O presidente dos EUA, Donald Trump, intensificou suas medidas de guerra comercial, atacando Brasil, Argentina e França, e asseverou não ter pressa em concluir um acordo comercial “fase um” com a China, mantendo a ameaça de novas tarifas sobre US$ 156 bilhões de bens de consumo chineses a partir de 15 de dezembro.

Na segunda-feira, em um tuíte surpresa, Trump disse que estava revertendo a isenção anteriormente concedida à Argentina e ao Brasil das tarifas impostas às importações de aço e alumínio em 2018, citando uma “desvalorização maciça” de suas moedas que havia prejudicado os agricultores americanos.

Em Londres, em resposta a um repórter sobre a negociação com Pequim, Trump disse “não ter um prazo” e, blefando ou não, garantiu que gostava da ideia de “esperar até depois da eleição [em novembro do próximo ano] para o acordo com a China”.

Comentário que derrubou ações em boa parte dos cassinos globais, com o índice Dow recuando 457 pontos no pior momento do pregão.

A ameaça de Trump foi repetida ao canal CNBC pelo secretário de Comércio Wilbur Ross disse que os EUA iriam em frente com as tarifas se nenhum acordo fosse alcançado com a China até meados deste mês.

A guerra comercial movida por Trump a Pequim, que levou a China a reduzir importações de soja dos EUA, teve como efeito colateral que, de acordo com o Departamento de Agricultura norte-americano, nos nove meses até o final de maio, o Brasil aumentou de 40% para 70% sua parte na venda de soja à China.

Trump também foi para sua torre no Twitter cobrar do Fed que baixe ainda mais as taxas de juros para tornar os EUA “competitivos com outras nações e a manufatura subir”. Ele acrescentou que o dólar está “muito forte em relação às outras [moedas]”.

“O Fed deve baixar as taxas [quase não há inflação] e afrouxar, tornando-nos competitivos com outras nações e a manufatura vai SUBIR! O dólar é muito forte em relação aos outros”, tuitou.

A referência à indústria se deve ao “torpor” que, segundo o Financial Times, desceu sobre a manufatura dos EUA este ano.

O jornal inglês assinalou que a atividade industrial “estagnou em toda a economia dos EUA”, particularmente em “vários estados do Cinturão da Ferrugem”, região que em 2016 foi essencial para a vitória de Trump. O que o FT chamou de “sinal preocupante” para a Casa Branca.

Ele disse que a atividade industrial “estagnou em toda a economia dos EUA”, particularmente em “vários estados de cinturão de ferrugem” que poderiam determinar a candidatura de reeleição de Trump no próximo ano, “em um sinal preocupante para a Casa Branca e suas políticas comerciais”.

Na análise da Bloomberg, “os números mostram que o setor manufatureiro, embora não mais em queda livre, carece de um impulso ascendente em um ambiente de cortes de investimentos corporativos, demanda global fraca e uma guerra comercial EUA-China ainda em curso.”

O movimento contra o Brasil e a Argentina foi imediatamente seguido por uma escalada das medidas de guerra comercial contra a Europa, com a decisão de impor tarifas imediatas de 100% sobre até US$ 2,4 bilhões em bens franceses.

Foi tomada em resposta a um imposto de 3% sobre serviços digitais imposto pela França sobre a receita obtida pelo Google e outras empresas digitais dos EUA a partir de atividades como publicidade direcionada ou execução de um mercado digital.

Em agosto, em resposta a uma ameaça do governo Trump de impor tarifas em retaliação ao imposto, autoridades francesas e norte-americanas chegaram a um acordo de que a França reembolsaria as empresas americanas se acabassem pagando mais impostos do que sob uma proposta que está sendo negociada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A imposição de tarifas contra a França recebeu apoio bipartidário nos EUA. Uma declaração conjunta emitida por Charles Grassley, um republicano, e Ron Wyden, um democrata, principais membros do Comitê de Finanças do Senado, disse que o imposto francês era “irracional, protecionista e discriminatório”.

Em uma coletiva de imprensa ontem, Trump deixou claro que sob sua agenda “América em primeiro lugar” outros países não devem ser capazes de tributar as empresas dos EUA sobre os lucros obtidos em suas operações internacionais.

“Não quero que a França taxe as empresas americanas”, disse ele. “As pessoas se aproveitam das empresas americanas, se alguém vai tirar vantagem de nossas empresas, somos nós.”

As medidas tarifárias trouxeram uma resposta furiosa da França. O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, disse as medidas tarifárias eram “inaceitáveis” e não eram dignas de um aliado.

Ele questionou se os EUA ainda estavam comprometidos com o acordo alcançado na cúpula do G7 em agosto, sob o qual o imposto permaneceria em vigor por dois anos até a decisão da OCDE sobre um imposto mínimo global.

Também o primeiro-ministro Boris Johnson disse que avançaria com um imposto de 2% sobre as receitas das empresas de serviços digitais na Grã-Bretanha — uma proposta criticada como “discriminatória” pelo secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin.