A jornalista Vera Magalhães, do jornal Estado de S. Paulo, está sendo atacada por apoiadores de Bolsonaro. As ameaças são feitas pelas redes sociais depois que ela noticiou a mensagem de WhatsApp do presidente com um vídeo convocando para uma manifestação pelo fechamento do Congresso e do STF.
Os ataques vão de ameaças diretas até a divulgação de dados da vida particular da jornalista.
Esta é a segunda profissional do sexo feminino da imprensa que é atacada por bolsonaristas nos últimos dias. Recentemente, Bolsonaro indignou o país ao insinuar que a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, era prostituta.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou uma nota na tarde de quarta (26) em repúdio à ofensiva contra a jornalista. A entidade diz que Vera foi vítima de doxxing (exposição de dados pessoais) e da criação de um perfil falso em uma rede social.
“Quem cria perfil falso em rede social pode ser responsabilizado civil e criminalmente. Na esfera cível, responde por danos morais e na criminal, por falsidade ideológica”, informa a nota.
A Abraji já havia considerado “lamentável e preocupante” que o presidente divulgue, mesmo que reservadamente, “ato que vai contra o equilíbrio dos três poderes e contra a própria democracia” e destaca: “Ao desprezar o trabalho da imprensa, ele incita seus apoiadores a atacar jornalistas nas redes sociais, em clara campanha de linchamento virtual”.
Na manhã de quarta-feira (26), Vera Magalhães publicou no blog BRPolítico uma declaração concedida em 2018 por Bolsonaro sobre eventual fechamento do Congresso, na qual ele escreveu: “Se caísse uma bomba H no Parlamento, pode ter certeza, haveria festa no Brasil”. escreveu a jornalista.
O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), reagiu, dizendo que há um abismo entre a “bolha” em que vive a jornalista e a “população em geral”, e escreveu: “Se houvesse uma bomba H no Congresso você realmente acha que o povo choraria? Ou você só faz isso para tentar criar atrito entre o Presidente e o Congresso?”.
Vera respondeu que jogar uma bomba no Congresso seria um “ato terrorista” e que, “se o povo não se preocupar com isso, a democracia acabará”.
Dois vídeos estão circulando pelas redes sociais sobre o ato anti-Congresso e anti-STF. Em um deles, o locutor diz “Basta. O Brasil só pode contar com você. O que você pode fazer pelo Brasil? Todo poder emana do povo. Vamos resgatar o nosso poder” e faz a convocação: “Dia 15 de março mostre que você é patriota, ama o Brasil e defende o presidente Bolsonaro”.
Um outro vídeo exalta a figura do presidente, dizendo que “Ele foi chamado para lutar por nós, desafiou os poderosos e quase morreu por nós”. A vídeo traz imagens do atentado contra Bolsonaro na campanha de 2018.