou o caso do deputado Chris Pincher que renunciou ao cargo de chefe de disciplina do partido e mais tarde foi suspenso, depois de admitir que apalpou dois homens em um Bar privado de Londres porque – segundo ele – ‘tinha bebido demasiado’. Não era a primeira vez que Pincher se via envolvido em escândalos, mas o gabinete do primeiro-ministro disse que Johnson não sabia de nada quando o nomeou em fevereiro.

A tensão em Londres começou na terça-feira (5) com as demissões quase simultâneas dos ministros de Finanças e de Saúde Pública Sajid Javid e Rishi Sunak, respectivamente, dois pesos pesados do Executivo que antes sempre defenderam Johnson dos demais escândalos que surgiram durante seu mandato.

Rishi Sunak foi inclusive o único ministro que, como o Johnson, foi multado por participar de pelo menos uma das muitas festas ilegais realizadas na residência oficial do primeiro-ministro durante a quarentena da pandemia.

Depois deles, mais três membros do gabinete renunciaram nesta quarta-feira (6), aumentando a pressão.

O ministro das Crianças, Quince Will, disse durante entrevistas à mídia, que “não tinha escolha a não ser apresentar minha renúncia como ministro para crianças e famílias, pois aceitei e repeti essas garantias de boa fé”, defendendo Johnson pela nomeação do deputado Chris Pincher como chefe do partido.

A vice-ministra dos Transportes, Laura Trott, renunciou dizendo que estava deixando o governo devido à perda de “confiança”.

Já são ao menos 30 membros do governo de Londres que pediram para sair, informou a CNN. Após os titulares dos ministérios, renunciaram vice-ministros, secretários e outros funcionários do gabinete, enquanto o número de parlamentares conservadores que dizem não confiar em sua liderança continuou a aumentar na quarta-feira.

Depois de ser revelado na terça-feira que a denúncia deputado Pincher existia desde 2019, o gabinete de Johnson tentou corrigir a situação, mas piorou as coisas, dizendo que o primeiro-ministro estava ciente do relatório, mas “esqueceu-se” de mencioná-lo.

O resultado foi que o primeiro-ministro foi obrigado a admitir diante das câmeras de televisão que errou ao nomear Pincher e, embora tenha pedido desculpas, o estrago já estava feito.

Com as últimas demissões, a pressão sobre Johnson se multiplicou, já que muitos de seus backbenchers e partidos de oposição estão pedindo sua renúncia imediatamente. Para tentar mostrar que ainda governa, ele nomeou Nadhim Zahawi como o novo chanceler e Steven Barkley como o novo secretário de saúde.

Johnson sobreviveu a um voto de confiança há um mês, e um novo desafio contra sua liderança não pode ser desencadeado por um ano, de acordo com as regras do partido.

“Só uma verdadeira mudança de governo pode dar ao Reino Unido o novo começo de que necessita”, afirmou o líder trabalhista Keir Starmer, aproveitando para relembrar aos britânicos a sordidez, os escândalos e os fracassos que caracterizam o mandato de Johnson.

O chefe dos liberais democratas, Ed Davey, assegurou, por sua vez, que o Partido Conservador, no poder desde 2010, fracassou, e seus deputados têm que cumprir o “dever patriótico” de se livrar do primeiro-ministro.

Já o porta-voz do Partido Nacional Escocês no Parlamento britânico, Ian Blackford, um dos críticos mais ferrenhos de Johnson na Câmara dos Comuns, disse que o país está passando de uma crise para outra, e é hora de dar um fim.

O deputado escocês alertou, no entanto, que o primeiro-ministro terá de ser removido à força, dada a sua relutância em deixar o cargo.

A pesquisa realizada pela agência YouGov logo após a renúncia dos dois ministros que iniciaram a debandada, na terça-feira, mostrou que apenas 18% das três mil pessoas entrevistadas defendiam a permanência de Johnson no poder.