Wadson Ribeiro, pré-candidato a prefeito de BH e presidente do PCdoB em Minas Gerais

Os reflexos da pandemia para o Brasil e o mundo trazem um conjunto de novas e velhas questões sociais que necessitam serem mais bem compreendidas. O papel fundamental das políticas públicas e de uma rede de proteção social para as populações mais carentes é uma delas. Contudo, é a falta de trabalho numa economia global claudicante e a completa precarização, como é o caso dos entregadores de aplicativos, são postas a olhos nus na crise do capitalismo exposta pela pandemia.

Por Wadson Ribeiro*

Invisibilidade dos entregadores de aplicativos se transforma em luta. No Brasil, cuja economia vinha demonstrando sinais de estagnação mesmo antes da pandemia, 13, 5 milhões de pessoas foram afastadas do trabalho em função do distanciamento social. Destas, 33,6% são de trabalhadores domésticos sem carteira assinada. A taxa de desemprego subiu para 12,9%, sendo que 17,9 milhões de pessoas não procuraram trabalho em função da pandemia ou por simplesmente não existir postos de trabalho. Além disso, 30,2 milhões de brasileiros viram suas rendas diminuírem com a Covid-19. Atualmente, o Brasil tem algo em torno de 85, 9 milhões de pessoas sem ocupação. Esses dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE divulgada esta semana.

Não restam dúvidas que um dos maiores desafios no pós-pandemia será o de reconstruir a economia nacional. Para isso é preciso, além de um nítido projeto de desenvolvimento nacional em que o papel do Estado seja algo preponderante enquanto indutor desse desenvolvimento, garantir a curto prazo um ambiente em que os brasileiros possam ter trabalho e renda de forma digna. A forte presença de uma visão escravocrata no Brasil, nos empurra para a naturalização da completa perda de direitos trabalhistas e de trabalhos que se realizam em condições altamente estafantes e com baixa remuneração. Na pandemia, além dos profissionais de saúde que estão no fronte desse combate e não podem se isolar, a maioria da população que não pode praticar o distanciamento social é de baixa renda e possui trabalhos precários e sem direitos, como é o caso dos entregadores por aplicativos.

O alto índice de desemprego no Brasil e, de forma especial, entre a juventude, aliada a falta de acesso à educação, pois cerca de 20% dos jovens entre 15 e 29 anos não trabalham nem estudam, submete esses jovens à entrada precoce no mercado de tralho e em condições precárias. Antes da pandemia, 51% desses entregadores recebiam mais de dois salários mínimos, hoje apenas 26% recebem isso. Os aplicativos contam com esse exército de mão de obra ociosa no Brasil para tornar as condições de trabalho desses jovens algo análogo à escravidão. Não têm carteira assinada, não têm férias, 13° salário, fundo de garantia, seguro desemprego, sem vale-transporte, sem ticket alimentação, aliás, dão nome a uma nova relação de trabalho, a chamada uberização do trabalho. Sem direito algum.

A paralisação de ontem (01) dos entregadores por aplicativos em todo o Brasil, reivindica questões básicas como segurança, equipamentos de proteção individual contra o Covid-19, direito à alimentação, fim dos bloqueios de chamadas por parte das empresas, enfim, esses meninos e meninas que deveriam estar estudando e trabalhando em condições descentes, só pedem o direito à vida, à dignidade e ao pão de cada dia.

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