No dia 7 de fevereiro a maioria das escolas públicas pelo Brasil abriram as portas para receber os estudantes para mais um ano letivo. A “volta às aulas” é um momento especial para crianças e jovens que veem na educação o seu futuro. Mas, em especial, 2022  traz um objetivo importante e que impacta toda a sociedade e o futuro do Brasil: recuperar os estudantes que se evadiram nos últimos anos, por diversas razões.

Por Rozana Barroso*

Sabemos que a evasão escolar é um reflexo da desigualdade, que foi reforçada com a pandemia e com o descaso do Governo Federal. Sem conseguir acompanhar os conteúdos à distância, sem espaço em casa e com a fome à porta, muitos jovens abandonaram seus estudos atrás de seu sustento.

A evasão ainda é pior quando pensamos em nosso povo preto. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) os jovens negros de 14 a 29 anos são maioria nas estatísticas de evasão escolar no ensino básico. Eles somam 71,7% dos alunos que abandonam os estudos. Isso antes da pandemia.

Conforme os dados do Censo Escolar, o Brasil teve 1,4 milhão de crianças e adolescentes que não frequentaram a escola no ano passado. Com esse dado alarmante, como retomaremos o ciclo virtuoso de crescimento de matrículas, emprego e desenvolvimento?

São potências perdidas e nós não podemos deixar isso acontecer.

Existe uma urgência em políticas públicas para o resgate desses jovens. Mas não podemos aguardar de braços cruzados. Na União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), por exemplo, lançamos a campanha “Trono de Estudar” em outubro do ano passado. Por meio de grêmios, mapeamos as escolas e conseguimos conversar com estudantes que evadiram e convencê-los a voltar.

Não é fácil, não basta uma conversa e eu sei. É preciso oferecer condições para o estudante e é necessário uma escola acolhedora. Mas precisamos dar o primeiro passo. Em minhas andanças por vários estados brasileiros, vejo centenas de jovens negros trabalhando em mercados, feiras, vendendo bala… Sempre reservo meu tempo para conversar com eles sobre a escola. Infelizmente, a história é quase sempre parecida, todos precisam ajudar financeiramente em casa e acabam deixando o estudo de lado. Perde o Brasil, perde o futuro.

Por isso, nesta “volta às aulas”, proponho que todos os estudantes se unam para tentar trazer os colegas que abandonaram de volta ao seu “trono”, isto é, sua carteira da escola.

Também é importante que as escolas acolham os estudantes que estiveram fora, criem condições para boa saúde mental desses alunos e dos professores, criando uma grande rede de resistência ao momento que atravessamos e a todo projeto de desmonte que o governo Bolsonaro tenta impor.

Nós, da Ubes, estaremos nas escolas, recebendo informações e denúncias dos estudantes para garantir a segurança sanitária e realizando campanhas para incentivo da vacinação contra a COVID-19 nas crianças e jovens.

Vamos lutar coletivamente e democraticamente para que ninguém roube o nosso futuro. Vamos estender nossas mãos e vamos começar essa operação de resgate já!

 

*Rozana Barroso é ativista da educação, presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e integrante do Comitê Central do PCdoB

 

Artigo originalmente publicado no site Notícia Preta

 

(PL)