Assim como na província de Daraya (foto), houve celebração das eleições em várias cidades

Após derrotar os degoladores de cabeças e seus patronos do exterior, o povo sírio vai às urnas na próxima quarta-feira (26) para eleger o presidente do país, que terá a incumbência de avançar o processo constitucional, iniciar a reconstrução da economia e da infraestrutura e concluir a libertação das áreas ainda sob controle dos extremistas, em Idlib, ou sob ocupação norte-americana, no leste.

Em paralelo à libertação da maior parte do país do jugo dos jihadistas pelo exército nacional sírio, com o apoio da Rússia, Irã e patriotas libaneses do Hezbollah, uma luta difícil que já dura dez anos, a realização das eleições significa que o processo de restauração da ordem constitucional vem avançando, apesar das pressões dos Estados Unidos e de feudais vizinhos, após um longo e tortuoso processo de negociação entre a oposição e o governo, passando por Genebra e Astana.

Uma eleição realizada sob condições duras, com os EUA jogando tudo nas sanções para esmagar o renascimento sírio, política agravada por Trump (‘Sanções Cesar’) e mantida até aqui pelo governo Biden, e que se reflete no aperto nas já difíceis condições de subsistência dos sírios e desvalorização da sua moeda, no meio de uma pandemia.

A ‘Lei César’ é ‘extraterritorial’, afetando países e empresas que fazem comércio com a Síria, dificultando e encarecendo obter o que precisa para o país se manter de pé, além de ter bloqueado milhões de dólares em bancos no Líbano que antes eram usados para importar bens básicos, de petróleo a alimentos, remédios e matérias primas.

Ao mesmo tempo em que petroleiros iranianos que trazem petróleo para a Síria têm sido sistematicamente atacados, os norte-americanos mantêm sob ocupação os campos produtores de petróleo sírios, que saqueiam para pagar mercenários.

Na desesperada tentativa de impedir a reconstrução do país e a vitória sobre a intervenção dos EUA, Netanyahu tem tentado dar uma mão à intevenção da Casa Branca atirando, em várias oportunidades, mísseis contra Damasco, a maioria deles interceptados por baterias antiaéreas sírias.

Também as agências de notícias mostraram fotos de comboios de caminhões norte-americanos roubando trigo do leste do país ocupado. Se os degoladores de cabeça fracassaram, o remendo tentado pelos norte-americanos é dobrar os sírios pela fome.

Quando Washington se recusou a sustar as sanções no meio da pandemia, como pediu o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, um dos alvos era o povo sírio.

Candidatos

São três os candidatos a presidente. O atual presidente, Bashar Al Assad, candidato da Frente Progressista Nacional, encabeçada pelo partido Baas, e com mais oito partidos, entre eles os comunistas, nasseristas e socialistas democráticos. Por ter comandado a resistência ao esquartejamento e submissão da Síria, é tido como o favorito.

Mahmoud Ahmed Merei, que integrou a delegação da oposição nas conversações de paz de Genebra de 2017, presidente da Organização Árabe pelos Direitos Humanos e ex-secretário da Frente Nacional pela Libertação da Síria, candidato da Frente Democrática de Oposição, composta por seis partidos e por personalidades independentes.

E Abdullah Sallum Abdullah, ex-ministro e ex-deputado da União Socialista, nasserista, candidato com domicílio em Alepo.

As candidaturas foram reconhecidas pela Suprema Corte Constitucional, tendo que passar pelo crivo da Assembleia Nacional e atender às exigências legais de permanência na Síria nos últimos dez anos e de idade. O processo começou com 51 pré-candidaturas ao cargo.

“Vitória institucional”

Como destacou recentemente a Prensa Latina, “a vitória institucional” – a eleição de presidente – “não é menos importante do que a vitória militar alcançada no terreno sobre o terrorismo”. Apesar da recusa, já anunciada por EUA, França e Alemanha, em reconhecer o resultado da eleição na Síria, como parte da pressão para manter o Oriente Médio um barril de pólvora.

Segundo a cabeça do império ‘excepcional’, os EUA, e a França, ex-potência colonial, se a Síria reelege Bashar Al Assad, só pode ser uma “farsa” e os sírios têm que tomar uma lição até aprenderem a votar ‘certo’.

Declaração de porta-voz francesa de nome Agnes von der Molle na sexta-feira de que as eleições na Síria são “inválidas e ilegítimas” foi prontamente rebatida.

“A França deve saber que a roda do tempo não voltará, e que a era do mandato passou para sempre, e a legitimidade na Síria hoje é concedida apenas pelos sírios, não por Paris”, frisou o ministério das Relações Exteriores sírio.

“As eleições são uma questão soberana da Síria por excelência, e nenhuma parte estrangeira tem o direito de interferir nelas. Só os sírios têm a palavra final. O afluxo maciço de sírios às assembleias de voto em todo o mundo, incluindo Paris, é a melhor resposta a essas declarações”, acrescentou.

“Na lógica do direito internacional não há valor jurídico para o questionamento ocidental do resultado eleitoral”, afirmou à Sputnik o analista sírio Osama Danoura.

“Os países do Ocidente, com seus padrões duplos, não estão em condições de conceder certificados de boa conduta em relação à democracia, como se vê pelos aliados mais próximos dos Estados Unidos na região. Cujo sistema político remonta à era pré-Magna Carta, ou seja, são monarquias absolutas e inconstitucionais”. E concluiu que o critério de avaliação de “democracia” de Washington se reduz a que “obedeçam à vontade norte-americana”.

Fala a oposição

Em entrevista ao canal sírio Al Ikhbaria, o oposicionista Merei convocou todos os sírios a participarem das eleições, defendeu o retorno dos refugiados sírios para participarem da reconstrução do país e rechaçou a oposição de Washington e Paris à volta imediata deles.

À Sputnik, Merei ressaltou seu histórico de 50 anos de oposição, inclusive disse ter ficado na prisão por cinco anos, de 1986 a 1991, e asseverou ter o apoio “das ruas”.

Ele contestou as sanções aplicadas pelos EUA e europeus contra a Síria, dizendo que as “autoridades têm gasolina, carro, pão, não falta nada”, e as sanções recaem mesmo é sobre o sírio comum.

Merei acusou os EUA de querer “desviar nossa bússola como arabistas, nacionalistas e unitaristas para conflitos sectários e étnicos”. Ele considerou chocante que países que se dizem democráticos, como Alemanha, Turquia e os EUA, tenham “impedido a realização de eleições nas embaixadas sírias existentes nesses países”.

À milícia curda FDS, Merei dirigiu as seguintes palavras: “A ocupação dos Estados Unidos vai deixar de existir e vai deixar esta região, e você FDS terá um destino desconhecido, portanto, volte a dialogar com o Estado para chegar a uma solução política”.

O oposicionista Merei desancou certo tipo de ‘oposição’ “que recebe (em dólares e riais), passa os dias em hotéis cinco estrelas e compra fazendas e mansões”. “Um grupo de ladrões que vive à custa do sangue vertido pelo povo sírio”.

“Queremos uma oposição que não esteja ligada às agendas regionais e internacionais. Imagine que há ‘oposicionistas sírios’ que ergueram bandeiras turcas e emitiram declarações apoiando a ocupação do exército turco em Afrin e outras áreas.” Ele explicou que sua campanha está sendo bancada pela militância e por empresários sírios internos e do exterior.