Governador durante vôo de helicóptero onde foram realizados disparos de metralhadora a esmo em comunidade na cidade de Angra dos Reis

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) afirmou, na última sexta-feira (14), que por ele dispararia míssil na Cidade de Deus, comunidade na zona oeste da capital fluminense, desde que “com autorização da ONU”.
Witzel fez a declaração em uma solenidade em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. “Na vida não tem atalho. É muito estudo, e muito trabalho. Agora, o vagabundo, aquele que é bandido, quer atalho. Aí, nós, que somos cidadãos, não vamos aceitar isso. A nossa Polícia Militar não quer matar, mas não podemos permitir cenas como aquela que nós vimos na Cidade de Deus. Se fosse com autorização da ONU, em outros lugares do mundo, nós teríamos autorização para mandar um míssil naquele local e explodir aquelas pessoas”, afirmou.
“Nós estamos vivendo um estado de terrorismo, não no Estado do Rio como um todo, mas nas comunidades em que eles (traficantes) se infiltram. Não é a comunidade que faz o sujeito ser terrorista, porque lá na Cidade de Deus, lá na Rocinha, tem gente decente, que trabalha, que estuda”.
Para a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), “a visão belicista e genocida do governador fere a Constituição e só mostra seu desprezo ao povo mais pobre do Rio. Fala vergonhosa e inaceitável como gestor de nosso estado. Repudiamos sua política de segurança equivocada, ineficiente e assassina da população que reside nas comunidades”.
Alessandro Molon (PSB) também criticou a declaração do governador. “É inaceitável que o governador do estado fale em lançar mísseis contra as pessoas governadas por ele e contra regiões do estado que ele governa, como se isso pudesse ser uma solução no campo da segurança pública e como se isso fosse uma coisa constitucionalmente e legalmente possível. Isso mostra um completo despreparo e falta de projeto sério para o problema da segurança pública que tanto afeta o Rio de Janeiro”, destacou o deputado federal.
A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Renata Souza (PSOL), repudiou a declaração. De acordo com a deputada, a afirmação do governador “revela uma mentalidade autoritária e violenta que expressa, no fundo, o seu preconceito e total desprezo com a vida dos pobres que moram nas favelas do Rio de Janeiro”.
Para ela, tratou-se de uma “tentativa de deslegitimar e menosprezar uma importante instituição internacional como a ONU”. Segurança pública se faz com estratégia, prevenção e inteligência, não com mísseis e execuções sumárias, escreveu.
A ONG Redes da Maré disse que a fala de Witzel “é um desrespeito com os mais de 2 milhões de moradores das favelas do Rio. Pessoas que diariamente movimentam a economia e a cultura do Estado, sem, em contrapartida, ter seus direitos garantidos como manda a Constituição brasileira. Seguramente, não é com declarações que incitam mais violência que a grave crie da segurança pública do Estado do Rio de Janeiro será resolvida”.