Vivemos um período histórico em que, como Gramsci caracterizou, o velho se recusa a morrer e o novo ainda não conseguiu se impor.

Por Carlos Fernando Niedersberg*

Caracterizar o velho é relativamente fácil. O concerto geopolítico que comanda as relações de poder entre as nações e o modo de produção vigente, tal como o conhecemos hoje, são incapazes de garantir o mínimo de estabilidade e segurança ao planeta bem como conforto material e espiritual a seus habitantes.

Quanto ao novo a situação é mais complexa. Podemos identificar algumas características.

Na geopolítica vai se afirmando a característica de um mundo multipolar, superando definitivamente o período pós Guerra Fria em que parecia que teríamos uma única super potência por um largo período histórico.

A quarta revolução industrial ou conhecida como 4.0, altera profundamente o modo de produzir e aprofunda as contradições inerentes ao capitalismo.

Em vinte anos 85% da produção global tende a ser automatizada.

Diferente do que dizem correntes pós-modernas isto não significa o fim do mundo do trabalho, nem autoriza pensamentos neo-ludistas a tentar fazer a roda da história girar para trás.

Mas inevitavelmente exige dos que continuam acreditando na superação do capitalismo um grande esforço de compreensão, análise e ação para encontrar novos caminhos na luta.

Uma leitura atenta de Marx permite perceber o peso que ele reiteradamente dá a ideia de alienação do trabalho no capitalismo.

As mudanças no mundo do trabalho reafirmam e reforçam tal conceito e o tornam concretamente uma importante bandeira de luta.

O capital financeiro não é uma deturpação do capitalismo e sim seu estágio mais avançado no sentido hegeliano.

A ilusão por ele gerada é indicativo da fase terminal do sistema.

A intensa automação, somada ao desmonte da legislação trabalhista e precarização do mundo do trabalho aprofundam uma contradição básica do sistema.

As condições de produção da mais-valia não são as mesmas de sua realização.

Não é gratuito o fato dos últimos 3 ganhadores do Prêmio Nobel de Economia terem no centro de suas preocupações a garantia de programas de renda mínima, nem tampouco o sucesso de Piketty e sua denúncia atualizada da desigualdade inerente ao desenvolvimento do capitalismo.

Fato soberbamente ilustrado pela realidade brasileira de 6, literalmente meia dúzia de indivíduos possuírem a mesma riqueza de outros 100 milhões de pessoas.

Não vai ter programa de renda mínima capaz de sustentar o consumo da sobreprodução criada pelo aumento da produtividade gerada pela inovação e geradora de um exército que não pode ser mais classificado como de reserva, mas sim de excluídos estruturais do sistema.

A resposta que a humanidade for capaz de dar a estes desafios definirá a cara do novo.

Nunca a disjuntiva socialismo ou barbárie foi tão atual.

*Químico e membro do CC