Além da UE, Olaf Scholz, ministro alemão das Finanças, também condenou sanções dos EUA como “severa intervenção nas questões alemães e europeias”. (Reuters/Fabrizio Bensch)

A União Europeia declarou que “se opõe por princípio à imposição de sanções contra empresas europeias envolvidas em atividades legais”, em reação à inclusão, na lei de financiamento do Pentágono para o próximo ano e já assinada por Trump, de sanções contra os gasodutos em construção que transportarão gás russo para a Europa.

Como registrou a Deutsche Welle, a UE “denuncia veementemente a interferência dos EUA em sua política energética”, com a Comissão Europeia “atualmente analisando as possíveis repercussões das sanções dos EUA”.

“O objetivo da Comissão sempre foi garantir que o Nord Stream 2 funcione de maneira transparente, com um nível adequado de supervisão regulatória”, enfatizou o porta-voz.

Também o ministro alemão das Finanças, Olaf Scholz, rechaçou as novas sanções norte-americanas, como uma “severa intervenção nas questões alemãs e europeias”.

A lei extraterritorial visa impedir a conclusão dos gasodutos Nord Stream 2 (Rússia-Alemanha, sob o Mar Báltico) e Turkstream (Rússia-Turquia, sob o Mar Negro), na tentativa de impor o mais caro gás liquefeito norte-americano, oriundo do fracking.

“O governo federal rejeita essas sanções extraterritoriais”, afirmou no sábado o porta-voz Ulrike Demmer. Ele acrescentou que as sanções “afetam empresas alemãs e europeias” e constituem “interferência em nossos assuntos domésticos”.

Na quinta-feira(19), o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, havia sublinhado que a “a política europeia de energia é decidida na Europa, não nos Estados Unidos”. “Nós rejeitamos intervenções de fora e sanções extraterritoriais”, acrescentou.

Quase pronto, o Nord Stream 2 irá duplicar o fornecimento direto de gás natural russo para a Europa Ocidental através da Alemanha, principal beneficiária do projeto.

A empresa suíço-holandesa que vem realizando o assentamento dos dutos do Nord Stream 2 no leito marinho, a AllSeas, anunciou a suspensão dos trabalhos e encaminhou aos EUA pedido de esclarecimento sobre as sanções.

Por sua vez o presidente turco Recip Erdogan chamou as sanções contra o Turkstream de “violação completa de nossos direitos” e asseverou que Ancara irá retaliar tal medida. A declaração foi feita durante cúpula na Malásia que reuniu, ainda, a Indonésia, o Irã e o Qatar.

O Turkstream foi criado como uma alternativa ao gasoduto South Stream, bloqueado pela Bulgária em 2014, sob pressão dos EUA.

A entrada em operação do Turkstream, com capacidade para fornecer 31,5 bilhões anuais de metros cúbicos de gás russo, está marcada para o dia 8 de janeiro do próximo ano, em cerimônia que contará com a presença do presidente russo Vladimir Putin. A lei de orçamento do Pentágono também sanciona a Turquia por adquirir o sistema de defesa russo S-400.

Em comunicado sobre as sanções dos EUA contra o Nord Stream 2, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia registrou que Washington cruzou “uma linha histórica na política externa, começando a impor sanções […] contra seus próprios aliados” na questão do gás.

A diplomacia russa observa que o desejo dos EUA de “prejudicar as exportações russas” não é o mais importante no caso. “Não menos óbvio aqui é o desejo de impor à Europa o gás liquefeito dos EUA, que é mais caro do que o suprimento por gasodutos da Rússia”, acrescenta, explicando que com essa estratégia Washington “busca retardar o desenvolvimento” da economia europeia e “minar sua capacidade de competir com os EUA nos mercados mundiais”.

A lei – cinicamente chamada de ‘Proteção da Segurança Energética da Europa’ – não visa “ajudar os europeus a receber suprimentos de energia continuamente e a preços acessíveis, mas, inversamente, privá-los de fontes garantidas de suprimentos originários da Rússia”, salienta a chancelaria russa. Como resultado, os europeus estão perdendo em todos os aspectos, enfatiza a nota.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia assinala que, para atingir esses objetivos, não são as empresas russas que vão ser sancionadas, “mas empresas europeias que participam da instalação dos tubos dos dutos Nord Stream 2 e Turkish Stream”.

“Em Washington, eles decidiram que, por uma questão de ambições geopolíticas e lucro comercial, não devem sentir pena de ninguém, nem mesmo de seus parceiros mais próximos da Otan”, afirmou o comunicado.

A Rússia tem reiterado que o Nord Stream 2 é um projeto exclusivamente comercial e não político e não implicava em uma suspensão do trânsito de gás russo para a UE através da Ucrânia.

Isso acaba de ser comprovado, a partir do anúncio, de parte das estatais do gás Gazprom (russa) e Naftogaz (ucraniana), de acordo de cinco anos de duração para fornecimento de gás russo aos europeus através do ramal ucraniano do sistema de gasodutos que liga os campos de gás russos aos países europeus.

A Gazprom também aceitou pagar à Naftogaz US$ 2,9 bilhões, encerrando uma disputa comercial levada a uma corte europeia.

Em entrevista ao portal RT, o vice-diretor geral para questões de gás do Fundo Nacional *e Segurança Energética da Rússia, Alexey Grivach, disse que as ações dos EUA são absolutamente ilegais, pois sanções são direcionadas contra pessoas de países terceiros.

Ele observou que os Estados Unidos querem violar a soberania da Europa no campo da determinação da segurança energética e obter uma vantagem injusta na competição pelo mercado europeu.