Aplicativo TrateCov do Ministério da Saúde

O aplicativo “TrateCOV“, que recomendava o “tratamento precoce” com remédios sem eficácia comprovada contra a Covid-19 a pacientes com sintomas que podem ou não ser da doença, saiu do ar nesta quinta-feira (21). Segundo o Ministério da Saúde a plataforma, que foi lançada oficialmente em Manaus no último dia 11 de janeiro, foi ativada “indevidamente”.

“Informamos que a plataforma TrateCOV foi lançada como um projeto-piloto e não estava funcionando oficialmente, apenas como um simulador. No entanto, o sistema foi invadido e ativado indevidamente – o que provocou a retirada do ar, que será momentânea”, disse o Ministério da Saúde por meio de nota.

O “tratamento” indicado no aplicativo incluía medicamentos que, segundo demonstraram diferentes estudos, não funcionam contra o coronavírus, como remédio contra a malária cloroquina, ou o vermífugo ivermectina.

Apesar de anunciada como uma plataforma apenas para profissionais de Saúde de Manaus, qualquer pessoa podia acessá-la, preencher o cadastro e obter as recomendações. A cidade, que enfrenta um cenário de caos pela falta de oxigênio para pacientes – e recordes de mortes por Covid-19, seria a “pioneira” no uso do app.

Em Manaus, o ministro da Saúde Eduardo Pazuello chegou a afirmar que o “pilar” da estratégia do ministério contra a pandemia é o “tratamento precoce”.

“Diagnóstico não é do teste. Não aceitem isso. É do profissional médico. O tratamento, a prescrição, é do médico, e a orientação é precoce”, disse Pazuello em coletiva na segunda-feira (11). “A medicação pode e deve começar antes desses exames complementares. Caso o exame lá na frente der negativo, reduz a medicação e tá ótimo. Não vai matar ninguém”, completou o ministro, que é general do Exército e seria um especialista em logística.

APP recomendava uso de cloroquina até para dor de cabeça

Um dos absurdos do aplicativo é que o mesmo recomenda uso de antibióticos e cloroquina, ivermectina e outros fármacos para náusea e diarreia ou para sintomas de uma ressaca, como fadiga e dor de cabeça.

A lista de medicamentos sem eficácia comprovada é sugerida pela plataforma, que só pode ser usada por médicos, para qualquer soma de dois sintomas, mesmo se o paciente não saiu de casa ou teve contato com algum infectado nas duas últimas semanas.

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Associação Médica Brasileira (ABM) emitiram nota conjunta na terça-feira (19) onde rechaçaram a existência deste “tratamento precoce” contra o coronavírus. No texto, as entidades também afirmam que “a desinformação dos negacionistas” piora a “devastadora situação da pandemia em nosso País”.

Segundo o boletim do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) desta quinta-feira, 214.147 brasileiros já perderam a vida para o coronavírus.

“As melhores evidências científicas demonstram que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção ou no ‘tratamento precoce’ para a Covid-19 até o presente momento”, diz a nota da SBI e ABM. O texto também afirma que o posicionamento é seguido pelas principais sociedades médicas e organismos nacionais e internacionais de saúde pública, incluindo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

As entidades também recomendam o uso de máscara e distanciamento social para evitar o contágio do coronavírus e reforçam que as vacinas têm o potencial de evitar quadros graves da doença. “Hoje, os brasileiros representam 10% dos óbitos por Covid-19 no mundo. Precisamos mudar esta triste realidade. A caminhada de controle da pandemia ainda será longa.”

CFM

Nesta quinta-feira (21), o Conselho Federal de Medicina (CFM) defendeu a retirada imediata do ar do aplicativo TrateCOV.

A entidade afirma que após uma análise feita por conselheiros e assessores técnicos e jurídicos sobre o aplicativo, alertou o Ministério da Saúde sobre inconsistências na ferramenta.

Segundo a nota do conselho, o aplicativo não preserva adequadamente o sigilo das informações, permite seu preenchimento por profissionais não médicos e assegura a validação científica a drogas que não contam com esse reconhecimento internacional.

“A ferramenta também induz à automedicação e à interferência na autonomia dos médicos e não deixa clara a finalidade do uso dos dados preenchidos pelos médicos assistentes”, alertou o CFM.