Donald Trump e López Obrador: "Nada pela força"

 

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na sua conta no Twitter, na quinta-feira (30) que a partir de 10 de junho pretende impor uma tarifa de 5% sobre todos os produtos que venham do México “até o momento em que os imigrantes ilegais parem de atravessar para nosso país”.

E a seguir, afirmou em declaração que “se a crise persistir”, as tarifas se elevarão a 10% no dia primeiro de julho, e depois se aplicará 5% adicional cada mês durante três meses. Indicou que, então, as taxas se manterão permanentemente a um nível de 25% “a menos e até que o México freie substancialmente o fluxo ilegal de estrangeiros entrando por seu território”.

O presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO) respondeu logo depois assinalando que os seres humanos não abandonam seus povos por gosto, e sim por necessidade, e os problemas sociais “não se resolve com impostos ou medidas coercitivas. Como transformar da noite para o dia o país da fraternidade para com os migrantes do mundo em um gueto, em um espaço fechado onde se estigmatiza, se maltrata, se persegue, se expulsa e se cancela o direito à justiça aos que buscam com esforço e trabalho viver livres da miséria?”.

E frisou:  “Proponho-lhe aprofundarmos o diálogo, buscar alternativas de fundo ao problema migratório e, por favor, lembre-se que não me falta valor, que não sou covarde nem medroso mas atuo por princípios: acredito na política que, entre outras coisas, foi inventada para evitar a confrontação e a guerra”.

Segue a carta aberta emitida pelo presidente Obrador.

 

“Presidente Donald Trump:

Tenho conhecimento de sua última postura com relação ao México. De antemão, lhe expresso que não quero a confrontação. Os povos e as nações que representamos merecem que, ante qualquer conflito em nossas relações, por graves que sejam, se recorra ao diálogo e atuemos com prudência e responsabilidade.

O melhor presidente do México, Benito Juárez, manteve excelentes relações com o prócer republicano Abraham Lincoln. Posteriormente, quando da expropriação petroleira, o presidente democrata Franklin D. Roosevelt entendeu as profundas razões que levaram o presidente patriota Lázaro Cárdenas a atuar em favor de nossa soberania. Certamente, o presidente Roosevelt foi um titã das liberdades. Antes de qualquer um, proclamou os quatro direitos fundamentais do homem: o direito à liberdade de palavra; o direito à liberdade de cultos; o direito a viver livre de temores; e o direito a viver livre de misérias.

Neste pensamento fincamos nossa política sobre o assunto migratório. Os seres humanos não abandonam seus povos por gosto mas por necessidade. É por isso que, desde o princípio de meu governo, lhe propus optar pela cooperação para o desenvolvimento e ajudar os países centro-americanos com investimentos produtivos para criar empregos e resolver a fundo este penoso assunto.

Você também sabe que nós estamos cumprindo com a nossa responsabilidade de evitar, na medida do possível e sem violentar os direitos humanos, a passagem por nosso país. Não é demais lembrar-lhe que, em pouco tempo, os mexicanos não terão necessidade de acudir aos Estados Unidos e que a migração será opcional, não forçosa. Isto, porque estamos combatendo a corrupção -o principal problema de México – como nunca! E, desta maneira, nosso país se converterá em uma potência com dimensão social. Nossos compatriotas poderão trabalhar e ser felizes onde nasceram, onde estão seus familiares, seus costumes e suas culturas. Presidente Trump: os problemas sociais não se resolvem com impostos ou medidas coercitivas. Como transformar da noite para o dia o país da fraternidade para com os migrantes do mundo em um gueto, em um espaço fechado onde se estigmatiza, se maltrata, se persegue, se expulsa e se cancela o direito à justiça aos que buscam com esforço e trabalho viver livres de miséria? A Estátua da Liberdade não é um símbolo vazio.

Com todo respeito, embora tenha o direito soberano de expressá-lo, o lema “Estados Unidos primeiro” é uma falácia porque até o fim dos tempos, inclusive, acima  das fronteiras nacionais, prevalecerão a justiça e a fraternidade universais.

De maneira específica, cidadão Presidente: proponho-lhe aprofundar o diálogo, buscar alternativas de fundo ao problema migratório e, por favor, lembre-se de que não me falta valor, que não sou covarde nem medroso, mas atuo por princípios: acredito na política que, entre outras coisas, foi inventada para evitar a confrontação e a guerra. Não acredito na Lei de Talião, no “dente por dente” nem no “olho por olho” porque, se por essas vamos, todos ficaríamos banguelas ou caolhos. Acredito que os homens de Estado e ainda mais os de Nação, estão obrigados a buscar soluções pacíficas às controvérsias e a levar à prática, sempre, o belo ideal da não-violência.

Por último, lhe proponho que instrua seus funcionários, se para isso não tem inconveniente, que atendam os representantes de nosso governo, encabeçados pelo secretário de Relações Exteriores de México, que a partir de amanhã se transladarão a Washington para chegar a um acordo em benefício das duas Nações.

Nada pela força, tudo pela razão e o direito!

Seu amigo

Andrés Manuel López Obrador

Presidente do México”