Trump ameaça “fechar” redes sociais após alerta de Fake News
O recém ampliado alerta sobre fake news do Twitter foi disparado, pela primeira vez, por duas tuitadas do presidente Donald Trump, em que este asseverava que o voto pelo correio – permitido na legislação eleitoral norte-americana há anos – é “fraudulento”.
O alerta adicionou na terça-feira uma interrogação azul e a menção “verificar dados”, após as postagens de Trump.
Há duas semanas, diante da premência de combater coisas como a desinformação sobre a pandemia, o Twitter anunciou novas normas expandindo os tipos de mensagens que podem ser sinalizadas como potencialmente “enganosas” ou “controversas“.
As tuitadas que receberam um esfregaço foram:
Primeira, “Não há como a votação pelo correio não ser substancialmente fraudulenta”.
Segunda: “O governador da Califórnia está enviando cédulas para milhões de pessoas. Todo mundo que vive no Estado, não importa quem seja ou como chegou lá, receberá uma. Então os profissionais dirão a essas pessoas, muitas das quais nunca pensaram em votar, como e por quem votar. Será uma eleição fraudulenta”.
Trump, que fez de suas tuitadas um aspecto central de sua encenação como o presidente que “fez a América Grande de Novo”, um tanto prejudicada pelo seu fracasso retumbante e obscurantismo diante da pandemia e condição de recordista mundial em contágios e mortos, ficou furibundo.
Coibido em seu frenesi por mentir e distorcer, o presidente bilionário e ex-apresentador de reality show acusou o Twitter de “interferir” nas eleições de novembro.
“O @Twitter agora está interferindo nas eleições presidenciais de 2020. Eles dizem que minha declaração sobre as cédulas de voto por correio, que levará a corrupção e fraude maciça, está incorreta. O Twitter está […] sufocando completamente a LIBERDADE DE EXPRESSÃO, e eu, como presidente, não permitirei que isso aconteça!”, ameaçou.
O alerta contra fake news orienta os leitores para um link para que “saibam os fatos sobre as cédulas pelo correio”.
Em outra página, está dito que: “Trump faz uma alegação infundada de que as votações por correio levarão a fraudes eleitorais”. O serviço de esclarecimento registra que as alegações “são infundadas segundo a CNN, o Washington Post e outros”. Acrescenta ainda que “especialistas dizem que as cédulas por correio raramente estão associadas a fraudes eleitorais”.
Porta-voz da plataforma social esclareceu que os tuítes de Trump “contêm informações potencialmente enganosas” sobre o processo de votação e foram marcados para “fornecer um contexto adicional sobre a votação por correio”.
“Ao servir ao debate público, nosso objetivo é facilitar a busca de informações confiáveis no Twitter e limitar a disseminação de conteúdo potencialmente prejudicial e enganoso”, disseram o chefe de integridade Yoel Roth e o diretor de política global Nick Pickles, quando a mudança foi anunciada.
À parte os arroubos de Trump, é interessante notar o que o aflige na proposta aventada pelo governador democrata da Califórnia de, em meio da pandemia, intensificar a utilização do mecanismo de votação pelo correio, que já legal e amplamente usado nos EUA.
É quando Trump se refere às cédulas que chegariam às pessoas “muitas das quais nunca pensaram em votar”, e seria isso que consistiria na “fraude eleitoral”. Metade do eleitorado não vota nos EUA e pelo visto Trump considera que, quanto mais gente se dispuser a votar, mais distante fica sua reeleição.
Voltando à carga, Trump ameaçou “regular ou fechar” as redes sociais nesta quarta-feira, após ser pego no pulo, pelo alerta fake news do Twitter, duas vezes em um só dia.
Trump, que quase ‘habita’ o Twitter e ganhou a eleição de 2016 nas redes de fake news, agora diz que os republicanos “sentem que as plataformas de mídia social silenciam totalmente as vozes conservadoras”.
Indo mais longe nas ameaças, Trump disse que ia “regular fortemente, ou fechá-las”, antes que “possamos permitir que isso aconteça”. E ainda insinuou que foram os adversários e, não sua turma, que se deram bem nos porões das redes sociais em 2016.
Mas seu alvoroço sobre a questão também esconde outra necessidade imperiosa de sua campanha à reeleição. Falar de tudo e qualquer coisa, desde que não seja prestar contas ao povo norte-americano pelos 100 mil mortos – mais mortos que os norte-americanos que tombaram no Vietnã e na Coreia -, depois de ter em fevereiro cortado a verba para as epidemias e para a saúde em geral, e de ter ignorado todos os avisos sobre o que estava vindo.