Por muito tempo, a indústria da China foi famosa por sua capacidade de replicar produtos estrangeiros – modelo que superou graças à sua pujante inovação tecnológica. Mas, para consolidar essa tendência, o governo recorreu ao antigo vício: Star Market, a versão chinesa da Nasdaq, é operada a partir desta segunda-feira (22) pela Bolsa de Xangai. A economia chinesa também é conhecida pela enorme velocidade de expansão, e o Star não deixa por menos: estreou com um excepcional crescimento de 140%.

As 25 empresas que compõem o índice são as novas joias da tecnologia nacional. Todas elas operam em seis setores emergentes qualificados como “importância estratégica” pelo governo: tecnologia da informação, fabricação inteligente, engenharia aeroespacial, novos materiais, energias renováveis e biotecnologia.

Juntas, arrecadaram hoje mais de 37 bilhões de yuanes (cerca de R$ 20 bilhões), algo que para 24 delas foi sua primeira rodada de financiamento público. Uma das grandes vencedoras da jornada foi a Anji Microelectronics Technology, fabricante de materiais para chips semicondutores, cujas ações tiveram alta de 520% antes de fechar em 400%. Outros protagonistas foram a Suzhou HYC Technology e a Zhejiang Hangke Technology.

Com a iniciativa, o governo chinês procura conectar as promissoras empresas tecnológicas nacionais aos enormes sacos de riquezas de investidores domésticos – que tradicionalmente confiaram nos mercados financeiros internacionais. O mesmo fizeram companhias nacionais como Alibaba, Tencent, Baidu, JD e Xiaomi. Todas elas optaram por operar na Bolsa de Nova York ou na de Hong Kong em vez de fazê-lo em solo nacional. E o governo pretende atraí-las de volta.

O presidente Xi Jinping anunciou a medida durante a Exposição Internacional de Importações, realizada nessa mesma cidade, em novembro de 2018. Em seu discurso inaugural, Xi manifestou o objetivo de “consolidar a posição de Xangai como centro financeiro internacional e foco de ciência e inovação”. Era a primeira vez que um máximo dirigente chinês anunciava a criação de um índice da Bolsa, o que mostrava a importância do projeto.

O lançamento do Star ocorre no contexto da decisão do Governo de pôr a inovação como prioridade nacional para transformar a China numa superpotência tecnológica. Essa meta é detalhada em iniciativas tais quais o programa Made in China 2025 e o último plano de desenvolvimento quinquenal.

A campanha foi intensificada desde o início da guerra comercial, interpretada pela elite nacional como a última tentativa dos Estados Unidos de dar uma rasteira no desenvolvimento chinês para não ser ultrapassado e perder sua posição hegemônica global. Por isso, nos últimos meses o governo incentivou as empresas a resolver sua dependência da tecnologia estrangeira, evitando assim danos como o causado pelas sanções à Huawei.

Tentativas anteriores de criar um índice similar ao Nasdaq, em 2009 e 2013, haviam fracassado por causa da baixa qualidade das empresas da lista e do reduzido volume de negócios. Os resultados positivos de hoje indicam que, desta vez, houve sucesso, embora os analistas peçam calma. Há quem atribua os enormes lucros ao desejo chinês de consolidar um mercado financeiro forte, somado à euforia dos investidores e à fanfarra dos jornais oficiais. Seja como for, o Star vai acender seus telões eletrônicos nesta terça-feira pela segunda vez.

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Com informações do El País

Edição: André Cintra