Esplanada dos Ministérios (Arquivo/Agência Brasil)

Cerca de 1,2 milhão de servidores federais, desde os que integram as carreiras de Estado, até a massa do funcionalismo federal, se preparam para a grande manifestação e paralisações marcadas para amanhã (terça-feira, dia 18), por aumento salarial e em resposta ao descaso com que vêm sendo tratados pelo governo.

Insatisfeitos com a falta de reajuste salarial desde 2017 e com os cortes de recursos nos órgãos, o empenho de Bolsonaro em garantir espaço no Orçamento para aumento salarial apenas às forças policiais, em dezembro passado, foi o estopim para desencadear a maior mobilização do funcionalismo desde o governo Dilma.

Segundo os líderes sindicais que representam os diversos segmentos do funcionalismo, a mobilização desta terça é apenas a primeira prevista para o início deste ano, e ainda alertam para uma possível greve geral em fevereiro.

Nas últimas semanas, o movimento iniciado pelos auditores fiscais da Receita com entrega em massa de cargos de chefia, e o funcionamento da Receita no modo “operação padrão”, se alastrou por diversos setores do serviço público federal.

Liderada pelo Fórum Nacional das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) e pelos sindicatos e associações que compõem o Fórum, como o Sindifisco (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais), o Sinal (Sindicato dos Funcionários do Banco Central), entre outros, a mobilização se espalhou como rastilho de pólvora entre os servidores públicos.

Segundo as entidades, pelo menos 46 diferentes categorias devem participar da manifestação de amanhã na Esplanada dos Ministérios.

“A gente enxerga os policiais como trabalhadores, e disputam pela reposição de perdas como os demais servidores. É válido que eles tenham esse aceno do governo – o que não é admissível é que outros 1,060 milhão de servidores sejam esquecidos. Defendemos os reajustes dos policiais, mas para os demais servidores também”, afirmou o presidente do Fonacate.

A adesão aos atos e manifestações do dia 18 também foi decidida pelo Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasef), na sexta-feira (14). Apenas a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), que integra o Fonasef, representa 1 milhão de servidores.

A entidade também decidiu participar da greve geral ao lado do restante dos servidores em fevereiro, caso não haja nenhuma resposta do governo às reivindicações da categoria.

“Estamos construindo as etapas até para não ter ilegalidade. A justiça pede isso. A gente só pode deflagrar uma greve quando o diálogo for esgotado. Esperamos que o governo tenha disposição para nos ouvir. Foi isso que construímos na sexta-feira. O dia 18 vai ser um dia nacional de luta e esperamos que consigamos construir uma plataforma de diálogo”, afirmou Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Condsef.

“Queremos dialogar antes de ir para o conflito. Até agora, o governo não sinalizou pelo diálogo. Nós temos um prazo que vai até 3 de abril e acreditamos que, até lá, temos como instituir um consenso. Caso não tenha retorno, vamos nos reunir no dia 27 e depois declarar greve a partir de 14 de fevereiro”, prosseguiu Silva.

Como afirmou o presidente do Fonacate, Rudinei Marques, o reajuste não é apenas um quesito salarial, mas representa o fortalecimento dos serviços públicos.

“O combate direto à pandemia pelo SUS, se considerarmos a pesquisa, descobrimos que 95% da pesquisa no Brasil é feita por instituições públicas, e isso está mais que reconhecido. Há um esforço incrível nas universidades para se reinventar e continuar ministrando aulas à distância, recebendo novos alunos. Espero que todo esse trabalho seja reconhecido, porque o serviço público não parou, não pode parar durante a pandemia – pelo contrário, teve de se reinventar e dobrar esforços para não deixar o país afundar”, destacou Rudinei em entrevista ao Congresso em Foco.

Para ele, “há um sentimento que é mais do que de insatisfação, eu diria até de indignação que cresceu da segunda metade de dezembro para cá, visivelmente. Estamos vendo que as categorias estão se mobilizando, fazendo assembleias, deliberando pela adesão ao dia 18. E o governo federal fez alguns acenos em tratar alguns segmentos do funcionalismo público, acirrando cada vez mais ainda os ânimos”, disse.