Brizola Neto: "Fortalecer carreiras da Saúde e da Educação é prioridade das prioridades numa gestão municipal"

“A prefeitura do Rio tem que ter noção do seu tamanho político e papel institucional”, destacou o pré-candidato pelo PCdoB a prefeito do Rio de Janeiro, Brizola Neto. Nesta entrevista ao Portal PCdoB, ele tratou dos efeitos da pandemia na vida do Rio de Janeiro e refletiu sobre caminhos que precisavam e precisam ser tomados pela administração municipal para preservar a vida da população e movimentar a economia. Neste percurso, ressaltou a centralidade de um Estado forte e atuante.

Por Lívia Duarte

Aos 41 anos, Brizola traz no nome a marca profunda de projetos inovadores na área de Educação do Rio de Janeiro. Neto do ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, ele registrou que o investimento nesta área é prioridade sua, não como resgate de um projeto familiar, mas como um fator que deveria forjar, na opinião dele, qualquer plano realmente democrático para a cidade e para o país.

“Qualquer candidatura progressista, diria mais, qualquer candidatura democrática, que queira combater a negação da ciência que representam Bolsonaro e auxiliares, deve ter compromisso com o resgate do programa dos Centros Integrados de Educação Pública, os Cieps, o maior e mais generoso programa para educação que já se experimentou no Brasil, as escolas que foram construídas por Brizola e Darci [Ribeiro], no estado do Rio de Janeiro”, pontuou. “Investimento em educação é fundamental pra construir um projeto nacional de desenvolvimento”.

Como o calendário para 2020 está mantido pela Justiça Eleitoral, Brizola Neto está realizando a pré-campanha de casa, obediente ao isolamento social que salva vidas, e fazendo política com as ferramentas do momento: ocupando as redes. Além disso, dedica parte do tempo ao apoio das ações solidárias, especialmente as promovidas pelos companheiros de partido, pré-candidatos e pré-candidatas à Câmara Municipal.

Por telefone, o pré-candidato, que se inseriu aos quadros do PCdoB a partir da incorporação do PPL, em dezembro de 2018, também falou do desenvolvimento do projeto político-eleitoral da legenda para o Rio de Janeiro. Tratou ainda do cenário local, que tem como última mudança a desistência da pré-candidatura do deputado federal Marcelo Freixo (Psol). Aqui, Brizola Neto analisa significados possíveis deste movimento para organização de uma frente ampla contra Crivella e Bolsonaro na Cidade Maravilhosa.

Conheça um pouco de sua trajetória:

Carlos Daudt Brizola, conhecido por Brizola Neto nasceu em Porto Alegre (RS) em 11 de outubro de 1978, mas mudou-se com a família para o Rio de Janeiro com apenas quatro anos, em 1982, na eleição do seu avô Leonel Brizola ao governo fluminense. Com apenas 16 anos de idade, foi trabalhar como secretário particular do avô. Sua vida política começou cedo. Foi vereador em 2004, eleito deputado federal em 2006. Em 2012 foi ministro do Trabalho e Emprego do governo Dilma. Foi filiado ao PDT (1997-2018), ingressou ao PPL em 2018 e, desde 2019, atua no Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Portal PCdoB – Pesquisa do Instituto Datafolha mostrou, ainda em dezembro, que 68% dos entrevistados diziam que a Saúde era o principal problema da cidade do Rio. A pandemia mostra a relevância da preocupação do povo. Como o senhor avalia as ações que vêm sendo tomadas com relação à Saúde na cidade? O que precisa ser feito?

Brizola Neto: A verdade é que a rede de Saúde do município já estava colapsada antes da chegada da epidemia no Brasil e no Rio. Ainda em fevereiro, participei com a deputada estadual Enfermeira Rejane (PCdoB) de uma manifestação na UPA do Alemão [Unidade de Pronto Atendimento que atende ao conjunto de favelas conhecido como Complexo do Alemão]. Na época, mais de 50% dos funcionários de lá e de toda a rede municipal tinham sido demitidos, num processo de mudança que o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) estava fazendo com relação às Organizações Sociais (OS). Aliás, o PCdoB já denuncia a falência do modelo das OS há muito tempo. Eu entendo que o bom gestor olha lá na frente. Em fevereiro já tínhamos todos os indícios de que a pandemia ia chegar aqui. Mas o que o prefeito fez foi piorar a situação, criando um verdadeiro caos.

O gestor aqui do Rio de Janeiro tem que ter na cabeça que o modelo das OS não deu certo. É fundamental retomar o caráter público da Saúde. Não fazendo o que o Crivella fez: precarizando as condições de trabalho e demitindo. Tem que criar uma carreira para os trabalhadores da Saúde do município e dotar toda a rede, desde a atenção básica até os hospitais de alta complexidade, das melhores condições de trabalho, o que infelizmente não acontecia antes e nem é o que acontece com a pandemia.

E o pior: a gente vê aqui uma submissão política completa do Crivella ao Bolsonaro. Só que essa submissão não representa nenhuma ajuda extra ao município do Rio de Janeiro. Pelo contrário, não recebe os repasses necessários da União e temos aqui esta denúncia gravíssima de que nem os hospitais federais, diretamente geridos pelo Ministério da Saúde, foram equipados. Fala-se em 1200 leitos ociosos, que poderiam estar salvando vidas. Ontem [domingo, 17/05] a fila batia 400 pacientes esperando leito de UTI na cidade.

A implantação de um modelo público para Saúde seria importante ter para a pandemia, mas é algo que precisa ser permanente: fortalecer as carreiras do estado. E claro, não só na área da Saúde, em outras áreas também.

Vemos claramente que o estado, tão demonizado pelos defensores do estado mínimo, pelos liberais, agora se mostra como único ente capaz de solucionar os problemas: salvando vidas com a rede pública de Saúde e também, depois, sendo o grande impulsionador da retomada do desenvolvimento econômico.

Mas desde a implantação, as OS eram defendidas no Rio como a única forma possível por conta justamente dos custos de tudo isso, bem como da burocracia do estado, etc. Você está dizendo que há outra maneira?

Essa é uma lógica meramente fiscal, de reduzir os custos numa área que é vital, que trata da vida da população. As OS precarizaram as condições de trabalho e o atendimento à população. Claro que poderia funcionar de outro modo! É preciso estabelecer as prioridades do Estado, especialmente do ente público municipal. Fortalecer carreiras da Saúde e da Educação é prioridade das prioridades numa gestão municipal.

Entendo que sua trajetória, inclusive como ex-ministro do Trabalho, fica marcada pela defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. E um dos impactos da pandemia tem sido, justamente, o agravamento da crise econômica e do desemprego. Do seu ponto de vista, o que pode ser feito a partir da prefeitura do Rio?

Mais uma vez, a cidade já vinha de um quadro muito difícil antes da pandemia. Temos encolhimento da economia de 8% em quatro anos. Antes do coronavírus a cidade do Rio já contava mais de 500 mil desempregados e de 700 mil pessoas na informalidade. E o quadro se agravou drasticamente.

Para mudar, a prefeitura do Rio tem que ter noção do seu tamanho político e papel institucional. Tem que ter capacidade de articular com o governo federal, mesmo neste quadro adverso, e com as empresas.  Precisa articular com a Petrobras, para que retome seu plano de investimento, com o BNDES, para financiar um programa de obras públicas que ajude a retomar atividade na construção civil, gerando empregos diretos. E é claro que existe também a capacidade própria da prefeitura, com um orçamento que vem caindo desde 2016, é verdade, mas que ainda é muito forte, o segundo maior entre os municípios do Brasil. Tem grandes possibilidades de buscar caminhos de retomada envolvendo alguns setores. O próprio setor da saúde é um: aqui tem o segundo maior sistema de compras do SUS, um gasto público significativo, que poderia ser orientado para empresas que se instalassem na cidade. Também a área da indústria cultural, do audiovisual e entretenimento, apostando na tradição cultural forte do Rio. É outro potencial que a prefeitura poderia aproveitar, é um setor que gera muito emprego e muito desenvolvimento.

Mas o que eu acho fundamental é a capacidade do prefeito de articular um plano de retomada econômica à luz de um projeto nacional. Quando a Petrobras tinha compromisso com o desenvolvimento nacional, compromisso com conteúdo nacional, revitalizou a indústria naval do Rio de Janeiro, gerou 50 mil empregos diretos. Infelizmente, com a mudança na Petrobras, com presidente da Petrobras dizendo que vai virar mera exploradora de petróleo, mantemos a condição de país dependente, e isso afetou demais o Rio de Janeiro. Os estaleiros voltaram a ser depósitos de sucata. Neste sentido que digo que o prefeito do Rio precisa ter capacidade e tamanho político para articular e negociar.

O senhor tem desde a certidão de nascimento um nome que traz uma série de referências para a cidade do Rio, por exemplo, na área da educação. Queria saber de legados familiares que você talvez queira resgatar como prefeito.

Qualquer candidatura progressista, diria mais, qualquer candidatura democrática, que queira combater o negacionismo, que queira combater a negação da ciência que representa Bolsonaro e auxiliares, deve ter compromisso com o resgate do programa dos Centros Integrados de Educação Pública, os Cieps, o maior e mais generoso programa para educação que já se experimentou no Brasil, as escolas que foram construídas por Brizola e Darci [Ribeiro], no estado do Rio de Janeiro.

É um legado enorme para a cidade do Rio, que tem mais de cem Cieps que infelizmente foram abandonados pelas gestões que se seguiram, junto com o conceito de educação em tempo integral. Quando vemos as melhores experiências no Brasil, das escolas no Ceará, das escolas do Maranhão do nosso Flávio Dino (PCdoB), são modelos de tempo integral, são escolas que ajudam a combater nossas profundas desigualdades sociais. E é triste para os cariocas que estiveram na vanguarda, o Rio poderia estar na ponta, ficou pra trás. Retomar este projeto não deve ser compromisso meu, ou familiar, mas de todo progressista e democrata que queira superar as desigualdades sociais e que queira contribuir pra um projeto nacional de desenvolvimento.

Sobre o processo de construção da sua pré-candidatura nestes tempos atípicos, com coronavírus, o que o senhor tem feito, como tem sido o trabalho?

Permaneço em casa. É a orientação que estou seguindo, como todo mundo deveria. Estamos procurando fazer política com as ferramentas que temos no momento, ocupando e fazendo debate nas redes. Estou também apoiando ações solidárias, principalmente as que estão sendo promovidas pelos camaradas que vão compor nossa chapa de vereadores. Há uma série delas. Por exemplo, doação de alimentos na Rocinha. Ganhou relevância também uma iniciativa que é capitaneada pelo Sindicado dos Enfermeiros e doa EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) aos profissionais de saúde.

E como andam as articulações em torno do seu nome para a prefeitura, as conversas com os diversos partidos de Oposição? No caso do Rio temos inclusive um fato novo, a desistência da pré-candidatura do deputado federal Marcelo Freixo (Psol), que foi o segundo mais votado na eleição passada. Como o senhor avalia essa desistência, o que ela aponta? 

Desde o início do governo Bolsonaro, estamos chamado atenção no Rio de Janeiro sobre a necessidade de construir uma frente ampla de salvação nacional para isolar Bolsonaro e derrotar o seu candidato aqui que, como está ficando muito claro, é o Crivella. Nesse sentido estamos mantendo diálogo com amplas forças que inclusive vão além do nosso campo da Esquerda, a gente está buscando diálogo com todo o campo democrático, ou seja, todos os que estão na oposição a Bolsonaro e Crivella. Estamos fazendo discussão grande, já fizemos seminários com o PDT, o PSB, o PCB, já tivemos conversas com o Psol. A gente conversa até com outros setores, fora do nosso campo, para construir as condições para esta frente ampla. E com uma eleição em dois turnos, entendemos que é natural que os partidos apresentem suas candidaturas até pra gente ver quem reúne as melhores condições para representar essa frente ampla no segundo turno.

Com relação à desistência do Marcelo Freixo, acredito e espero que seja uma atitude sincera da parte dele, e acho que é uma grande evolução no sentido de vir para a posição que nós do PCdoB defendemos já a bastante tempo, do diálogo amplo, da formação da frente ampla, para avançarmos no enfrentamento de Bolsonaro e Crivella. Acho que esse gesto tem que ser observado nesse sentido de avançar na construção da frente ampla. E especificamente com relação ao Freixo, acho que falta ele completar o gesto. Dizer que ele abre mão da candidatura em nome do quê, não é? De qual projeto. Se é realmente da construção dessa frente ampla, como vamos tornar isso mais real e apresentar um nome, ou até mais de um nome no primeiro turno, com o compromisso de construir essa frente ampla e isolar e derrotar Bolsonaro e Crivella.

E voltando ao PCdoB, queria saber da construção da chapa de vereadores, dos possíveis pré-candidatos à Câmara e do papel que tem jogado o Movimento 65 nessa proposta?

A atitude do partido de criar o Movimento 65 ajudou a trazer mais gente para a disputa pelo PCdoB e acho que esse trabalho foi muito bem feito aqui na direção municipal. Hoje temos uma chapa completa para apresentar, são 75 pré-candidatos e de muita qualidade, muito diversificada, não só representantes de diversas áreas, da saúde, da educação, nos movimentos sociais, mas também temos pré-candidatos de todas as regiões da cidade. O partido fez um belo trabalho. Estou muito confiante de que o PCdoB está preparado para eleger uma bancada de vereadores e muito esperançoso de que a candidatura majoritária contribua com isso. Acho que quanto mais a gente fizer avançar a candidatura majoritária, mais ela vai auxiliar na eleição dos nossos vereadores.

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