Vanessa: Continuamos com a ideologia de construir uma sociedade melhor

A senadora do PCdoB pelo estado do Amazonas, Vanessa Grazziotin, que é líder do Partido no Senado e Procuradora da Mulher na Casa concedeu entrevistada publicada, nesta quinta-feira (19), no portal Contra Ponto 9. Vanessa respondeu perguntas sobre a história de lutas do seu partido no estado, falou das conquistas que obteve como atuante senadora e comentou sobre o histórico da política-eleitoral.

A senadora citou parceria e benfeitorias do governo Lula e Dilma ao seu estado e do projeto eleitoral do PCdoB que lançou pela terceira vez uma mulher como pré-candidata à Presidência da República, a gaúcha Manuela D’Ávila.

Sobre o projeto eleitoral do PCdoB, Vanessa ressaltou que o projeto nacional é eleger uma bancada maior de deputados federais, mas que no Amazonas a prioridade é reelegê-la senadora.

A senadora adiantou ao portal que o PCdoB ainda não tem um nome para a disputa ao governo do Amazonas, “mas não descartamos a possibilidade de apresentar um para o governo. Porque queremos participar das eleições majoritárias com a minha candidatura ao Senado”.

Vanessa ressalta que trabalha para o coletivo e que não se vê fora da política, estando com mandato ou não. “Não importa onde eu esteja, jamais deixarei de fazer política”.

Sobre o PCdoB, a senadora amazonense disse que continua com “a mesma ideologia e trabalhando firme para mudar e construir uma sociedade melhor.”

Leia a íntegra abaixo:

Entrevista com a senadora Vanessa Grazziotin

O PCdoB entre os anos de 1980 e 1986 assumiu um papel de destaque na política amazonense. Uma geração de líderes estudantis que se diversificou para todos os lados nos anos seguintes. Quais suas melhores lembranças deste período?

Nosso partido perdeu o registro durante o Golpe Militar e, em 1985, foi quando reconquistamos a nossa legalidade. Antes de 85, nós atuávamos, enquanto força política, dentro do MDB até nossa legalidade, elegendo o vereador Antônio Lira Neto, eleito pelo MDB mas era do PCdoB. Elegemos o deputado estadual João Pedro. E a partir de 85, então, começamos a atuar com identidade própria, porque conquistamos a legalidade e, naquele período, éramos, na grande maioria estudantes, operários do distrito ou funcionários públicos. Era um momento da consolidação da redemocratização do país e começamos a nos firmar. Tenho lembranças muito boas e ao mesmo tempo muito difíceis. Primeiro, porque eu era muito jovem. Fui eleita vereadora em 1988, mas antes disso já tinha sido candidata a deputada estadual em 1986. Eu não teria um fato, mas vários porque tudo representa um conjunto. Foi um momento importante da luta em favor da democracia e, de fato, o PCdoB, aqui, teve um protagonismo significativo. Em 1985, lutamos pelas Diretas, Já! Lembro que, nesse período, íamos com as nossas bandeiras para os comícios e aí vinha o Tancredo Neves, o Ulysses Guimarães, o Dante de Oliveira, fazendo atos no Brasil inteiro e aqui em Manaus também. Íamos com as nossas bandeiras e o Gilberto Mestrinho, que era o governador, não permitia. Então era uma confusão. E eu, na época, era apenas uma militante do movimento estudantil, dos trabalhadores da educação e nunca esqueço que em uma das reuniões do comitê de organização pelas Diretas, Já! o Gilberto Mestrinho, um dia, falou para o pessoal da direção do partido “digam para a Vanessa não me vaiar”, porque segundo ele, eu ia para a frente com a bandeira apenas para vaiá-lo. Tem muitos episódios dessa ordem.

Amazonino era o prefeito biônico nas manifestações repressivas de setembro de 1983. Foi atacado como o maior corrupto nos anos seguintes pela esquerda local. O que significa o Amazonino para a política amazonense?

Temos algumas experiências aqui de governantes longevos no nosso Estado. Assim foi com o Amazonino, que está pela quarta vez no governo, Eduardo Braga que já foi duas vezes e ainda é bem forte no cenário político, o próprio Gilberto Mestrinho foi caçado e depois voltou com mais dois mandatos. E, de fato, o Amazonino, não somente no Amazonas mas no Brasil inteiro e por razões objetivas e concretas, foi visto como o “Maluf do Norte”. Era um pouco assim. Com o passar do tempo, e principalmente com essa crise institucional que vivemos na política brasileira, ele trabalha muito para recuperar sua imagem. Não acompanho muito de perto a administração dele, não tenho como expressar juízo de valor em relação a ele, hoje, porque eu não o acompanho. Quando eu atuava mais no âmbito estadual e municipal, é óbvio que eu tinha mais condições de falar, mas o método (de administrar), as heranças que ele deixa sobre isso, não são positivas. Percebo que ele está querendo mudar sua imagem política hoje.

O PCdoB diz usar a autocrítica como método. Onde o partido – tática ou estrategicamente – errou gravemente nas últimas quatro décadas aqui no Amazonas?

Nós fazemos a autocrítica, mas não vejo que temos cometido erros graves que tenha colocado a nossa organização em cheque. Pelo contrário, eu acho que a grande marca de atuação do partido é a coerência. Isso é um patrimônio. A coerência e a firmeza na nossa ideologia e nos nossos princípios.

Seu mandato encerra este ano. Quais as três maiores conquistas obtidas com sua ajuda para o nosso Estado, em 7 anos como senadora?

Eu poderia te falar de muitas. A questão da prorrogação da Zona Franca, eu tenho orgulho muito grande disso porque eu sei, é claro que não fui a responsável única porque é uma luta coletiva e nem tem como ser individual como muitos falam, do papel que eu cumpri desde à primeira hora junto com o presidente Lula. O Partido do Trabalhadores, quando ainda não estava no poder, a bancada e não o partido em si, a gente tinha um relacionamento muito difícil quando a questão era Zona Franca de Manaus. E com o presidente Lula, eu tive a possibilidade de dialogar. Dali, então, vi que era uma vitória na qual tínhamos que nos orgulhar e reconhecer em que Governo nós tivemos essa possibilidade de prorrogar a Zona Franca. E por quê eu digo isso? Porque a Zona Franca ainda é o centro da nossa economia. Segunda coisa: eu tenho muito orgulho de ter participado também do estabelecimento de uma política de valorização do salário mínimo e dos avanços nas conquistas dos trabalhadores que, infelizmente, estamos vendo serem jogadas ao ralo, recuando, com o apoio de muitos parlamentares. É muito triste. Estamos numa luta de resistência e que a gente em alguns aspectos não temos conseguido. Por exemplo, a reforma trabalhista foi o maior absurdo que já aconteceu. Semana passada, me dediquei a uma decisão do Tribunal de Contas da União, que atinge ao Amazonas e que tão logo será replicada pelos Estados e municípios, que obriga a todos os órgãos federais a se adaptarem à nova legislação trabalhista, refazer os contratos com as empresas terceirizadas, porque não vai mais haver pagamento em dobro para o trabalhador num dia de feriado, não vai haver o adicional noturno. E, de ações mais individualizadas, eu posso dizer sobre a exploração do gás na Amazônia. Disso eu não tenho dúvida nenhuma. Se entrou gente, entrou depois. Porque a briga para garantir a concessão fomos nós quem compramos. Eu, no meu mandato, junto com o PCdoB. Além das várias vezes que conseguimos avançar no quesito da mulher, do tratamento à saúde, no combate à violência. Muitos dos projetos, ou são de minha autoria ou eu relatei e trabalhei.

Existe alguma humilhação ou sentimento menor em recuar, disputando uma vaga para deputada federal ao invés de tentar o Senado? O que acreditas que vai acontecer com o seu futuro eleitoral?

Sou candidata à reeleição e estou com muita confiança nisso. Muita! Estou extremamente otimista. Por uma série de fatores e não somente pelo sentimento, mas por tudo que eu vejo, converso, discuto. Sei que a minha candidatura é extremamente viável. Acho que eu represento o outro lado da política, do que não concorda com quem está no poder. Acho que as pessoas vão ter a possibilidade de enxergar isso. Fui alguém que, tenho certeza absoluta, nunca traí a confiança da população. Sempre fui eleita com um objetivo e o persegui. Eu tive a coragem de ficar sozinha, mas sabendo que estava do lado certo quando defendi a presidente Dilma e fui contra a sua saída. Eu tinha a convicção plena e absoluta de que o que estava acontecendo ali não era apenas a retirada de uma mulher que foi eleita, mas uma mudança para que isso tudo que está sendo aprovado fosse viabilizado. Ou seja, tirar, mudar quem está no poder para viabilizar a retirada do direito dos trabalhadores, a reforma previdenciária, a privatização da Eletrobras, a privatização da Petrobras. Eles inventaram um crime e hoje a história está mostrando. Tiveram que inventar um crime contra uma pessoa, não por não gostar dela mas porque queriam mudar a política, projetos, para abrir caminhos para essas mudanças da reforma trabalhista que com o Governo Dilma isso não aconteceria, como não aconteceu no governo do Lula. Tanto é que quem está no poder, comprovadamente, recebeu propina.

Existem nomes citados pela mídia e por políticos como prováveis candidatos ao Governo (Amazonino, Omar, David Almeida, Rebecca Garcia, Wilson Lima, Praciano, dentre outros). Uma mudança de estilo e de melhores práticas de gestão podem ser encontradas em alguns destes nomes que citamos ou não há boas opções?

Acho que eu não teria como rapidamente fazer uma avaliação de cada um deles. Agora, do nosso lado, nós estamos trabalhando. Tudo indica que vamos formar uma aliança entre PCdoB, PT, PSB, Podemos e vários outros partidos que, como nós, temos uma visão diferente da política brasileira, que combata isso que vem acontecendo no Brasil. Nossa linha de unidade deve ser essa, nós que defendemos os programas sociais, nós que queremos o desenvolvimento com inclusão, nós que vamos nos apresentar como uma chapa. Eu defendo que tenhamos um único candidato ao governo, conseguindo efetivar nossa unidade com muita força. Vejo nas movimentações dos últimos dias que têm pessoas batendo muito no deputado David Almeida, né? Certamente são seus adversários. E como tem aquele ditado que ninguém bate em cachorro morto, acho que eles estão muito preocupados com a candidatura do David. É isso. Nós, do PCdoB, ainda não temos um nome mas não descartamos a possibilidade de apresentar um para o governo. Porque queremos participar das eleições majoritárias com a minha candidatura ao Senado.

O partido já teve Marcelo Ramos e Alessandra Campêlo nesta nova geração. O que aconteceu internamente para eles saírem do partido? O que o PCdoB tem de ruim para que eles desistissem?

No partido não tem nada ruim. O problema não foi com o partido, mas individual. A única coisa que eu lamento é quando as pessoas saem do partido num momento em que estejam o representando institucionalmente. Porque, no partido, a gente tem uma visão, um trabalho coletivo muito forte nas conquistas dos mandatos, tanto que os últimos mandatos na nossa Assembleia Legislativa foram conquistados sozinhos, sem coligação. Então, o mandato é coletivo, a pessoa quando se elegeu, não foi com o voto dela, mas com o coletivo partidário. Logo, o problema não está no partido, mas nas pessoas. Continuamos com a mesma ideologia e trabalhando firme para mudar e construir uma sociedade melhor.

Manuela D’Ávila é um bom produto eleitoral? Qual a meta, em número de vagas para deputados federais, a ser obtida pelo partido, considerando a cláusula de barreira?

Produto não porque ela não é mercadoria. Ela é uma excelente candidata. É uma jovem mulher, mãe, foi deputada federal por dois mandatos, é deputada estadual, foi candidata majoritária à Prefeitura de Porto Alegre por duas vezes. É uma pessoa que, apesar de jovem, é muito amadurecida politicamente. Quando definimos pelo nome de Manuela, tinha vários outros nomes até mais experientes, como o do Aldo (Rabelo), da Jandira (Feghali), meu próprio nome, do Orlando Silva… E por que optamos por ela? Pelas características que ela tem. Ela dialoga com o jovem e quando entramos numa eleição não é para eleger uma pessoa, mas uma ideia, um programa. A maioria dos candidatos procura se desvincular da ideia do programa e se apresentam como um produto que toca no sentimento das pessoas. Nós, não. Nós estamos apresentando a Manuela e ela representa as nossas ideias na luta pela dignidade do povo, pelas reformas profundas que precisam ser feitas e não são. E temos uma perspectiva da eleição de 15 a 20 deputados federais no Brasil.

O que faria profissionalmente sem um mandato popular em 2019?

Eu sou farmacêutica, mas eu não me vejo fora da política. Isso é a única coisa que eu posso dizer: não me vejo fora da política, com mandato ou sem mandato. Comecei, aliás, a fazer sem. Tenho uma diferença bastante significativa de muita gente que está na política. Não comecei a fazê-la pensando numa carreira política individual e quem me acompanha desde jovem sabe disso e quem me acompanha de perto sabe ainda mais. Então, para mim ser vereadora foi fruto de uma decisão coletiva. Quando eu fui vereadora, me perguntavam “mas a senhora vai ser deputada estadual, federal?”, eu dizia não saber. E seguiam questionando se eu não estava trabalhando para isso e eu respondia “não, trabalho como vereadora para a população e tudo aquilo que eu vir a ser, futuramente, será fruto do trabalho que eu desenvolvo hoje”. Nunca tracei nada. Quando a população me confia uma determinada tarefa, vou a fundo nela. Essa é a minha diferença, eu trabalho para o coletivo. Jamais, não importa onde eu esteja, jamais deixarei de fazer política.