O chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe Martins, faz gesto típico dos supremacistas brancos nos Estados Unidos.

Os senadores podem votar, na próxima terça-feira (30), uma moção de repúdio e censura ao chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe Martins.

Em uma sessão do Senado na quarta (24), quando os parlamentares debatiam as dificuldades enfrentadas pelo Brasil para a aquisição de vacinas e cobravam a renúncia do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o assessor internacional de Jair Bolsonaro fez um gesto típico dos supremacistas brancos nos Estados Unidos.

Sentado atrás do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o auxiliar do presidente fez um sinal de desrespeito pelos senadores que estavam no plenário.

Juntando o polegar ao indicador, Filipe Martins manteve os demais dedos esticados e fez movimentos repetitivos com a mão ao lado do paletó. O gesto, que se assemelha a um “ok”, é classificado desde 2019 como “uma verdadeira expressão da supremacia branca” pela Liga Antidifamação dos EUA.

O sinal é símbolo de “Força Branca”, “White Power”, em inglês, sendo um dos símbolos de ódio utilizados por grupos de extrema direita e supremacistas brancos norte-americanos.

Além de estar associado ao movimento racista originário nos Estados Unidos, o gesto do assessor internacional de Bolsonaro é replicado aqui pelos que seguem doentiamente o negacionismo do atual presidente e seu guru ideológico da Virgínia, Olavo de Carvalho.

O requerimento, apresentado pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES), foi lido na quinta (25), mas não pode ser votado devido à realização de sessão do Congresso Nacional que debatia a aprovação do Orçamento de 2021. Como a iniciativa é de autoria do Senado, o requerimento precisa ser votado em sessão ordinária da Casa.

O sinal feito por Filipe Martins foi denunciado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que alertou o presidente do Senado sobre a ocorrência.

O assessor estava acompanhando Ernesto Araújo na sala de transmissão da sessão realizada por videoconferência. O ministro havia sido chamado para falar das ações da pasta na compra de vacinas contra o coronavírus.

Após o debate, Rodrigo Pacheco solicitou que o caso seja investigado pela Secretaria-Geral da Mesa (SGM) e a Polícia Legislativa da Casa. O assessor de Bolsonaro justificou o gesto, por meio de uma rede social, alegando que estava somente ajeitando a lapela do terno.

Contarato achou que a explicação não é aceitável. Ao ler seu requerimento, o senador considerou o comportamento de Martins inadequado e desrespeitoso. Ele assinalou que o gesto feito pelo assessor tem sido replicado por grupos de extrema direita por todo o mundo.

“O ato é grave, justamente na sessão que buscava resposta para as dificuldades de o Brasil obter vacinas na escalada da maior crise sanitária do país”, afirmou.

O senador reiterou a necessidade urgente do afastamento de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores, apontando que o chanceler e o presidente Jair Bolsonaro são responsáveis diretos pela criação de atritos diplomáticos que seguem criando obstáculos à obtenção de vacinas e insumos indispensáveis ao controle da pandemia.

Para o senador Jacques Wagner (PT-BA), o gesto do assessor representa uma afronta ao Senado, à nação brasileira e ao presidente da Casa, que àquela altura comandava a sessão temática e fazia um pronunciamento.

O caso repercutiu também na Câmara, onde deputados lamentaram a conduta do assessor de Bolsonaro e cobraram a punição de Martins. “Se for verdade que um assessor presidencial fez um gesto ligado aos grupos supremacistas brancos, em plena audiência no Senado da República, alguém deve ser demitido. Ou ele ou o próprio presidente”, declarou Orlando Silva (PCdoB-SP).

A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), titular da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Casa, postou o trecho do vídeo em suas redes sociais e questionou: “Atenção! Durante a fala do presidente do Senado, o assessor especial da Presidência, Filipe G. Martins, faz o símbolo do ódio, usado pelos grupos extremistas e supremacistas brancos. Vai ficar por isso mesmo?”