"Vamos fazer o que o povo americano quer que façamos, não o que querem os republicanos, disse Sanders

O senador Bernie Sanders disse, neste domingo (31), à apresentadora da rede de tevê ABC Martha Raddatz que há apoio suficiente dentro do Partido Democrata para aprovar o pacote de ajuda do presidente Joe Biden de US $ 1,9 trilhão para o coronavírus e advertiu que não distribuir imediatamente ajuda para famílias em dificuldades em todo o país representaria uma traição inescrupulosa aos milhões de eleitores que entregaram aos democratas o poder legislativo e executivo unificado com uma diretriz para melhorar a vida das pessoas.

“Vamos apoiar o presidente dos Estados Unidos e vamos fazer o que o povo americano esmagadoramente quer que façamos”, afirmou Sanders, indicado para a presidência da Comissão de Orçamento do Senado.

“A questão não é o bipartidarismo. A questão é abordar as crises sem precedentes que enfrentamos agora”, enfatizou. “Fizemos promessas ao povo americano”, disse Sanders. “Vamos manter essas promessas.”

Nos últimos dias, senadores republicanos que se apresentam como “moderados” se disseram favoráveis ao pacote emergencial do presidente Biden, desde que seja cortado em cerca de US$ 600 bilhões, e uma ala pequena e mais atrasada dos democratas diz que é preciso atender em alguma medida as “preocupações” desses republicanos, em nome da “busca da unidade” e do “bipartidarismo”.

Questionado pela apresentadora se os democratas têm votos para aprovar o pacote da ajuda emergencial pelo chamado processo de conciliação entre o que foi aprovado no Senado e na Câmara, Sanders respondeu que “sim”.

“É difícil para mim imaginar qualquer democrata … que não entenda a necessidade de avançar agora, de forma agressiva, para proteger as famílias trabalhadoras deste país”, acrescentou. Sanders admitiu que há “há diferenças e preocupações” entre democratas sobre o pacote emergencial.

Na sexta-feira, Biden disse apoiar a aprovação da ajuda emergencial “com o apoio dos republicanos, se conseguirmos. Mas o alívio à Covid tem que ser aprovado, não há se, e nem mas”.

O mecanismo proposto por Sanders é executar, como os republicanos já fizeram em ocasiões anteriores, a chamada “reconciliação” entre as duas casas do Congresso, permitindo driblar o filibuster’ – obstrução -, pelo qual para uma lei importante ser levada à apreciação do Senado é preciso a concordância de 60 dos 100 senadores.

O senador democrata Joe Manchin, considerado o mais à direita do partido, na sexta-feira insistiu em encontrar um “caminho bipartidário” para o pacote emergencial. Ele também se comprometeu com o líder da minoria republicana, Mitch McConnell, a que jamais votaria pelo fim do anacrônico ‘filibuster’.

A apresentadora Raddatz observou que, conforme as pesquisas, a população apóia esmagadoramente “um esforço governamental expansivo para combater a Covid-19”, mas chamou a atenção para as tensões dentro do Partido Democrata quanto a avançar unilateralmente, caso seja necessário.

“Os democratas têm maioria [no Senado] devido ao fato de termos conquistado duas cadeiras com ótimos candidatos na Geórgia”, assinalou Sanders. “Essa campanha, em muitos aspectos, foi uma campanha nacional.”

Os senadores Jon Ossoff e Raphael Warnock venceram na Geórgia e, por extensão, os democratas venceram em todo o país, disse Sanders, porque o partido se comprometeu “a entregar cheques de ajuda, estender os benefícios de desemprego e atender às necessidades das famílias trabalhadoras”.

“Se a política significa alguma coisa, se você vai ter algum grau de credibilidade”, continuou Sanders, “você não pode fazer campanha em uma série de questões e depois da eleição, quando conseguir o poder, diga: ‘Bem, você sabe o que, estamos mudando de ideia’”, assinalou.

“Não é assim que funciona”, reiterou, condenando qualquer tentação a cometer estelionato eleitoral.

No domingo, dez senadores republicanos solicitaram uma reunião com Biden para discutir seu plano alternativo, US $ 600 bilhões menor. Há poucos dias, esses mesmos senadores votaram por dotar o Pentágono com US$ 740 bilhões, sem qualquer ressalva. De acordo com o The Washington Post , esses senadores, liderados por Susan Collins, caracterizaram sua proposta como um cumprimento dos “apelos à unidade” de Biden.

O jornal registrou ainda que o Partido Republicano quer cortar o cheque de US$ 1.400 de uma vez do plano de Biden, por um de valor bem menor, US$ 1.000. E para menos gente: reduzindo a ajuda – de uma renda anual de US$ 75.000 para US$50.000.

Esses mesmos senadores republicanos tão zelosos, não viram o menor problema durante os anos Trump em doar às corporações e magnatas US$ 1,5 trilhão ao longo de dez anos em corte de impostos.

Como o portal Common Dreams relatou na semana passada, os líderes da Bancada Progressista do Congresso (CPC) enviaram uma carta à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e ao líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, em que alertaram que qualquer corte à ajuda emergencial teria “conseqüências catastróficas e duradouras” para as famílias norte-americanas que menos têm.

Alerta que se seguiu a rumores de que o governo Biden estaria considerando dividir seu pacote em duas partes, na tentativa de atrair apoio de republicanos e superar a barreira dos 60 votos no Senado.

Enquanto isso, nas redes sociais, ativistas republicanos aproveitam para atacar o governo Biden de “prometer cheque de US$ 2.000” e só entregar US$1.400 – promessa, no caso, muito importante para a vitória no segundo turno no estado da Geórgia.

Como disse um colunista, David Sirota, os republicanos estão “tentando deliberadamente” impedir que os democratas cumpram sua promessa de oferecer alívio adequado “para que o Partido Republicano possa então veicular anúncios contra os democratas por quebrar a promessa”.

Aludindo ao plano de US $ 600 bilhões apresentado por esses 10 senadores republicanos, Raddatz – que deixou de mencionar que o Partido Republicano havia passado meses impedindo a ajuda emergencial, perguntou a Sanders: “é um erro dos democratas considerar o abandono das negociações bipartidárias tão cedo?”

Ao que Sanders respondeu: “A questão não é bipartidarismo, ou não. A questão é que vamos abordar o incrível conjunto de crises e a dor e a ansiedade que há neste país.”

“Temos famílias … que não podem alimentar seus filhos”, continuou o senador. “Temos milhões de pessoas que enfrentam despejo. Estamos no meio da pior pandemia em 100 anos”.

“A questão não é o bipartidarismo”, acrescentou Sanders. “A questão é abordar as crises sem precedentes que enfrentamos agora.”