O ministro do Exterior da Rússia, Sergei Lavrov, reiterou no domingo que não há mais desculpas para Washington adiar a renovação do Tratado New Start de limitação das armas nucleares estratégicas-foto Defesa Aérea & Naval, reprodução

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, reafirmou que seu país está pronto para renovar imediatamente o Tratado New Start (Novo Começo), o único tratado de limitação de armas nucleares que restou da arquitetura de acordos que preveniam uma guerra nuclear, e instou Washington a reagir de “maneira construtiva”.

Partira do presidente russo Vladimir Putin a iniciativa de declarar que Moscou está pronta “imediatamente e sem pré-condições” para a prorrogação do tratado. “Estamos comprometidos em renovar o tratado em um contexto bilateral”, enfatizou Lavrov.

Assinado em 2010 com duração de dez anos e mecanismo para prorrogação por mais cinco, o Tratado New Start, limitou nos dois lados o total de ogivas nucleares a 1550 – uma redução de 74% em relação ao patamar prévio – e os meios de disparo (“vetores”) a 800 a bordo de submarinos e bombardeiros e a 700 os posicionados em terra, diminuindo o risco de uma hecatombe nuclear.

Desde o início do novo milênio, a parte norte-americana vem se dedicando a desmontar a arquitetura de segurança internacional, com W. Bush abandonando unilateralmente em 2002 o Tratado ABM (que limitava os sistemas antimísseis estratégicos). Agora, o governo Trump liquidou o Tratado INF, que banira do teatro europeu mísseis nucleares de alcance intermediário (até 5.500 km) e passou a instalar em seus submarinos bombas nucleares “mais usáveis”.

Washington vinha alegando, para não prorrogar imediatamente o tratado, que o que estava impedindo seriam “algumas perguntas” da Rússia sobre violações de parte dos norte-americanos.  “Agora essa ambiguidade está removida e nossos parceiros norte-americanos não têm mais desculpas”, enfatizou Lavrov.

Na maratona de imprensa de fim de ano, o presidente russo alertou que será inevitável uma nova corrida armamentista global se não houver a prorrogação do New Start, que expira no início de 2021.

Respondendo a um jornalista, Putin disse que a Rússia está pronta “para simplesmente renovar o Tratado existente”, o quanto antes, melhor.  “Eles podem nos enviar o [Tratado] amanhã, ou podemos assinar e enviar para Washington. Deixe o funcionário designado assinar também, inclusive o presidente, se estiver pronto para fazê-lo”, assinalou o presidente russo.

“Até agora nossas propostas foram deixadas sem resposta” pelos EUA, acrescentou Putin. “Se o New Start deixar de existir, nada no mundo impedirá uma corrida armamentista. Eu acredito que isso é ruim”, alertou.

Em entrevista a um canal de televisão russo, Lavrov confirmou que a Rússia está pronta, também, para incluir os novos mísseis Avanguard (hipersônico) e Samart (intercontinental pesado que substitui o temido ‘Satã’, na terminologia da Otan) no Tratado, assim que prorrogado. Com 200 toneladas, o Samart é considerado capaz de driblar qualquer sistema antimíssil existente.

Como manifestação de boa vontade, o Avanguard já foi demonstrado ao vivo para o lado norte-americano e, como observou Lavrov, o mesmo poderá ser feito com o Samart.

Quanto à proposta de Putin de uma moratória na instalação de mísseis de alcance intermediário, Lavrov revelou que Trump enviou uma curta carta ao presidente russo em que afirma estar pronto para “continuar procurando maneiras” de superar os problemas das relações EUA-Rússia.

Enquanto isso, o Congresso norte-americano aprovou o maior orçamento para o Pentágono de todos os tempos, US$ 738 bilhões – e até deu US$ 22 bilhões a mais do que fora pedido por Trump, que já assinou o tsunami de dólares para a guerra e o parasitismo.

“Um recorde absoluto, a maior quantidade de gastos em defesa na história do nosso país”, vangloriou-se Trump. Menos de 10% dos legisladores norte-americanos votaram contra tamanha derrama de dinheiro público.

Ken Kimmell, o presidente da União dos Cientistas Engajados, entidade que congrega 500 mil acadêmicos norte-americanos e apoiadores, advertiu que o “cheque em branco” descomunal “aproxima o mundo da guerra nuclear e cria uma nova e desnecessária burocracia militar para lidar com as supostas ameaças no espaço” [a “Força Espacial” de Trump].

Ele também denunciou que a lei “acelera a crescente corrida armamentista nuclear com a Rússia. Financia totalmente quase todos os elementos do plano de trilhões de dólares do governo Trump para substituir todo o arsenal nuclear dos EUA por armas novas e mais mortais de que não precisamos e que não podemos pagar”.

A União dos Cientistas Engajados também pediu que as armas sejam mantidas “fora do espaço” e fez um apelo para que Washington trabalhe com aliados e adversários em potencial nesse sentido. A militarização do espaço tem sido condenada pela China e Rússia.