A economia mundial está em chamas mais uma vez. O mundo amanheceu com terrível queda nas bolsas, além da crise do COVID-19.

Por Walter Sorrentino*

Como dizia o poeta, se você está num navio em meio à borrasca, não deve ficar na quilha olhando as águas agitadas porque te desorientam e levam à perdição; deve olhar o horizonte, que te amplia a vista e lhe dá um rumo.

A crise iniciada em 2007-2008 ainda está insuperada, deixou um longo rastro de recessão, estagnação e baixo crescimento da economia. A demanda não cresce, inclusive – mas não exclusivamente – pela enorme massa de desempregados e deserdados que se criou desde então. Nem falar, então, do Coronavírus, que deprime a economia mundial.

Consta que em 2020 o PIB mundial não sairá dos marcos do 1%. Estamos em meio a uma “economia fraca”. Isto afeta diretamente a trilionária cadeia de produção ligada ao petróleo. Em 2019, pela primeira vez, a demanda de petróleo não aumentou no mundo. Mesmo a indústria do carvão (que consome 13% da frota naval no mundo), deixou de crescer, pela primeira vez depois de 200 anos.

As imensas inovações tecnológicas, contraditoriamente, agravam a situação, faz a economia depender ainda menos do petróleo. Para não ir longe, pense-se no imenso incremento mundial da energia solar.

Crise sobre crise, instabilidade inerente na economia: o produto último da hegemonia da financeirização na acumulação do capital. Estrutural e sistêmica.

No caso do petróleo, como sempre se lembra, o horizonte é que “já era”. Ficou famoso o dito de que “a era das pedras não acabou por falta de pedras”, mas pela evolução das forças produtivas. O horizonte ao menos é esse, descontado algum exagero.

A OPEP (leia-se: Arábia Saudita que produz petróleo a um custo de 2-3 dólares, enquanto o restante da associação o faz a pelo menos 7-8 dólares) quis reduzir a produção para manter os preços altos, mas a Rússia, outro grande produtor, recusou. Daí que os sauditas podem aumentar a produção dos incríveis 9 milhões de barris diários possa chegar até 12-13 milhões. Os russos também.

O petróleo de xisto dos EUA já fica inviabilizado. Grandes empresas endividadas dos EUA podem não ter como pagar as dívidas e quebrarem, como os bancos em 2008. No Brasil, a exploração do Pré-Sal ainda é viável, mas Petrobras, sob direção dos vende-pátria, decidiu desfazer-se de tudo e concentrar-se apenas na produção de petróleo, até vendendo termelétricas. Que mico!

A confusão está armada e é fotografada estrondosa perda das bolsas mundiais hoje. Mas – e sempre tem um “mas”, como dizia Plínio Marcos – a situação não se repete. Em 2008 as taxas de juros eram mais altas. O quantitative easing foi usado às largas e as taxas de juros pouco passa de 1% nos EUA, Europa e Japão. A presente crise replicará 2008, quiçá menos acentuada. O fato é que incide sobre uma realidade de crise econômica, com o crescimento do PIB já deprimido e de profundas consequências sociais.

No Brasil também há a singularidade que difere a presente situação de todas as anteriores: a baixa taxa de juros SELIC hoje e a inflação baixa. O BC tem margem para baixar os juros ainda mais dos 3,5% atuais. Isso diminui o aperto fiscal do Estado, com a desvalorização do serviço da dívida interna. Podia ser uma boa nova para algum governo minimamente interessado na economia nacional, induzindo pesadamente investimentos públicos, notadamente na infraestrutura, para fazer rodar os investimentos privados e a economia. Repare-se que até mesmo o governo Lula, com Meirelles na Economia, aumentou as taxas de juros na crise de 2008.

Entretanto, a turma da bufunfa financeira apátrida já disse: o Brasil será um entreposto para a valorização do capital mundial (vide meu artigo anterior). Nada de interesse nacional.

Enfim, cada crise é singular. Cedo ainda para avaliar todas as possíveis consequências da atual. Mas ela será grave e vai deixar o mundo muito pior.

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