Lavrov tem alertado os EUA a não tomarem atitudes "equivalentes a ruptura de relações”.

“Se depender da Rússia, não haverá guerra, não queremos guerra. No entanto, Moscou não permitirá que o ocidente ignore grosseiramente nossos interesses”, afirmou Serguei Lavrov, ministro das Relações Exteriores, durante entrevista com quatro grandes estações de rádio russas.

Ele tem se pronunciado de forma constante em referência à tensão em curso na Ucrânia diante da expansão militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e dos Estados Unidos – o que não descarta o posicionamento de mísseis nucleares – em direção à fronteira com a Rússia.

Lavrov reiterou que não haverá guerra se depender de seu país, mas não descartou que “alguém queira provocar uma ação militar”. “Há um grande número de tropas (de acordo com o Ocidente, cerca de 100.000 na linha de contato do Donbass), e o regime de Kiev não controla uma grande parte dessas pessoas armadas”, assinalou.

“Nossas propostas, que foram apresentadas aos americanos e à OTAN em 15 de dezembro, podem parecer excessivas se o especialista que as avaliar partir do princípio que ‘bem, os americanos já tomaram tudo ao redor de vocês, para que vocês estão fazendo alarido e se preocupando com isso? Vá, aceitem o que há e se limitem ao mínimo que têm’. Não, nós queremos que trabalhem conosco de forma honesta”, defendeu Lavrov.

“Em relação às ameaças de sanções, foi dito aos americanos, nomeadamente, durante os contatos entre os presidentes, que o pacote [de sanções] que tem sido mencionado e que sugere um desligamento completo dos sistemas financeiros e econômicos controlados pelo Ocidente, seria equivalente a uma ruptura de relações. Isso foi dito de forma clara e eu acho que eles o entendem”, afirmou o chanceler.

“Se eles insistirem que não vão mudar de posição, nós também não mudaremos nossa posição. É que a posição deles é baseada em argumentos falsos, em uma deturpação direta dos fatos, enquanto nossa posição se baseia no que todos assinaram. Aqui não vejo qualquer possibilidade de compromisso. Caso contrário, para quê negociar se eles distorcem e sabotam abertamente as antigas decisões? Este será o teste fundamental para nós”, ressaltou Lavrov.

Insistindo em que os EUA não poderão se esquivar a responder à questão de por qual motivo não cumprem o que os seus presidentes assinaram sobre a inadmissibilidade de aumentar sua segurança à custa da segurança dos outros, o ministro declarou: “Agora nos dizem, exagerando histericamente o tema da escalada na Ucrânia, exigindo a desescalada, e [Josep] Borrell, e [Antony] Blinken [repetem] como uma fórmula mágica: ‘Esperamos realmente que a Rússia escolha o caminho da diplomacia’. Vou cobrar essa promessa, porque nós escolhemos o caminho da diplomacia por muitas décadas desde que a União Soviética desapareceu”.

Lavrov explicou que os EUA e a Otan concordaram anteriormente, no contexto da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), em não expandir tropas às custas da segurança da Rússia.

“Há documentos escritos assinados pelos líderes de todos os países da OSCE, incluindo o presidente dos Estados Unidos (Declaração de Istambul de 1999, Declaração de Astana de 2010). Se vocês são a favor da diplomacia, primeiro cumpram aquilo que vocês concordaram em fazer”, acrescentou o ministro russo.

E também frisou que, durante as conversações em Genebra, não fez quaisquer ameaças relativamente à Ucrânia que tivessem levado os EUA a decidirem evacuar seus diplomatas de Kiev.

“Eu não disse nada para ele […] Asseguro-lhes que discutimos apenas as garantias de segurança”, disse Lavrov ao ser perguntado o que ele poderia ter dito a Blinken em Genebra para que os EUA decidissem evacuar os seus diplomatas da Ucrânia imediatamente após a reunião.

O ministro afirmou na entrevista que “Zelensky e seu regime são usados principalmente pelos EUA para aumentar as tensões, usando os seus criados na Europa, que sempre se alinham com eles em suas iniciativas russofóbicas. E o principal objetivo de Washington aqui não é de modo algum o destino da Ucrânia – para eles é importante escalar as tensões em torno da Rússia, a fim de ‘fechar’ este assunto e depois lidar com a China, tal como escrevem os próprios cientistas políticos americanos”, comentou.

“Como é que eles querem ‘fechar’ [o assunto] – não consigo imaginar. Se eles ainda têm lá alguns estrategistas políticos sensatos, devem entender que este caminho não levará a lado nenhum”, concluiu o ministro.