Donbass é submetido ao pior bombardeio em anos

A Organização pela Segurança e Cooperação da Europa (OSCE) registrou nas últimas 24 horas um enorme aumento das violações de cessar-fogo na linha de separação entre as tropas do regime de Kiev e as repúblicas antifascistas do Donbass (Donestsk e Lugansk) – inclusive com o uso de artilharia de 122 mm -, o que levou suas administrações, nesta sexta-feira (18), à decisão de iniciar imediatamente a evacuação de mulheres, crianças e idosos para a vizinha Rússia

Sirenes de alerta soaram em Donetsk e Lugansk. Diante da ameaça de que Kiev – atiçada pela Casa Branca – inicie um ataque em grande escala ucraniano, os ônibus conduzindo os refugiados já começaram a chegar a Rostov, do outro lado da fronteira.

O Donbass é uma região do leste da Ucrânia há séculos povoada por falantes de russo e que se levantou contra o golpe CIA-neonazis de 2014, após o novo regime perseguir oposicionistas e proibir o uso do idioma russo, e transformar um colaboracionista da ocupação hitlerista e pogromista de judeus, poloneses e soviéticos, Bandera, em patrono da nova ‘Ucrânia da Otan’.

“A situação de segurança no Donbass e ao longo da linha de contato é muito preocupante”, afirmou o representante especial do presidente da OSCE, Mikko Kinnunem, que anunciou para sábado pela manhã a realização de uma reunião do grupo de contato no Donbass.

“Estamos extremamente preocupados que a população civil dessa parte da Ucrânia esteja enfrentando tais sofrimentos, tais riscos”, disse o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Vershinin. “Bombardeios indiscriminados são inaceitáveis e devem ser interrompidos”, acrescentou.

Segundo denunciou o representante da República Popular de Lugansk (LPR) no Grupo de Contato Trilateral, Rodion Miroshnik, “na linha de contato, vemos uma enorme quantidade de artilharia de canhão 122-152 milímetros (calibre) [ucraniana], que pode atingir uma distância de 20-40 quilômetros. Entre a linha de contato e o centro de Donetsk são apenas 7 quilômetros e entre a linha de contato e o centro de Lugansk são 12 quilômetros. Ou seja, se essa artilharia for usada agora, não evitaremos um enorme derramamento de sangue e um grande número de vítimas”, advertiu.

O recrudescimento da violência no leste ucraniano, após dois dias de calmaria em razão da retirada parcial de tropas russas que encerraram exercícios, da fronteira para as bases permanentes, ocorre no dia seguinte em que o presidente Joe Biden voltou a insuflar o conflito, com entrevista em que marcou nova data para a “invasão russa”.

Na quinta-feira, ele também tirou seu secretário de Estado de uma viagem já marcada para ir sabotar, no Conselho de Segurança da ONU, o sétimo aniversário da aprovação da resolução que consagrou os acordos de Minsk para pacificação, onde ele repetiu a conhecida perfomance de Colin Powell, mentindo diante do CS para não deixar o conflito arrefecer e para impedir que o governo de Kiev, que se recusa a cumprir com os Acordos de Minsk e a resolução, fosse ali pressionado a respeitá-los.

Nesse clima, não é de surpreender que – como Moscou cansou de advertir – que “cabeças quentes” em Kiev (uma forma diplomática de se referir aos neonazistas fanáticos e congêneres) -, agora que foram entupidos de armas e treinamento pelos EUA/Otan, hajam se lançado às provocações. Embora a avaliação dos líderes antifascistas do Donbass é de que o que está prestes a ser deflagrado é uma ofensiva final do regime Zelensky para aplastar Donetsk e Lugansk.

O regime de Kiev – que nos últimos dias vem dizendo que não vai cumprir os Acordos de Minsk que assinou – buscou se distanciar da intensa violação do cessar-fogo que a OSCE constatou, com o chefe do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia (NSDC), Alexey Danilov, asseverando que não há ordens para uma “libertação” militar de Donbass.

As tropas ucranianas só abrirão fogo se estiverem “em perigo”, insistiu Danilov. 150 mil soldados ucranianos estão amontoados na linha de contato há meses.

As negações de Kiev de um ataque iminente ocorrem logo depois que Denis Pushilin, chefe da autoproclamada República Popular de Donetsk, disse à TV russa que uma ofensiva total das forças de Kiev poderia ocorrer “a qualquer momento” e descreveu a situação como “crítica”. Questionado se haverá uma guerra, ele respondeu: “Sim. Infelizmente sim.”

Em Moscou, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, se disse alarmado “com os recentes relatos de um forte aumento de bombardeios com o uso de armas proibidas pelos Acordos de Minsk” na linha de contato.

Acordos de Minsk

Lavrov enfatizou que “não há alternativa para a implementação dos Acordos de Minsk em sua totalidade” e se manifestou contra as declarações de Kiev de que “não dialogaria diretamente com Donetsk e Lugansk”, como determinado pelos Acordos de Minsk.

Por sua vez, o presidente russo Vladimir Putin afirmou que “a garantia de que a paz pode ser restaurada vem com a implementação dos acordos de Minsk”. “Tudo o que Kiev precisa fazer é sentar-se à mesa de negociações com representantes do Donbass e concordar com medidas políticas, militares, econômicas e humanitárias para acabar com este conflito. Quanto mais cedo isso acontecer, melhor.”

Uma “desescalada urgente” no Donbass foi pedida pelo presidente francês Emmanuel Macron. “Nós, em primeiro lugar, pedimos a cessação dessas hostilidades e a desescalada urgente e, em segundo lugar, a retomada de negociações construtivas”.