Uruguaios param contra corte nos salários e privatização do porto
A luta em defesa do emprego, dos salários, dos direitos e do Estado uniu os uruguaios nesta quinta-feira (15) contra a política de desmonte, privatização e desnacionalização aplicada com afinco pelo governo de Luis Lacalle Pou.
Com a palavra de ordem “Com Artigas, pelas grandes maiorias nacionais. Que os mais infelizes sejam os mais privilegiados”, milhares de manifestantes convocados pela central sindical PIT-CNT recordaram seu herói nacional e levantaram a voz, faixas e cartazes pelo desenvolvimento com justiça social.
Unindo as mais diferentes cores e partidos, disseram não ao corte de salários dos trabalhadores públicos e privados, e um basta à entrega da Administração Nacional de Telecomunicações (ANTEL), do porto de Montevidéu e da Administração de Combustíveis, Álcool e Cimento (ANCAP) para os cartéis transnacionais.
A agenda sindical foi uma demonstração de forças em relação ao referendo que será convocado nos primeiros meses de 2022 propondo a eliminação de 135 artigos dos 500 incluído no pacote de normas conhecido como Lei de Urgente Consideração (LUC). Promulgada por Lacalle em julho do ano passado, a norma neoliberal afronta direitos e liberdades, legislando abertamente em favor dos setores mais privilegiados, denuncia a Frente Ampla (FA).
“Isso é uma greve política, dizem alguns. Vamos levantar a cabeça, essa mobilização não é só sindical, mas de todos os setores populares que, ao apresentarem propostas de trabalho, salário, previdência, papel das estatais, da educação, sim, digamos bem claro, é política. Porque a melhor política são as pessoas atuando na vida nacional”, afirmou Marcelo Abdala, secretário-geral da PIT-CNT.
Membro do secretariado da central, Vanessa Pisano ressaltou que a empresa pública responsável pelo porto atualmente deixou de investir e hoje, “sem qualquer explicação razoável, enfrenta o maior enfraquecimento”. “Nosso porto, que nos deu origem e independência como nação, hoje está doado por 60 anos”, denunciou a dirigente, condenando o “acordo” do governo com a multinacional belga Katoen Natie. “Saiba você, presidente, que o porto não se vende, o porto se defende”, enfatizou.
“É um dia importante porque os trabalhadores recuperam sua estatura de atores sociais”, defendeu o ex-presidente José Mujica, frisando que se trata de uma mobilização política “no sentido profundo do termo”. “Os trabalhadores estão se manifestando porque precisam de trabalho e lutam para melhorar seu salário quando ele é reduzido. É político porque tem a ver com a distribuição do bolo na sociedade”, acrescentou.
A Federação de Funcionários da Saúde Pública (FFSP) e a Federação Uruguaia de Saúde paralisaram para exigir do governo uma equiparação salarial para os servidores públicos que “evite a permanente fuga de profissionais para o setor privado”; “condições de trabalho e de relações laborais”. Além disso, reivindicaram a reforma do trabalho médico, com uma dotação orçamentária mínima, e garantias nos sistemas de urgência e emergência. Devido às atuais circunstâncias, anestesistas e atividades ligadas à oxigenação, bastante acionadas com a pandemia, mantiveram seu ritmo normal.
Participando da greve de 24 horas, a Federação Uruguaia do Magistério – Funcionários da Educação Primária e a Federação Nacional de Professores da Educação Secundária se somaram frisando que “esta é uma crise sanitária, porém também econômica e social e exigimos que o governo se faça responsável. Porque as consequências quem as segue pagando é o povo, com uma profunda desigualdade”. “Não nos acostumamos a que a dor seja naturalizada, nem a desigualdade nem a fome”, enfatizou.
Entre as propostas do setor está a aplicação do Orçamento de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) para a Administração Nacional de Educação Pública (ANEP) e a Universidade da República, assegurar a alimentação das crianças por meio dos restaurantes escolares; garantir a continuidade do Programa Professores Comunitários e trabalhar para que seja estendido a todas as escolas do país.
Os trabalhadores do setor financeiro público paralisaram em defesa do emprego, do salário e da negociação coletiva, por empresas públicas fortes a serviço do Uruguai e de seu povo e por uma Previdência Social justa, solidária e eficiente.
Produtores rurais a cavalo repartiram legumes e verduras à população: “É inadmissível a fome em um país com tanta produtividade (Vanni Gonzo)
Como frisou Marcelo Abdala, “é intolerável que em um país como o nosso, nesta pátria de Artigas que pode alimentar 20 vezes mais do que a sua população, um só oriental passe fome”.
Um dos elementos de destaque da marcha esteve relacionado ao Instituto Nacional de Colonização (INC), com muitos assentados e trabalhadores rurais chegando a cavalo para manifestar sua frontal oposição aos inúmeros atropelos do governo.
“Nossos adversários são os mesmos: a especulação financeira, o interesse estrangeiro pelos nossos recursos e a intermediação, astuta intencionalidade, de quem pede o desmantelamento de um Estado protetor e presente”, afirmou Soledad Amaya Correa, representante de assentados e trabalhadores rurais.
Nossos inimigos, frisou Correa, “são os mesmos que se locupletam com os benefícios fiscais e têm leis que os protegem do pagamento de impostos por suas grandes extensões de terra, são os que reprimem os trabalhadores organizados, promovem a redução dos salários dos trabalhadores do campo e reivindicam o desaparecimento do Instituto Nacional de Colonização”. “São os genuínos representantes da oligarquia nacional e do agronegócio”, condenou.
“Viemos denunciar que é impossível promover um modelo de desenvolvimento sustentável, amigo do meio ambiente e comprometido com as gerações futuras sem o INC. Como pensar a soberania, em seu sentido mais amplo, sem termos o Estado como parceiro? Os abutres que rondam são os mesmos que traíram os ideais de Artigas ao longo da história”, destacou a dirigente rural.