Presidente Jair Bolsonaro e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante cerimonia de sanção da Lei da Autonomia do Banco Central

Com os sucessivos aumentos na taxa básica de juros da economia (Selic), a transferência de renda da sociedade para o setor financeiro, por meio dos juros da dívida pública, atingiu a soma de R$ 500,5 bilhões nos últimos 12 meses encerrados em maio, de acordo com informações do Banco Central (BC). Esse é o maior patamar desde fevereiro de 2016, época que atingiu R$ 513 bilhões.

Os R$ 500,5 bilhões gastos pelo governo Bolsonaro com juros representam 5,51% do PIB, porcentagem mais alta desde novembro de 2018 (5,52%).

De acordo com dados de “Estatísticas Fiscais” do BC, os juros nominais do setor público consolidado, apropriados por competência, somaram R$33,0 bilhões em maio de 2022, comparados a R$21,9 bilhões em maio de 2021. No acumulado em doze meses até maio, os juros nominais somam R$ 500,5 bilhões (5,51% do PIB), comparativamente a R$ 295,6 bilhões (3,70% do PIB) nos doze meses até maio de 2021.

O aumento dos gastos com juros da dívida pública é uma consequência da alta da taxa Selic, que subiu 12 vezes desde março de 2021 (2% ao ano) para 13,75% ao ano em agosto deste ano. Além disso, o aumento da inflação, já que cerca de um terço da dívida é atrelada aos índices de preços, e a disparada do dólar, também contribuíram para inflar o balão das despesas com juros.

O gasto total com juros registrado em 12 meses até maio supera em muito, por exemplo, o orçamento federal previsto de 2022 para aplicações mínimas em ações e serviços públicos de saúde (R$ 139,9 bilhões), a Manutenção e desenvolvimento do ensino (R$ 62,8 bilhões) e para o Auxílio Brasil (R$ 115,1 bilhões).

Ao mesmo tempo que transfere rios de dinheiro para turma da Faria Lima – quer dizer, banqueiros, rentistas e demais parasitas que vivem da especulação sobre o setor produtivo brasileiro-, o governo Bolsonaro realiza cortes no Orçamento Federal aprovado pelo Congresso Nacional, prejudicando setores essenciais à população, ao desenvolvimento tecnológico e à pesquisa nas áreas de Saúde e Educação, as mais afetadas pelos cortes.

Até agora, ao todo, este ano, foram R$ 14,8 bilhões em recursos bloqueados pelo governo. De acordo com a tabela divulgada pelo Ministério da Economia, o corte para Saúde é de R$ 2,7 bilhões (16% do total previsto) e, para a Educação, R$ 1,6 bilhões (8%).

O Conselho Federal de Economia (Cofecon) prevê que o gasto com juros da dívida pode chegar a R$ 700 bilhões, próximo de 7% do Produto Interno Bruto (PIB). O presidente da entidade, Antônio Corrêa de Lacerda, destaca que “com a elevação dos juros, o crédito fica proibitivo, isso inviabiliza as empresas, e o próprio Estado brasileiro é onerado, porque cada ponto percentual a mais na Selic é um aumento do custo de financiamento da dívida pública. Nós vamos gastar esse ano – nós, sociedade brasileira, porque nós pagamos os impostos – R$ 700 bilhões para pagar o encargo sobre a dívida pública”, afirma o economista, que também faz parte do grupo que tem dado contribuições teóricas para a formatação do programa de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).