Uruguai: greve geral “contra privatização e corte de direitos”
“Contra o ajuste regressivo e a privatização das empresas”, milhares de trabalhadores, estudantes, aposentados e pensionistas responderam na última quinta-feira (7) à convocação do Plenário Intersindical dos Trabalhadores – Convenção Nacional dos Trabalhadores (PIT-CNT), única central do Uruguai, com uma greve geral de quatro horas, que incluiu uma marcha em direção ao Congresso Nacional.
O presidente da PIT-CNT, Marcelo Abdala, esclareceu que a insatisfação expressa nas ruas é um retrato do rechaço às políticas recessivas e de corte de direitos implementadas pelo governo neoliberal do presidente Luis Lacalle Pou. “Estamos diante de um quadro de políticas restritivas que atingem a grande maioria. Nos encontramos diante de pensões mínimas que não crescem, um orçamento habitacional que foi enormemente reduzido, medidas anti-industriais, medidas que não garantem obras públicas”, afirmou.
Neste sentido, assinalou, a multidão expressou o seu rechaço nas ruas da capital desde às 9 horas da manhã, na Praça Independência, no centro de Montevidéu, de onde desceu erguendo faixas, cantando palavras de ordem e tocando tambores a avenida a 18 de Julho até o Palácio Legislativo. Todos estavam ali, para “exigir um basta à política de fome e carestia e por salário e emprego de qualidade, porque somos nós que movemos a roda”.
Retrocesso
Medidas como o projeto de lei de negociação coletiva reduzem os direitos dos trabalhadores e representa um retrocesso inaceitável, exemplificou o presidente da central. “A reforma previdenciária aumenta a idade de aposentadoria, reduz as pensões e também generaliza as Administradoras de Caixas de Poupança Previdenciária (AFAP), para que haja também uma redução de direitos”, explicou. Como se não bastasse, traz o risco de privatização e desnacionalização das empresas estatais de abastecimento de água (OSE) e telefonia (Antel).
De acordo com Abdala é inaceitável que ao mesmo tempo em que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça, ele se mantenha concentrado nas mãos dos “setores que recebem as vantagens das exportações – com preços elevados das matérias-primas – que vêm acumulando riquezas muito importantes”. O fato é que 37% do novo emprego gerado é de salários ínfimos e ao Plano Básico de Apoio à Cidadania (ABC), que corresponde a um conjunto de medidas para atender de forma emergencial o emprego, a nutrição e a saúde. Os números são tão insuficientes, citou, que na capital uruguaia o Plano ABC Trabalhista teve seu segundo sorteio em 24 de junho, sendo disponibilizados somente 2.667 empregos temporários.
“Como não vamos sair às ruas se ao mesmo tempo em que a atividade econômica cresce a passos agigantados e os depósitos do banco nacional aumentam em bilhões de dólares, os depósitos dos uruguaios no exterior crescem em mais de US$ 9 bilhões, o PIB cresce, mas a participação da massa salarial em relação ao produto cai substancialmente”, questionou o secretário-geral da Confederação das Organizações de Funcionários do Estado (Cofe) e vice-presidente da PIT-CNT, José Lorenzo López.
Para a dirigente da Federação Uruguaia de Empregados do Comércio (Fuecys) e do secretariado executivo da central, Abigaíl Puig, “a luta é em defesa de direitos e contra o ajuste regressivo de uma política que promove a privatização das empresas públicas, em defesa de empregos de qualidade e da alimentação de milhares de compatriotas”. “Não era verdade que o setor privado nos tiraria da crise. Ao contrário, é o mesmo setor privado que se reestrutura, que não negocia e que deposita bilhões de dólares no exterior. Por isso nos mobilizamos pela negociação coletiva, como ferramenta de diálogo social e distribuição de riqueza”, acrescentou.
Em defesa das empresas públicas
O presidente do Sindicato Único das Telecomunicações (Sutel) e também do secretariado da central, Gabriel Molina, enfatizou que “as empresas públicas são o aparelho produtivo que o Estado tem”. “São elas que, através do investimento
público, geram empregos. São as que na refinaria La Teja geraram tantas fontes de trabalho, onde centenas e centenas de trabalhadores da construção e metal La Teja encheu-se de trabalhadores. Em 2008, com o investimento em fibra ótica, centenas e centenas de pessoas puderam trabalhar em todo o país. Quem gerou esses empregos são as nossas empresas públicas E, hoje, querem destruí-las”, condenou.
Molina protestou contra a atual política de Estado que visa “destruir permanentemente” as empresas públicas. “Hoje em dia falta pessoal e o governo não emprega ninguém, o que cria sérias dificuldades na prestação de serviços. Soma-se a isso o fato de que cada empresa pública está sendo despojada de seu importante nome empresarial, seu desenvolvimento, crescimento e negócios rentáveis. O desmantelamento de empresas fundamentais para o desenvolvimento do país não pode continuar a ser permitido e que os negócios privados continuem a ser privilegiados. Os Correios, a Administração Ferroviário do Estado (AFE), a Administração Nacional de Álcool e Combustíveis (ANCAP) e a Administração Nacional de Usinas e Transmissões Elétricas (UTE) estão sendo desmanteladas, favorecendo grandes empresas privadas e punindo o cidadão comum. Qual é a razão para que os US$ 850 milhões investidos pela ANTEL sejam agora utilizados por canais privados e operadoras de cabo? Essas perguntas têm resposta: querem privatizá-los, querem tirá-los do Estado e querem entregar todos os benefícios às multinacionais”. “Esse país é aquele que o movimento sindical vai cercar, porque é o guarda-chuva dos mais fracos. Vamos agir em legítima defesa contra a escravização”, enfatizou.