O dirigente Sérgio Rubens (no telão) faz seu informe especial ao Congresso do PCdoB

Em 17 de março de 2019, sob o lema “Democracia, Soberania e Socialismo – Somando Forças”, o PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e o PPL (Partido Pátria Livre) celebravam, em congressos extraordinários, a histórica união entre as duas legendas. Passados dois anos e sete meses, “o resultado da integração já está dado”, avalia Sérgio Rubens, que presidia o PPL e é o atual vice-presidente do PCdoB.

Coube a Sérgio fazer, neste sábado (16), um informe especial sobre o tema ao 15º Congresso do PCdoB. “O caminho é feito à medida que a gente caminha – não há uma estrada preestabelecida. Mas a integração está caminhando velozmente”, afirmou. Segundo ele, PPL e PCdoB tiveram “trajetórias paralelas, baseadas num conjunto de referenciais”. Entre esses pontos comuns às duas agremiações, Sérgio destacou a defesa do marxismo-leninismo, da unicidade sindical e da independência nacional.

Em contrapartida, era inevitável que cada partido tivesse uma cultura própria. O PCdoB é o partido mais antigo do Brasil e está em contagem regressiva para seu centenário. O PPL, mais jovem, foi registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2011, mas era herdeiro do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), que acumulava mais de 40 anos de história.

Além disso, eram distintas e conflitantes as opiniões dos dois partidos sobre a gestão Dilma Rousseff (2011-2016). “Quando a proposta de integração chegou, a dificuldade maior a superar era que o PPL tinha se retirado da base de apoio do governo Dilma em 2013. Nós trabalhávamos para construir um outro campo, com a candidatura do Eduardo Campos (PSB) a presidente em 2014”, declarou Sérgio. “E os camaradas do PCdoB mantiveram o apoio a Dilma até o impeachment.”

Uma divergência desse porte talvez pudesse inviabilizar a incorporação do PPL ao PCdoB. “No plano da tática, se não há unidade de ação, todas as proximidades ideológicas acabam não funcionando. A prática é determinante”. Mas o que prevaleceu, nos debates pré-integração, foi o entendimento de que “havia tanto para construir dali para frente”, em especial enfrentar o governo Jair Bolsonaro.

“Não se cobrou autocrítica de nenhum lado. A questão anterior ficou para trás”, afirmou o dirigente do PCdoB. “Tínhamos de discutir o presente, o que estava na ordem do dia. E já havia uma primeira identidade: a proposta de frente ampla”

A eleição de Bolsonaro, em 2018, levou à Presidência da República uma “ultradireita fascista, cevada nos porões da ditadura (1964-1985)”. É do atual presidente – conforme lembrou Sérgio – uma citação que exemplifica seu caráter autoritário. “O voto não vai mudar nada no Brasil. Só vai mudar infelizmente quando partirmos para uma guerra civil, fazendo um trabalho que o regime militar não fez, matando uns 30 mil”, afirmou Bolsonaro, em 1999.

“Este é o nosso presidente”, enfatizou Sérgio Rubens. “Não tínhamos a ilusão de o que Bolsonaro nos respeitaria. Ele trabalhava diuturnamente para dar um golpe e capturar o conjunto das instituições”. Se era preciso contê-lo, a frente ampla se impôs. Foi assim também em 1985, na redemocratização do Brasil. “Sem frente ampla, não haveria uma transição para a democracia. A transição possível foi aquela que se estabeleceu para acabar com a ditadura e iniciar uma vida nova no País.”

Sérgio enalteceu também a ascensão chinesa, seja no movimento comunista, seja na geopolítica. “A China deu a volta por cima – e com uma política diferente do antigo bloco socialista”, resumiu o dirigente, recordando o “trauma pesadíssimo” da crise do movimento comunista internacional no século 20.

“Hoje, a China se tornou uma inspiração para todos os comunistas mundo afora. A pandemia provou isso”. Embora seja o país mais populoso do Planeta, com 1,4 milhão de habitantes, a China é a 79ª nação em vítimas do novo coronavírus. Cerca de 4,55 milhões de pessoas morreram no mundo de Covid-19. Na China, apenas 4.636.

O país liderado pelo Partido Comunista se destaca também pelos avanços econômicos. Sérgio disse que, no Brasil, os produtos “made in China” já foram chamados pejorativamente de “xing ling”. Hoje, já são comprados não necessariamente pelo preço – mas também pela qualidade.

Com esse cenário, internacional e nacional, o dirigente prevê que o PCdoB tem condições de crescer e superar entraves como a cláusula de barreira. Casos como a conquista das federações partidárias no Congresso e a própria união com o PPL mostram, segundo Sérgio, que “o PCdoB pode ter bastante confiança em si próprio”.

E a integração, conclui ele, não vai parar. “O PCdoB modifica um pouco a cultura do MR-8. A gente modifica um pouco a do PCdoB. O resultado é um Partido mais fortalecido, na vanguarda.”