Mercenários foram aprisionados nos combates em Mariupol

Não foi por falta de aviso aos mercenários cooptados para o ‘safari antirrusso no Donbass’. Na quinta-feira (9), o Supremo Tribunal da República Popular de Donetsk (DPR) condenou os britânicos Aiden Aslin e Shaun Pinner e o marroquino Saadun Brahim à morte por fuzilamento, após os três se declararem culpados de atos para tomar o poder pela força na república antifascista e treinamento para ações terroristas, e por considerá-los mercenários a soldo do regime de Kiev.

Os três foram capturados durante os combates para livrar Mariupol do jugo do Batalhão Azov. Os três têm o direito de recorrer da decisão do tribunal no prazo de um mês, com um advogado de defesa confirmando que um recurso está sendo preparado para pedir a redução da pena para 25 anos de prisão ou um perdão presidencial.

A DPR emitiu várias sentenças de morte ao longo dos anos de sua existência, mas nenhuma ainda foi executada. Os três réus seguem negando serem mercenários.

De acordo com o código penal da DPR, a tomada do poder pela força é punível com 12 a 20 anos de prisão ou, em tempo de guerra, pena capital.

O tribunal considerou que os três indivíduos agiram como mercenários e, portanto, as proteções tradicionais de combatentes regulares sob o direito internacional não se aplicam a eles – o que, aliás, havia sido extensamente advertido também pela Rússia. Atuar como mercenário é punível com pena de prisão de três a sete anos pela lei da DPR.

Um dos mercenários, Aslin, já havia combatido junto à milícia curda YPG, que é coadjuvante da ocupação ilegal norte-americana no nordeste da Síria.

Já os EUA, que costumam insuflar guerras ‘por procuração’ no planeta inteiro, com fornadas de mercenários, desde soldados da fortuna a jihadistas e neonazistas, assim como Londres, principal cúmplice de Washington nos crimes de guerra, acharam um absurdo levar a julgamento seus ‘garotos’.

O secretário de Estado, Anthony Blinken, classificou o veredicto de “farsa”, enquanto o mambembe governo de Boris Johnson, um dos mais entusiastas pela perpetuação do conflito na Ucrânia, exigia ‘respeito’ aos mercenários de nacionalidade britânica, perdão, cidadãos britânicos, e prometeu continuar trabalhando com Kiev para sua libertação.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, assinalou na sexta-feira que o veredicto foi deliberado de acordo com as leis da DPR e relacionado a crimes cometidos em seu território, “todo o resto é apenas especulação”. Ele instou a respeitar “o trabalho do sistema judicial e legal da República Popular de Donetsk”.

As forças russas e do Donbass repetidamente alertaram aos estrangeiros a que ficassem fora do conflito na Ucrânia e deixando claro que as regras de guerra não se aplicam a mercenários, e que qualquer um que fosse capturado vivo seria responsabilizado “criminalmente” por suas ações.

“As tentativas urgentes do regime de Kiev de garantir proteção legal aos mercenários, incluindo-os na lista de unidades militares das Forças Armadas da Ucrânia ou da Guarda Nacional, ou emitindo-lhes novos passaportes de cidadãos ucranianos, não salvarão nenhum deles”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa russo, general Igor Konashenkov.

“De acordo com os dados que temos, hoje o número total de mercenários estrangeiros na Ucrânia caiu quase pela metade – de 6.600 para 3.500 pessoas”, disse o porta-voz russo. Muitos fugiram, foram mortos ou feitos prisioneiros. A maioria dos mercenários estava baseada em Kiev, Kharkov, Odessa, Nikolaev e Mariupol.

A queda dos números foi explicada por vários fatores, incluindo pesadas perdas em batalha, desilusão com seus anfitriões ucranianos após testemunharem suspeitos de crimes de guerra ou decepção com as condições no campo de batalha, em que, atipicamente para mercenários ocidentais, seu lado não tem a superioridade aérea, de mísseis e de artilharia normalmente desfrutada.

Konashenkov acrescentou que os mercenários preferem deixar a Ucrânia por causa das pesadas perdas em combate, mas o regime de Kiev os impede de partir.

Em entrevista ao portal RT, antes do julgamento, o mercenário inglês Aslin disse se sentir “abandonado por” Kiev e Londres. Todas as suas tentativas de contato com o lado ucraniano desde o cativeiro foram malsucedidas, acrescentou.

Ele reclamou que o presidente ucraniano não mencionou seu caso “nem uma vez” desde que se rendeu enquanto as autoridades do Reino Unido que ele e seus advogados contataram continuam dizendo que ele é “de maior prioridade” para a Ucrânia.

“Tenho que perguntar ao governo ucraniano: ‘Se você nos considera, como diz, heróis, por que age como se não existíssemos?’”, disse Aslin. Ele pediu que outros estrangeiros que possam considerar se juntar à causa de Kiev não sejam “enganados em uma guerra que você não deveria estar lutando”.

Sobre o Batalhão Azov e seus neonazis, o britânico disse ter acreditado que mudara após incorporado à Guarda Nacional Ucraniana, mas acabou descobrindo em primeira mão que “eles não mudaram muito”, após mostrar uma tatuagem do YPG e ouvir que queriam “cortá-la”.

Quanto aos militares ucranianos profissionais, disse considerar seu treinamento de artilharia de “abaixo do padrão” na medida em que podem errar alvos militares e atingir infraestrutura civil. “Outro fator que você deve considerar é que há muito álcool envolvido”.

Olhando para trás, Aslin asseverou à RT que “gostaria de ter feito as coisas de forma diferente e não ter escolhido ser um peão” no conflito militar, culpando o regime de Kiev pela situação. “Eles [o governo ucraniano] poderiam facilmente ter encerrado a guerra. Eles tiveram a oportunidade, mas optaram por não, principalmente porque acho que dinheiro estava envolvido”.