Mergulhada em crise após a morte de 346 pessoas em dois acidentes em cinco meses, a estadunidense Boeing, uma das principais fabricantes de aeronaves e de equipamentos espaciais e militares do mundo, ficou pela primeira vez, desde 1962, sem receber novos pedidos de compra de aviões em janeiro.

Os acidentes na Indonésia, em 29 de outubro de 2012, e na Etiópia, em 10 de março de 2019, soaram o alerta e levaram à proibição de que o 737 Max alçasse voo em todo o mundo. Com o medo, a pressão cresceu e as investigações do Congresso dos Estados Unidos revelaram um erro abismal no projeto. A aberração transformava o avião num “caixão voador”, nas palavras de um parlamentar norte-americano”.

Vários e-mails e mensagens trazidas à tona pela investigação parlamentar revelaram diálogos surpreendentes entre os trabalhadores da Boeing, tanto sobre seus próprios aviões quanto sobre os reguladores que supostamente estariam supervisionando a segurança da aeronave. Numa das mensagens, datada de abril de 2017, um funcionário da Boeing escreveu que “esse avião foi projetado por palhaços, que por sua vez são supervisionados por macacos”.

Segundo os dados de 2019, os fornecimentos de aeronaves comerciais da multinacional estadunidense foram cortados pela metade em comparação ao mesmo período de 2018, principalmente os relacionados ao Boeing 737. Enquanto a Boeing afunda, a europeia Airbus – sua concorrente direta -, recebeu 274 novos pedidos para o fornecimento de aviões comerciais.

Com os sucessivos cortes, a dívida da Boeing dobrou para US$ 27,3 bilhões (R$ 118 bilhões) em 2019 e o montante segue aumentando, pois ao mesmo tempo em que a multinacional continua sendo obrigada na Justiça a ressarcir financeiramente a clientes e fornecedores, está tendo de pagar os salários dos seus funcionários.

Já em março do ano passado, o economista Aurélio Valporto, presidente da Associação dos Investidores Minoritários do Brasil (Abradin), alertava que a entrega da Embraer para a Boeing representava um negócio lesivo aos interesses nacionais, que atendia prioritariamente à necessidade da fabricante de aviões norte-americana de superar o atraso tecnológico que a colocou em desvantagem no seguimento de jatos para suprir o cobiçado mercado internacional de aviação regional. “A verdade é que o departamento de projetos da Boeing está velho e ultrapassado, seus projetos não têm condições tecnológicas de concorrer com as novas versões do A320 (produzidos pela Airbus)”, explicou.

Em entrevista exclusiva ao HP, em julho de 2019, o brigadeiro Ércio Braga, ex-presidente do Clube da Aeronáutica e criador do “Movimento de Restituição do Brasil para os Brasileiros” recordou que “a Embraer vendia mais aviões, até uma determinada categoria, do que a Boeing – e, então, ela começou a incomodar”. “A Embraer só não matou a Boeing porque essa é uma empresa muito grande e tem muito apoio de seu governo“, esclareceu. Que a tragédia da Boeing nos sirva de alerta.