Prisão de Assange por policiais ingleses na embaixada do Equador, atentado à democracia

“Julian Assange é um dos prisioneiros políticos mais antigos do mundo ocidental. Todos os níveis do caso contra ele foram permeados por corrupção e vícios de processo”, disse Edward Snowden ao contestar a extradição do jornalista australiano que expôs a documentação incriminando crimes de guerra norte-americanos no Iraque e mundo afora.

Ex-técnico da Agência de Inteligência Americana (CIA, na sigla em inglês) Edward Snowden, tomado de crises de consciência, acabou divulgando uma vasta quantidade de documentos secretos da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, sigla em inglês), também contribuindo para a exposição da ingerência ilegal e antidemocrática dos Estados Unidos, incluindo a espionagem de dirigentes de países que EUA afirma seus aliados.

Snowden condenou setores da mídia que primam pela omissão diante da corrupção no qual o caso está atolado. Para ele setores midiáticos desculpam sua indiferença dizendo que Assange “não é jornalista”. A isso Snowden responde com contundência: “Ele não é jornalista, vociferam, fazendo pressão involuntariamente para que os direitos de falar e publicar sejam concedidos apenas a uma classe de empresas de mídia corporativa consagradas pelo Estado”.

Snowden também aponta características fascistas na perseguição doentia a Assange: “A punição arbitrária daqueles que não são como você, pelo crime de serem diferentes de você, é o próprio cerne do fascismo ao qual afirmam se opor. As sociedades livres são baseadas na tolerância”, sublinhou.

Assange, que publicou as provas dos crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão – em que centenas de milhares morreram e milhões se tornaram refugiados – é por isso perseguido há dez anos e se tornou o mais conhecido preso político do mundo.

Apelação

No dia (10), um tribunal de Londres decidiu a favor de um recurso dos EUA para extraditar Assange, rejeitando as preocupações levantadas sobre a saúde do jornalista e as condições desumanas que ele poderia enfrentar no sistema prisional americano. O caso será transferido para o Tribunal de Magistrados de Westminster com uma ordem para que um juiz distrital encaminhe o caso ao secretário de Estado para decidir se extradita Assange para os Estados Unidos ou não.

Edward Snowden vem denunciando a política dos EUA contra Assange em diversas situações. No processo de julgamento popular “Tribunal de Belmarsh”, que defende o fundador do WikiLeaks, realizado no final de outubro passado, sintetizou que “O que vemos aqui é um assassinato. Para onde quer que olhemos, do Afeganistão à economia, da pandemia à vigilância onipresente, o óbvio se tornou indescritível”, frisando que falar de tais coisas colocaria qualquer um na mesma categoria de Julian Assange. Seria rotulado como “criminoso político”, acusado “pela transgressão de eleger um lado equivocado”, esclareceu. “Se queremos libertar o mundo, temos que libertar Assange”, concluiu.

A equipe de defesa já anunciou que irá recorrer desse veredicto. Seus advogados também vão recorrer das questões de fundo, como a liberdade de imprensa e a motivação política do pedido de extradição dos EUA, que ainda não foram ouvidas por nenhum tribunal de apelação.

A decisão da alta corte anula o bloqueio à extradição determinado na instância inferior devido ao elevado risco de suicídio, reconhecido pela juíza Vanessa Baraitser, e a orienta a remeter o caso ao Secretário do Interior, para consumação.

Stella Moris, mãe de dois filhos com Assange, informou que o companheiro sofreu um acidente vascular cerebral na prisão no final de outubro na penitenciária de segurança máxima Belmarsh, onde está preso na Inglaterra.

“Tem que ser libertado. Agora”, tuitou Moris no sábado (11) à noite. O jornal Mail on Sunday divulgou que Assange, de 50 anos, sofreu um “acidente isquêmico transitório”, durante o qual o fluxo de sangue de uma parte do cérebro foi brevemente interrompido.

Isso provocou perda de memória, sinais de danos neurológicos e a queda de sua pálpebra direita. Desde então, está tomando medicamentos, segundo o jornal.

“Acredito que este constante jogo de xadrez, batalha após batalha, este estresse extremo, é o que causou este derrame cerebral em Julian em 27 de outubro”, disse Stella Moris, acrescentando que teme que seu companheiro seja vítima de um episódio mais grave.

Sobre a possível extradição, Stella Moris, chamou a decisão de “grave erro judiciário”. Na sexta-feira (10), fora do tribunal, ela reagiu: “Hoje é o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Que pena. Que cínico ter esta decisão neste dia, de ter o principal editor [e] jornalista dos últimos 50 anos em uma prisão do Reino Unido acusado de publicar a verdade sobre crimes de guerra, sobre equipes de extermínio da CIA.”

“Na verdade”, continuou Moris, “sempre que temos uma audiência, sabemos mais sobre a natureza abusiva, a natureza criminal deste caso”.