Carolina Maria de Jesus

A escritora Carolina Maria de Jesus foi homenageada, na quinta-feira (25), com o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Carolina Maria de Jesus, mulher negra e moradora de favela, de pouca instrução, se destacou como uma das escritoras mais lidas do país e foi traduzida para 16 idiomas.

Até a sua morte, em 1977, relatou sua vida e de seus personagens como “o grito patético, como a voz clamante do deserto, sofrendo por milhares de seres anônimos, cruelmente agredidos e apedrejados”, como afirmou o professor Eduardo de Oliveira, poeta e fundador do Congresso Nacional Afro-Brasileiro, na apresentação do seu livro “Pedaços da Fome”, publicado pela Editora Átila em 1963.

A voz da catadora de papel, sua história de sofrimentos, luta e superação estão presentes em seu livro-diário, poesias e em seu livro mais famoso, o “Quarto de Despejo” (1960), que vendeu milhões de exemplares e a fez atrair multidões de admiradores no Brasil e no mundo.

Carolina de Jesus começou a escrever ainda criança, em Sacramento, Minas Gerais, apesar de só ter cursado dois anos de escola. Ela registrava tudo que lhe acontecia em cadernos e papéis esparsos, até encontrar uma caderneta entre o lixo, quando já morava na favela do Canindé, em São Paulo, e criava sozinha seus três filhos. Na caderneta, passou a registrar o seu cotidiano na favela.

Foi na favela que conheceu o jornalista Audálio Dantas, que havia ido lá fazer uma matéria. Ao conhecer Carolina e seus escritos, o jornalista a ajudou a publicar sua obra. Primeiro com trechos do diário, publicados no jornal “A Noite”, e depois na publicação do primeiro livro.

Conforme a sua biografia, escrita por Tom Faria, apesar do pouco estudo a paixão de Carolina pela leitura começou desde que aprendeu a ler e escrever, lendo livros emprestados de uma vizinha, ainda em Minas e, mais tarde, quando trabalhou como empregada doméstica na casa do médico Dr. Euryclides de Jesus Zerbini. Lá, devorava a biblioteca da casa nos momentos de folga.

Para a escritora Conceição Evaristo, que teve sua trajetória inspirada por Carolina, “ela abre essa possibilidade dessa autoria nascer de dentro, de quem vive, e não somente de quem contempla”.

Apesar de ter ganhado muito dinheiro com o sucesso de “Quarto de Despejo”, que também foi adaptado como peça teatral por Edi Lima, e virou filme produzido pela TV Alemã, Carolina de Jesus não soube administrar os seus ganhos, e voltou a ser catadora de papel para sobreviver, até a sua morte, o que reflete a nossa sociedade preconceituosa, excludente e hipócrita tão bem revelada em seus escritos.