Manifestação de palestinos na Cisjordânia repudia o acerto de Israel com Emirados Árabes | Foto: Jaafar Ashtiyeh - AFP

A Arábia Saudita informou, na quarta-feira (19), que não seguirá os Emirados Árabes Unidos (EAU) no estabelecimento de relações diplomáticas com Israel enquanto este persistir na manutenção da ocupação dos territórios além das fronteiras de 1967 e até que um acordo de paz – internacionalmente reconhecido – seja assinado entre israelenses e palestinos.

Na semana passada foi anunciado um ‘acordo’ entre Isael e os Emirados apoiado pela Casa Branca passando por cima de qualquer discussão com os palestinos que estão tendo seus territórios assaltados para a implantação de assentamentos exclusivamente judaicos além de Israel já haver anunciado que anexou a Jerusalém Árabe, declarada pela Autoridade Nacional Palestina como capital do futuro Estado da Palestina.

Assessores do governo Trump veem, depois do acordo Israel/EAU, pressionando outros países árabes a seguirem o mesmo caminho, isolando os palestinos de qualquer negociação soberana que estabeleça o fim da ocupação. Diante dessa pressão, o ministro do Exterior saudita, Faisal bin Farhan, descartou a medida bancada por Washington.

“A paz tem que ser alcançada com os palestinos com base em acordos internacionalmente reconhecidos como pré-condição para qualquer normalização de relações”, disse Faisal a repórteres durante sua visita a Berlim.

“Uma vez isso seja alcançado, tudo é possível”, acrescentou, reafirmando o posicionamento saudita sobre a questão.

Na coletiva de imprensa, ao lado do ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Maas, ele reiterou as críticas sauditas às “políticas unilaterais” de Israel de anexação, construção de assentamentos na Cisjordânia ocupada como “ilegítimas” e “em detrimento de uma Solução de Dois Estados”. Uma desilusão para Trump e Netanyahu que se isolam ao tentarem isolar e espezinhar os palestinos ao fomentarem acordos israelenses com uma série de países árabes sem negociar uma solução de paz com seus vizinhos e habitantes históricos.

O parlamento do Kwait também votou uma moção rejeitando as normalizações às expensas dos palestinos.

O professor Aziz Alghashian, da Universidade de Essex (Inglaterra), esclarece que, ao exercer as pressões em nome de Trump, Jared Kushner, não percebe que causa aos aliados sauditas o “maior constrangimento”, pois foi a Arábia Saudita que apresentou, em 2002, a Iniciativa Árabe e que costurou o apoio a ela com todos os governos árabes de então, propondo exatamente a “paz por terra” com o centro na paz com os palestinos e com base na retirada de todas as tropas israelenses para as fronteiras de 1967 (antes da Guerra dos Seis Dias com a qual Israel passou a ocupar Gaza e Cisjordânia).

Kushner foi seguido pelo arrogante Netanyahu que anunciou estar “trabalhando” em um corredor aéreo de Israel aos Emirados passando por cima de território saudita, sem qualquer entendimento prévio com estes.

“O maior constrangimento que residiria na normalização entre sauditas e israelenses não é o receio de uma revolta doméstica ou regional”, avalia o professor.

“A questão é que a Arábia Saudita considera necessário não normalizar relações fora do quadro estabelecido pela Iniciativa Árabe que chama à resolução da questão palestina, como suporte a um papel de liderança entre árabes e islâmicos”, acrescenta o professor Alghashian em declarações à AFP