Em e-mail de 2018, Darroch acusou Trump de agir por “razões pessoais” em um ato de ressentimento em relação ao seu antecessor

O vazamento da incendiária sinceridade do então embaixador britânico em Washington, Sir Kim Darroch, que em e-mail a Londres classificou o presidente Donald Trump de “inepto” e seu governo de “disfuncional”, continua assombrando a Grã Bretanha, mesmo após sua renúncia. Agora, está causando estupor sua avaliação de que Trump rasgou o acordo com o Irã só porque foi assinado por Barack Obama, o que considerou “vandalismo diplomático”.

Em e-mail de 2018, Darroch acusou Trump de agir por “razões pessoais” em um ato de ressentimento em relação ao seu antecessor – em cujo governo negociações de três anos culminaram em acordo com Teerã e na mais rígida fiscalização da não-proliferação nuclear já aplicada a um país.

Declaração ainda mais incômoda na hora em que o governo de Londres resolve realizar pirataria contra um superpetroleiro iraniano, capturado a pedido de Washington nas águas de Gibraltar por fuzileiros navais ingleses.

Trump ficou possesso com o vazamento do relato do embaixador, cujo teor parece muito ponderado e bastante descritivo da realidade a qualquer pessoa de bom senso. O presidente bilionário não descansou enquanto não viu o afastamento de Darroch.

Os vazamentos têm aparecido no jornal The Daily Mail. A própria a primeira-ministra demissionária, Theresa May, disse ao parlamento que é função dos embaixadores traçarem, para os governos que representam, um quadro verídico do que estão vendo. Vão mentir para seu próprio governo?

A balbúrdia também acabou pegando no pé do ex-chanceler e ex-prefeito de Londres Boris Jonhson – conhecido pelo apelido de BoJo -, que é tido como o político conservador mais cotado para suceder May. Pegou muito mal a pressa com que BoJo correu para tuitar contra os “impropérios” de Darroch sobre Trump.

Nas hostes governistas, está aberta a estação de caça ao vazador e a todas as possíveis topeiras – aliás, uma tradição muito britânica. Para Neil Basu, chefe de contraterrorismo da Scotland Yard, o vazamento “poderia constituir um crime dificilmente defensável quanto a razões de interesse público”.

Quanto mais mexe no caso, mais a fedentina piora. Veio à tona que a jornalista do The Daily Mail que tem a exclusividade no vazamento, Isabel Oakeshott, por enorme coincidência é namorada do presidente do Partido Brexit e eurodeputado, Richard Tice.

O jeito foi Tice postar às pressas nas redes sociais que “os partidários das teorias da conspiração que me acusam de aspirar ao posto de embaixador nos Estados Unidos se equivocam por completo”. “É uma sugestão ridícula!”, asseverou.

Remendou se dizendo “seguro” de que “qualquer outro empresário partidário do Brexit” faria “um trabalho muito melhor” de promoção do Reino Unido e assegurando “um rápido tratado comercial com Washington”.