Servidores aposentados e dirigentes de entidades representativas do funcionalismo federal rechaçaram a proposta que está em estudo pelo governo, de tentar paralisar o movimento generalizado da categoria por reajuste salarial, dando, em troca, aumento em benefícios como vale-alimentação e auxílio-transporte.

A ideia gerou indignação principalmente nos servidores inativos, que ficariam sem reajuste nos vencimentos e sem essa compensação, já que não têm direito a esses tipos de auxílio.

“Os benefícios que eles pretendem reajustar não nos atendem de forma nenhuma. Não temos auxílio-alimentação, auxílio-transporte, nada disso. Aumentar isso não significa atender aposentados e pensionistas”, afirmou em entrevista à Folha de São Paulo o presidente do Mosap (Movimento Nacional de Servidores Aposentados e Pensionistas), Edison Guilherme Haubert.

Conforme o que vem sendo aventado pelo governo, a estratégia seria usar para este fim o R$ 1,7 bilhão do Orçamento, que inicialmente estava reservado por Bolsonaro para reajustar o salário dos policiais.

A medida tenta amenizar os efeitos da política de reajuste zero aos servidores, contemplando apenas uma categoria do funcionalismo, o que acabou liberando um descontentamento recorde entre os demais setores, que se organizam para uma greve geral no início de março. No entanto, a proposta já vem sendo repudiada pelos servidores.

“O que precisamos mesmo é de reposição. Somos a favor que a polícia tenha, mas dentro do princípio isonômico. Se conceder para uma categoria, tem que conceder o mesmo para as demais”, diz Haubert.

Rudinei Marques, presidente do Fonacate (Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado), também é contra essa troca que o governo pretende, de reajustar benefícios em vez de salários.

“Temos de recompor as perdas inflacionárias, ao menos em parte, que já passam de 28%. Além disso, mais da metade dos servidores são aposentados, que não recebem esses benefícios”, afirma.

Outra categoria que se manifestou contrária à proposta é a dos servidores do Banco Central, que, inclusive, já estão com uma paralisação de quatro horas marcada para a próxima quarta-feira (9), por reajuste salarial e reestruturação de carreira.

Para o presidente do Sinal (sindicato dos servidores do Banco Central), Fábio Faid, “os benefícios são muito pequenos e podem ser retirados a qualquer momento por decreto do presidente. Nossa necessidade é de salários e a gente acha que, mesmo dando um benefício ou um aumento do auxílio-alimentação para um ou outro, o reajuste dos policiais está garantido”, afirma.

“Não faz sentido policial ter reajuste e outras carreiras que entregam, com produtividade, eficiência e excelência como o BC, não tenham reajuste”, diz Faiad.

O coordenador do Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), Sérgio Ronaldo da Silva, disse que o governo “está achando que está em um pesque pague”.

“Ele está jogando seu anzol em águas turvas, porque todo dia sai com uma ideia assim, testando o conjunto dos servidores para ver qual é a onda em que o servidor vai embarcar com a sua prancha de surfe”.

Segundo ele, o governo precisa dar tratamento isonômico para o conjunto dos 1,2 milhão de servidores.

“Que ele instale uma mesa de negociação, coloque os nossos pontos, nossos pleitos na mesa e que nos dê uma resposta oficial”, disse. “Não que fique nos testando. Estamos unidos”, disse.