Augusto Buonicore, com sua companheira, Sônia, e a filha Clara

Uma mensagem enviada à Secretaria Nacional de Organização do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) chamou a atenção. Era da filiada Sônia Ferreira de Oliveira, da cidade de Campinas, esposa de Augusto Buonicore, falecido em 11 de março de 2020. Ela comunicava o Partido que pretendia saber como proceder para quitar a contribuição partidária do esposo.

Por Osvaldo Bertolino

A consulta se deu com base no cumprimento rigoroso de Buonicore com o que determina o Artigo 9º do PCdoB.

“A contribuição financeira do membro do Partido é expressão do seu compromisso com a organização partidária, seus ideais e sua luta, sendo obrigatória para os(as) militantes. A estruturação material e a sustentação da atividade partidária e dos Comitês e Organizações de Base são responsabilidade coletiva de todos os seus membros, que devem se empenhar, dentro das possibilidades de cada um, para garantir tais compromissos, nos termos deste Estatuto e do Regimento partidário, e de normas do Comitê Central, respeitada a legislação vigente”, diz o documento.

Buonicore tinha o hábito de fazer a contribuição anual. “Quando o Augusto faleceu, eu sabia que estava na época da sua contribuição, mas não sabia detalhes. Fiquei pensando na eleição que está chegando, pensei na minha contribuição e decidi falar com o Partido”, comenta Sônia. Ele disse que se lembrou também de uma história do livro “Uma vida chinesa”, relato autobiográfico em quadrinhos que retrata uma história na China pós-Revolução, que ganhara da filha do casal, Clara.

De acordo com seu relato, há uma passagem em que um filho recebe do pai, no fim da vida, a missão de entregar seu último salário como contribuição ao Partido Comunista. “Foi o empurrão e lembrei: tenho que resolver isso logo. Aí foi que escrevi para a secretaria nacional de Organização”, diz ela. “O Augusto achava importante, eu acho importante, escrevi e o Oswaldo Napoleão (membro da Secretaria nacional de finanças entrou em contato para me orientar”, relata.

Para Sônia, a contribuição militante é imprescindível para “criar as condições de existência do Partido, as condições materiais”. “A organização das lutas, os espaços para juntar as pessoas, fazer encontros, reuniões, organizar a mobilização e ter pessoas dedicadas à vida partidária exigem recursos”, avalia. “Eu vejo assim, muito pragmaticamente”, enfatiza.

Segundo ela, Augusto Buonicore “tinha isso muito forte”. A gente andava por Campinas e ele dizia: Ah, se tivesse um dinheiro para a gente comprar essa casinha, que ele via para vender alugar, isso daria um centro cultural. Nossa, se a gente pudesse comprar, o Partido pudesse, comprava para fazer um centro cultural. Ele tinha essa ideia”, lembra.

Sônia entrou para o PCdoB na década de 1980, quando estava no ensino médio. Ela soube do Partido por acaso, afirma, quando seu irmão lhe deu um “convitinho”, que pegara num ponto de ônibus, para uma reunião que haveria no bairro, a Vila Costa e Silva, na cidade de Campinas. “Eu fui lá por curiosidade. Daí comecei a fazer cursos”, recorda.

Foi nesse processo que ela e Buonicore se conheceram. “Isso foi em 1985, talvez começo de 1986. Eu ia nas panfletagens, discussões e cursos em São Paulo. Em 1987 entrei na faculdade, ele estava saindo da PUC. E assim comecei a participar do movimento estudantil”, relata. Casaram-se em 1991.

Sônia fez pedagogia na Unicamp, tornou-se professora e participou de algumas atividades da categoria. “Minha militância é mais para discutir ideias. Participo de um coletivo de educadores da rede municipal, que se articula com a campanha nacional de defesa da Educação pública”, afirma.

Segundo ela, a contribuição partidária dá sentido à militância. “Um sentido de quem é indignado. Desde o primeiro momento, quando meu irmão me deu o convitinho, já era indignada. Vai lá, você que é indignada, disse ele. E a organização é necessária para as mudanças”, avalia.

Sônia afirma que, com a contribuição, fez apenas uma retribuição. “O PCdoB foi importante para mim, para a minha vida. Consegui entender melhor como organizar as lutas, os movimentos sociais, para mudar a realidade. A vida do Augusto era isso também. Ele era indignado com a injustiça, com a fome, com a exploração dos trabalhadores”, conclui.