A Itália foi surpreendida pela eclosão de um surto do novo coronavírus, com os casos confirmados pulando de menos de três antes de sexta-feira para 152 no domingo, e já são 190 na segunda-feira(24), com três mortes, a mais grave situação de toda a Europa. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está acompanhando de perto a crise. Agravou-se também a situação na Coreia do Sul, Irã e Japão, enquanto o quadro na China – onde é o epicentro – está sob controle, após medidas de contenção “sem precedentes”.
Em Veneza, onde já há dois casos, o carnaval foi suspenso. “Temos que adotar medidas drásticas”, disse o presidente regional do Veneto, Luca Zaia, que também fechou todos os museus e escolas, mercados e feiras em uma região com 5 milhões de habitantes que é um dos motores industriais da Itália. Medidas anti-contágio semelhantes foram tomadas na Lombardia, lar de 10 milhões de pessoas e compreendendo Milão, a capital das finanças e da moda da Itália. 11 cidades no norte da Itália, na Lombardia e Veneto, foram efetivamente colocadas em quarentena, afetando 52 mil pessoas. O Scala de Milão – a famosa casa de espetáculos de ópera – fechou pela sexta vez em dois séculos. Também foram adiados jogos de futebol. Há casos confirmados também nas regiões de Emilia-Romagna e Piemonte
“Fiquei surpreso com essa explosão de casos”, disse o primeiro-ministro Giuseppe Conte à emissora estatal RAI, alertando que os números poderão aumentar nos próximos dias. “Faremos tudo o que pudermos para conter o contágio.”
“O que preocupa na situação italiana é que nem todos os casos registrados parecem ter uma história epidemiológica clara, isto é, um vínculo com viagens à China ou contatos com outros casos confirmados”, afirmou Hans Kluge, diretor da OMS na Europa, que no sábado conversou com o ministro de saúde italiano, Roberto Speranza, e com o diretor-geral de Saúde do Veneto, Domenico Mantoan. A União Europeia manifestou sua confiança nas autoridades italianas.
Para Kluge, a “explosão de casos” de Covid-19 no norte da Itália “não é uma surpresa, já observamos isso em outros países além da China”. Ele aconselhou as autoridades de Saúde italianas a se concentrarem em “identificar e rastrear as infecções”, a exemplo da China.
Em entrevista ao La Repubblica, o diretor da OMS na Europa considerou “impressionante” o resultado das medidas de contenção na China, com ênfase na verificação dos que saem da área do epicentro do surto: “apenas 2% do total de casos foram registrados fora da China”.
Como ele destacou, atualmente os deslocamentos globais de pessoas são de tal monta que casos do coronavírus podem ser esperados em outras áreas do planeta, incluindo a Europa. “Agora devemos limitar a transmissão de pessoa para pessoa, através de medidas de mitigação”, acrescentou.
“Nunca devemos esquecer o contexto: 98% dos casos estão na China, mais de 80% dos casos de pessoas infectadas apresentam sintomas leves, enquanto menos de 15% estão em estado grave e apenas 5% dos casos têm uma doença grave. No momento, observamos uma mortalidade de pouco mais de 2%, a maioria idosos com condições pré-existentes. Nas áreas italianas afetadas, o risco de infecção pode ser maior e, por esse motivo, os residentes devem seguir as recomendações das autoridades, inclusive não ir a lugares lotados”.
O diretor da OMS explicou porque o novo coronavírus é considerado uma ameaça tão importante, quando a gripe, por exemplo, afeta milhões todos os anos e mata milhares.
“Levamos isso muito a sério porque é um novo vírus: isso significa que nenhum de nós é imune. A gripe, por outro lado, é uma doença sazonal para a qual as pessoas em maior risco podem ser adequadamente protegidas. No entanto, causa 50 mil mortes todos os anos na Europa. Entretanto, a vacina existe e funciona, e a recomendamos a idosos, mulheres grávidas, doentes crônicos e profissionais de saúde. O Covid-19 é um vírus novo e estamos fazendo pesquisas para chegar a uma cura e preparar uma vacina. Mas isso levará tempo. Portanto, devemos nos concentrar nas medidas de saúde pública que podem ser adotadas hoje para salvar vidas”.
COREIA DO SUL
Além da Itália, também a Coreia de Sul e o Irã tiveram aumentos acentuados de contágios. O governo de Seul colocou o país em alerta máximo, com o número de contágios chegando a 763, e sete óbitos. Dos 167 novos casos no domingo, 115 tinham como origem uma igreja messiânica de Daegu. Foi adiado por nove dias o início do ano letivo. Daegu e o condado de Cheongdo foram designados “zonas de cuidados especiais” na sexta-feira.
O Irã, que anunciou seus dois primeiros casos na quarta-feira, afirmou na segunda-feira que são 64 os casos confirmados, com 12 mortes – eram oito, até domingo -, a maioria, contágios na cidade sagrada muçulmana xiita de Qom. Arábia Saudita, Kuwait, Iraque, Turquia e Afeganistão impuseram restrições de viagem e imigração à República Islâmica.
Um terceiro passageiro do navio Diamond Princess, infectado com coronavírus, no Japão, morreu no domingo, disseram as autoridades, enquanto o governo prometia introduzir novas medidas para conter o surto. A vítima é um homem de 80 anos. No navio, já são 691 casos confirmados. O ministro da Saúde do Japão se desculpou depois que uma mulher autorizada a deixar o navio apresentou resultado positivo para o vírus.
Fora da China continental, houve mais de 1.200 casos em 26 países, informou a OMS. Isso inclui um caso confirmado no continente africano, no Egito. O total de mortos fora da China é de 26.
A OMS está preocupada com o número de casos sem vínculo epidemiológico claro, embora o número total de casos fora da China permaneça relativamente pequeno, disse seu diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus no sábado. “Nossa maior preocupação continua sendo o potencial do COVID-19 se espalhar em países com sistemas de saúde mais fracos”.
No domingo, a China realizou uma mobilização sem precedentes dos quadros partidários, civis e militares, e de autoridades até o nível de condado, de cima a baixo, por videoconferência, com 170 mil pessoas, para preparar as próximas ações de combate à epidemia e de restauração da atividade econômica no país. A reunião foi encabeçada pelo presidente Xi Jiping.
Após alertar que a situação criada pela epidemia ainda é “sombria e complexa”, e que a prevenção e o combate estão “na fase mais crítica”, o presidente Xi Jinping pediu no domingo mais esforços para interromper o surto, reanimar a produção industrial e assegurar o plantio da primavera. O presidente disse que as “áreas de baixo risco” na China devem ajustar as medidas de controle da epidemia para “restaurar completamente a produção”, enquanto as de maior risco mantêm como foco a prevenção.
Na China continental, o novo coronavírus matou 2.442 pessoas, com 76.936 casos confirmados, e freou a segunda maior economia do mundo. 648 novas infecções foram relatadas, mas apenas 18 estavam fora da província de Hubei, o número mais baixo fora do epicentro desde que as autoridades começaram a publicar dados há um mês. Em Hong Kong, são 74 os casos confirmados, com dois óbitos.