Ricardo Salles | Foto: Agência Brasil

Mais de 100 organizações e entidades representativas assinaram uma nota defendendo o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, que foi notificado pela Justiça Federal, a pedido do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, com amparo da Advocacia-Geral da União (AGU), por ter criticado a gestão de Salles à frente do Ministério.

Na nota, as entidades repudiam “a tentativa de intimidação ao ambientalista Marcio Astrini pelo ministro. Salles pode tentar, mas não conseguirá calar a voz dos brasileiros que defendem um Brasil melhor”.

O ministro Ricardo Salles, com ajuda de advogados da AGU, buscou a Justiça Federal para que o ambientalista Marcio Astrini fosse notificado a dar explicações sobre uma entrevista que deu ao Globo no dia 25 de maio, na qual Astrini comentou a participação dele na reunião ministerial do dia 22 de abril, na qual disse que queria “passar a boiada” durante a pandemia.

Na entrevista, Marcio disse que “a gente viu um ministro de estado numa conversa de comparsas convocando para aproveitar o momento da pandemia, em que todo mundo está preocupado com a vida, para fazer uma força-tarefa de destruição do meio ambiente”.

Para a AGU, o pedido de explicações “é cabível em qualquer das modalidades de crimes contra honra” e “soam levianas as palavras do senhor Marcio Astrini, pois além de atacar a pessoa do Ministro de Estado do Meio Ambiente também atingem a instituição da Advocacia-Geral da União, considerando afirmar a ocorrência de ‘pareceres encomendados’”.

Marcio Astrini comentou que “o governo me notificou judicialmente para ‘prestar explicações’ por ter criticado o ministro do meio ambiente sobre a fala dele de passar boi e boiada. Isso tem nome: tentativa de intimidação”.

A nota afirma que “a atitude de Salles ameaça a liberdade de atuação de toda a sociedade, que quer e deve ter voz ativa”.

“A democracia é condição indispensável para que possamos defender o meio ambiente e toda forma de vida. Mas, ao que parece, para o ministro de Meio Ambiente Ricardo Salles a democracia é um empecilho e aqueles que são críticos à sua atuação são vistos como inimigos”, continua o documento.

“Enquanto Salles busca utilizar o aparato do Estado para esconder sua política antiambiental, a floresta queima, a transparência diminui, o espaço democrático se encurta e a imagem do Brasil se desintegra internacionalmente. Sua atuação só demonstra que, como ministro, não está disposto a tomar qualquer tipo de ação efetiva para a proteção da Amazônia e dos demais biomas, e que não está à altura do cargo que ocupa”.

Entre as entidades que assinam a nota estão a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), o grupo Cientistas Engajados, e o Greenpeace Brasil.