Ministro da Educação do governo Bolsonaro, Abraham Weintraub, debochou de parlamentares durante a audiência pública realizada na Comissão de Educação do Senado nesta terça-feira (11). O senador Ranfolfe Rodrigues (Rede-AP) cobrou a demissão do chefe da pasta por chamar de “probleminhas” os erros na correção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que atingiram mais de 5 mil candidatos e levaram 172 mil a procurarem o MEC, e os problemas de acesso no Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
“Se o melhor Enem de todos os tempos foi este [do ano passado], valha-me Deus. Um Enem em que mais de 170 mil estudantes reclamaram junto ao MEC”, afirmou Randolfe, que foi um dos autores do requerimento para ouvir o ministro nesta terça.
Weintraub foi chamado ao Senado para explicar os problemas ocorridos no “melhor Enem” de todos os tempos, que falhou no básico, a correção das notas dos estudantes.
Em estado de negação da realidade, o bolsonarista classificou as reportagens que apontaram as falhas na execução da prova de “fake news” e só admite “probleminhas” na pasta. “Já estou acostumado com chuva de fake news”, disse Weintraub em tom de deboche aos senadores e ao público presente.
O ministro disse ainda ser vítima de uma “linha extremamente terrorista” para desacreditar a prova por parte de políticos, da imprensa e de alguns grupos econômicos.
“Porque o objetivo é gerar terror, desmobilizar a sociedade. […] Desde o começo, alguns grupos parlamentares, alguns grupos econômicos e alguns meios de comunicação hegemônicos adotaram uma linha extremamente terrorista no processo”, declarou.
Para Randolfe, Weintraub “não trata a administração pública com critério de impessoalidade” e “ataca as posições políticas” de quem o critica.
“Ele acusa os outros da prática que faz, do comportamento que ele tem”, disse.
Randolfe defendeu ainda o impeachment do ministro, protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF) por um grupo de parlamentares. Entre os motivos para a denúncia, estão os erros na correção do Enem, quebras de decoro e do princípio da impessoalidade, além de condutas contrárias à impessoalidade, eficiência e transparência.
“O ministro sem educação vem ao Senado chamar de ‘probleminhas’ os erros no ENEM que afetaram MILHARES de estudantes no país! Weintraub precisa admitir que sua incompetência não é fake news e que deve sair do cargo. O Brasil merece mais”.
Um dia após a divulgação das notas do Enem e depois de candidatos usarem as redes sociais para dizer que estranhavam os resultados, o MEC admitiu ter divulgado parte das notas com erros. Segundo o ministério, 5.974 candidatos receberam os resultados errados por um problema que teria acontecido na gráfica responsável pela impressão da prova.
Weintraub voltou agora a ignorar a gravidade do problema e disse que o erro afetou 0,15% dos inscritos que fizeram as provas no ano passado, o que segundo ele, seria “estatisticamente insignificante”. “Não houve prejuízo a nenhum participante”, disse o ministro, que mais uma vez afirmou ter feito o “melhor Enem de todos os tempos”. “Eu não prometi que seria, mas foi o melhor Enem”, declarou.
MILITANTE
Weintraub voltou ainda a atacar os estudantes que solicitaram a correção das provas, acusando-os de “militantes que se passavam por alunos” para perturbar a ordem e disseminar o que seria um caos no Enem.
Ele também disse ter havido pessoas que não estavam entendendo o processo, posteriormente então orientadas. Por último, afirmou, houve aluno que foi mal e queria dizer que “a culpa foi do Abraham”, referindo-se a si próprio em terceira pessoa.
“Os pais acionam [o MEC], a gente atende o pai e fala que, infelizmente, ficou para o próximo ano. Houve muito ruído”, falou.
DECORO
Além de citar os problemas no Enem, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) criticou a postura do ministro nas redes sociais.
O senador lembrou o episódio em que Weintraub chamou a Proclamação da República de “uma infâmia contra um patriota iluminado” em novembro do ano passado e, ao ser criticado por uma internauta, afirmou: “Uma pena, prefiro cuidar dos estábulos, ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe”.
Contarato disse estar convencido que o ministro cometeu crime de responsabilidade e quebra de decoro. “Decoro não é erudição. É o mínimo de respeito. O ministro infringiu os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”, declarou.
Para o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), o atual ministro joga uma cortina de fumaça ideológica que atrapalha o diálogo construtivo.
“É bom a distanciar essa questão ideológica que tem seu momento que tem sua relevância mas que está atrapalhando demais o diálogo construtivo que é essencial para o Brasil interessa para as franjas radicais da internet as mitadas as frases bruscas as respostas grosseiras mas não para construir resultado”, criticou.
A ida de Weintraub ao Senado ocorre dias depois de um grupo de deputados e senadores ter apresentado, no Supremo Tribunal Federal (STF), um pedido de impeachment do ministro. A ação possui como base um relatório produzido pela Comissão Externa de Acompanhamento do MEC – presidida pela deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP), com relatoria do deputado federal Felipe Rigoni (PSB-ES).
“O que fica evidente a partir das análises multitemáticas é que o planejamento e a gestão do ministério estão muito aquém do esperado e são insuficientes para dar conta dos desafios educacionais que se apresentam no país”, diz o documento, que acusa o Weintraub de crime de responsabilidade.
PROTESTO
Integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) protestaram contra o ministro, ao final da audiência.
Eles levantaram cartazes com desenho que mostrava o ministro como um cachorro submisso e gritaram palavras de ordem. “Covarde. Tira a responsabilidade das coisas que você fez. Tem que ser punido pelo erro do Enem, seu incompetente”, disse um dos estudantes.