Luciano Siqueira: Bolsonaro tem sido inepto com os municípios
Vice-prefeito do Recife, o médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco, Luciano Siqueira (PCdoB-PE) tem longa trajetória de defesa da Saúde pública e acompanha de perto as medidas de enfrentamento à pandemia de coronavírus na capital pernambucana.
Ele começou a sua militância política na Ação Popular em 1966 e ingressou no Partido Comunista do Brasil em 1972. Escritor, colaborador e colunista do Portal Vermelho, Luciano mantém um blog que trata da vida cotidiana e principalmente de política.
Em entrevista ao Portal PCdoB, ele tratou das medidas que estão sendo tomadas em nível local e das dificuldades de estados e municípios para lidar com a “inépcia, o atabalhoamento e a precariedade” do entrosamento do governo Bolsonaro com as demais administrações.
Membro do Comitê Central do PCdoB, Luciano Siqueira também refletiu sobre os efeitos da crise gerada pela pandemia sobre as eleições municipais, marcadas para outubro.
“As repercussões da pandemia do coronavírus sobre as eleições previstas para outubro certamente serão muitas. A começar pelos esforços de todos os partidos neste instante, na formação de suas chapas, incluindo a filiação de pré-candidatos até o início de abril”, comentou.
Leia a entrevista na íntegra:
Portal PCdoB – Como o senhor tem avaliado a postura do Governo Federal para conter a pandemia e também para garantir que as famílias possam se manter do ponto de vista econômico?
Luciano Siqueira – Infelizmente, o governo federal tem sido inepto e atabalhoado e precariamente entrosado com estados e municípios. Basta notar que o presidente não foi capaz de construir nem mesmo um comitê de crise que possa ser assim reconhecido.
E no terreno das medidas econômicas, o foco não tem sido de forma alguma nos pequenos e médios empreendedores, nem nos trabalhadores em geral.
No Recife, o prefeito [Geraldo Júlio, PSB] constitui uma comissão especial com representantes de seis secretarias encarregadas das medidas de socorro à população mais pobre. Corremos o risco de chegar a cerca de 400 mil pessoas sem ter o que comer em nossa cidade.
E que outras medidas têm sido tomadas no Recife neste enfrentamento?
A pandemia encontrou no Recife uma administração bem organizada e atenta a esse tipo de situação. Desde o início de fevereiro funciona o Comitê de Respostas Rápidas, inspirado nas experiências anteriores.
Monitoramos passo-a-passo todas as iniciativas: inicialmente, na fase de contenção, e em seguida, a partir do registro de casos de infecção no território da cidade, acionamos todos os dispositivos montados. Gradativamente, fomos anunciando um conjunto de mais de cem medidas.
A prefeitura tem agido em estreita sintonia com o governo do estado, em cooperação com diversas instituições da cidade, como as universidades e também as igrejas católica e evangélicas.
A articulação com as instituições religiosas foi para que colaborassem de imediato com a drástica redução da circulação das pessoas e, no início, na fase de contenção, realizando ampla divulgação das orientações da prefeitura.
Alguns veículos da imprensa e mesmo autoridades do governo federal, que até há pouco tempo criticavam o SUS e atuavam pelo desmonte do sistema, agora passam a fazer defesa enfática dele. Como gestor e também como médico, o que o senhor poderia dizer da importância do SUS neste momento de pandemia?
Tenho a satisfação de haver participado — como médico e então deputado estadual, presidente da Comissão de Saúde na Assembleia Legislativa de Pernambuco — do movimento pela reforma sanitária, que resultou na Lei que criou o Sistema Único de Saúde, o SUS, e teve plena acolhida na Constituição promulgada em 1988.
Agora, diante de uma situação excepcional, o próprio ministro da Saúde [Luiz Henrique Mandetta, identificado com a defesa do setor privado], reconhece de público a importância do Sistema Único de Saúde. É um diferencial importante em relação a países ricos para o enfrentamento da pandemia do coronavírus.
Por fim, temos visto agendas vêm sendo canceladas na medida em que as pessoas não podem se encontrar presencialmente. E a agenda eleitoral? Como a pandemia impacta os preparativos para as eleições municipais, como vocês tem atuado aí no Recife neste tema?
As repercussões da pandemia do coronavírus sobre as eleições previstas para outubro certamente serão muitas. A começar pelos esforços de todos os partidos neste instante, na formação de suas chapas, incluindo a filiação de pré-candidatos até o início de abril.
Além disso, todos aqueles que já definiram suas postulações às prefeituras e Câmaras Municipais, neste período, desenvolvem atividades de pré-campanha, que são essenciais para o êxito eleitoral. Isto está prejudicado em grande parte e obriga a que todos se desdobrem na abordagem das pessoas através, sobretudo, do Whatsapp.
Sobre o cenário da futura campanha e o comportamento dos eleitores, já é evidente que o pleito se dará sob condições sociais extremamente agravadas e com enorme insatisfação da população. É um ambiente propício ao enfraquecimento das forças de direita e uma oportunidade, no campo das Oposições, de convergência de vontades e iniciativas. Unir forças será possível, numa abordagem solidária e convincente do nosso povo.